No Dia Mundial do Meio Ambiente, Francisco pede o fim da "cultura do desperdício"
Cidade do Vaticano (RV) – A Praça S. Pedro ficou lotada mais uma vez para a
Audiência Geral desta quarta-feira.
O Papa dedicou inteiramente sua catequese
à natureza, por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, promovido pelas Nações Unidas,
que este ano lança um apelo contra o desperdício de alimentos.
Quando falamos
de meio ambiente, disse o Papa, o pensamento remete às primeiras páginas da Bíblia,
ao Livro do Gênesis, onde se afirma que Deus colocou o homem e a mulher sobre a terra
para que a cultivassem e a guardassem.
Mas é o que estamos fazendo?, questionou
o Pontífice. “Esta indicação de Deus não foi feita só no início da história, mas a
cada um de nós. É nossa responsabilidade fazer com que o mundo se torne um jardim,
num local habitável por todos. Mas nós, ao invés, somos muitas vezes guiados pela
soberba do domínio, da posse, da manipulação, da exploração. Estamos perdendo a atitude
do estupor, da contemplação, da escuta da criação. Isso acontece porque pensamos e
vivemos de modo horizontal, nos afastamos de Deus.”
Todavia, esta responsabilidade
de “cultivar e guardar” não diz respeito somente à natureza, mas compreende também
as relações humanas. Francisco lembrou que seus predecessores falaram de ecologia
humana intimamente relacionada à ecologia ambiental. A crise que hoje se vive, e que
se reflete no meio ambiente, é sobretudo humana. E alertou: “A pessoa humana está
em perigo!” E o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda:
não é somente uma questão de economia, mas de ética e de antropologia.
“A
Igreja já falou isso várias vezes; e muitos dizem: sim, é verdade.... mas o sistema
continua o mesmo. O que domina são as dinâmicas de uma economia sem ética. Hoje, o
dinheiro comanda. Deste modo, homens e mulheres são sacrificados aos ídolos do lucro
e do consumo: é a “cultura do descartável”. Se um computador quebra, é uma tragédia,
mas a pobreza, as necessidades, os dramas de tantas pessoas acabam por fazer parte
da normalidade…”
Esta “cultura do descartável” tende a se tornar mentalidade
comum, que contagia a todos. A vida humana já não é sentida como o valor primário
a respeitar e tutelar, especialmente se é pobre ou deficiente, se não serve – como
o nascituro –, ou não serve mais – como idoso.
“Esta cultura do descartável
nos tornou insensíveis também aos desperdícios e aos restos de alimentos – o que é
ainda mais deplorável quando muitas pessoas e famílias sofrem fome e desnutrição em
várias partes do mundo. O consumismo nos induziu a nos acostumar com o supérfluo e
ao desperdício cotidiano de comida. Lembremo-nos, porém, que o alimento que jogamos
fora é como se o tivéssemos roubado da mesa do pobre, de quem tem fome!”
Jesus
não quer desperdício, lembrou o Papa. Depois da multiplicação dos pães e dos peixes,
mandou recolher os pedaços que sobraram, para que nada se perdesse. Quando o alimento
é repartido de modo justo, ninguém carece do necessário.
“Convido todos a refletirem
sobre o problema da perda e do desperdício de alimento para identificar vias que sejam
veículo de solidariedade e de compartilha com os mais necessitados. Ecologia humana
e ecologia ambiental caminham juntas. Gostaria então que todos assumissem seriamente
o compromisso de respeitar e proteger a criação, de estar atento a cada pessoa, de
combater a cultura do desperdício e do descartável, para promover uma cultura da solidariedade
e do encontro.”
Depois da catequese, o Papa saudou os grupos presentes na
Praça. Dos peregrinos de língua portuguesa, fez uma saudação especial aos fiéis diocesanos
de Curitiba com o seu Arcebispo, Dom Moacyr Vitti. (BF)