Istambul (RV) – “As revoltas que explodiram na Turquia são “um sinal de alarme”
que o governo turco deve levar em consideração, se deseja tutelar a estabilidade que
nos últimos 10 anos favoreceu o crescimento econômico do país e o reforço de seu papel
internacional”. Foi o que disse à agência Fides, o Bispo Dom Louis Pelatre, Vigário
Apostólico de Istambul. Segundo o prelado de rito latino, “no âmbito da política é
sempre inteligente seguir a perspectiva do compromisso para harmonizar os impulsos
e os interesses representados por diversos setores da sociedade”.
Dom Pelatre
destaca que as comunidades cristãs presentes na Turquia não estão envolvidas de nenhum
modo nos conflitos políticos que brotam por detrás das manifestações e dos conflitos
de rua iniciados em Istambul – com o protesto de bloquear a construção de um Centro
comercial que destruiria um parque no bairro de Taksim –, e que se espalharam por
todo o país.
Segundo o vigário apostólico, as manifestações vêem em primeira
fila os estudantes e gozam do apoio de setores ligados às velhas estruturas “kemalistas”.
Mas por detrás dos protestos “não se vê, até o momento, uma real alternativa política
ao partido no poder, que continua forte e goza do apoio da maioria da população”,
enquanto o exército – no passado decisivo no equilíbrio político do país – mantém
uma posição neutra.
Segundo os manifestantes o governo de Erdogan se aproveita
do consenso conquistado na sociedade turca – baseado na estabilidade e no crescimento
econômico que o país registrou nos últimos 10 anos – para continuar um plano autoritário
de islamização a partir do alto.
Neste sentido – nota Dom Pelatre - “os protestos
poderiam levar o governo a rever as suas estratégias. Erdogan até o momento deu espaço
aos grupos islâmicos, mas no seu próprio partido existem outras forças e outras sensibilidades.
A base de seu consenso é mais ampla do que as forças islâmicas, e ele tem necessidade
do apoio de todos para continuar a governar”.
“O próprio Presidente Abdullah
Gul, - continua o prelado - que pertence ao mesmo partido, exprime frequentemente
posições conciliantes e articuladas. Espera-se que os fatos desses dias alimentem
em todos o espírito de moderação, e não de autoritarismo”.
Em todo caso, Dom
Pelatre não vê, no momento, o perigo que a Turquia seja contaminada pelos conflitos
que surgiram no Oriente Médio após a chamada “Primavera árabe”: “as comparações feitas
entre as revoltas turcas desses dias e os conflitos que dilaceram o Oriente Médio
não me parecem com fundamentos. Os contextos e os episódios são diferentes”, declara
à agência Fides o vigário apostólico de Istambul.
Por sua vez Dom Ruggero Franceschini,
Presidente da Conferência episcopal turca (Cet) convida à “moderação e ao diálogo”.
De Iskenderun, “onde os protestos ainda não explodiram”, o prelado, que também é Arcebispo
de Esmirna, acredita que as manifestações sejam um sinal do “temor do povo para ir
ao encontro de um Estado de caráter religioso”. Como também, acrescenta, há o perigo
“de um excessivo laicismo que prevalece em muitos países ocidentais”. Daqui o apelo
ao diálogo e à moderação para evitar ulteriores violências. (SP)