2013-06-03 11:20:50

1º aniversário de "Mulheres, Igreja, Mundo " Suplemento de L'Osservatore Romano


Oiça aqui... RealAudioMP3

Há um ano atrás nascia o suplemento mensal do jornal do Vaticano “L’Osservatore Romano” dedicado às mulheres. Intitula-se em italiano “Donne Chiese, Mondo” (Mulheres, Igreja, Mundo). Um aniversário que foi assinalado no número do mês de Maio findo com um breve balanço. A ele nos referimos na rubrica “África. Vozes Femininas” desta semana, detendo-nos também sobre o amplo artigo da primeira página, inteiramente dedicada à irmã Mary Ann Walsh, porta-voz da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, que se detém sobre questões ligadas
à Igreja e a comunicação social…

Texto transmissão:

“Mulheres, Igreja, Mundo” completou no mês de Maio um ano de vida. Nasceu em Maio de 2012. O objectivo – explicava na altura a responsável - é dar a palavra às mulheres….

“É sobretudo dar a palavra às mulheres. Dois terços da Igreja são religiosas. Muitas vezes nos esquecemos disto. Além disso, há muitas mulheres leigas que colaboram com a Igreja em diversos sectores e todas essas mulheres são, na maior parte das vezes, desconhecidas não só pelas pessoas externas, que vêem a Igreja como uma realidade masculina, como um mundo de padres, mas também pela própria Igreja. Este é, a meu ver, o aspecto mais grave. O nosso jornal quer, então, dar voz a estas mulheres, quer dar a conhecer o seu trabalho, explicar, ouvir o que têm a dizer sobre a Igreja, porque estas mulheres têm muito a dizer, propostas a fazer, têm pontos de vista interessantes sobre a vida da Igreja. Eu acho que as mulheres na Igreja são como que um tesouro escondido que nós devemos ajudar a emergir e a utilizar.”

A historiadora e jornalista italiana, Lucetta Scaraffia, há um ano atrás, acerca de “Mulheres, Igreja, Mundo”. Um ano de vida, uma etapa importante – escreve agora no número 12 do suplemento, acrescentando que ao longo destes 12 meses ela e a sua equipa ouviram as vozes das mulheres que constituem um apoio fundamental e imprescindível para a vida da Igreja. O suplemento procurou dar conta do trabalho e do contributo intelectual dessas mulheres, muitas vezes ignorados. Fizeram isso dialogando com vozes femininas doutras confissões religiosas; procurando na história de Santas aquilo que as pode tornar protagonistas na vida das mulheres de hoje; fazendo investigações sobre realidades assentes no empenho de tantas mulheres que permanecem, todavia, muitas vezes na sombra. Um trabalho fascinante, mas não fácil – faz saber a equipa que diz ter trabalhado com modéstia, rigor e abertura, atenta ao que de novo vai emergindo na Igreja, e respeitosa, ao mesmo tempo, da sua importante tradição.

Declarando-se consciente do trabalho que tem pela frente, a equipa de “Mulheres, Igreja, Mundo” diz-se satisfeita por ter iniciado este trabalho. E nisto sentiu-se confortada pelas palavras do Papa Francisco que relançou o papel “primário, fundamental” das mulheres na Igreja dos primeiros tempos e de hoje. Sente-se também confortada pela recordação de quanto afirmara João Paulo II a propósito do génio feminino e pelo elogio tecido por Bento XVI em relação a Ildegarda de Bingen, Doutora da Igreja, Dorothy Day e Etty Hillesum.

Sublinhando ainda que o suplemento teve ao longo deste ano resultados importantes e algumas críticas, que tive em conta, a equipa frisa mais uma vez que este é só o início dum trabalho que espera seja fecundo e útil não só para mulheres e homens de Igreja, mas também para todos aqueles que nestes anos difíceis olham para a Igreja com esperança.

***
Para ilustrar a forma como este esforço da equipa do suplemento “Mulheres, Igreja, Mundo” ganha corpo em concreto, vamos percorrer alguns traços do artigo publicado na primeira página do primeiro aniversário: a figura da irmã Mary Ann Walsh, porta-voz da Conferência Episcopal dos Estados Unidos.

Interpelada pela jornalista Giulia Galeotti, esta religiosa da Congregação das Irmãs da Caridade, diz que quando começou a trabalhar no mundo da Comunicação em 1983, as mulheres neste âmbito eram muito poucas. Fez a sua iniciação no Catholick News Service (agência católica de informação dos Estados Unidos); dez anos depois seria escolhida para coordenar o Departamento das Relações com os Media por ocasião da JMJ de Denver. Quando a convidaram para isso disseram-lhe: “gostas do Papa, gostas de jovens, gostas dos media és, portanto, perfeita para este trabalho”. Assim iniciou a trabalhar no Departamento das Relações com os Media da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, acabando por se tornar Directora do mesmo Departamento. É um trabalho divertido – diz ela, acrescentando: gosto de trabalhar com os media, adoro o confronto de ideias, o mundo do jornalismo quando exprime a procura da verdade.

Mary Ann Walsh diz ainda que é desde criança que gostava de jornalismo. A sua heroína era Helen Thomas, uma famosa repórter americana. Sempre gostou de escrever e foi muito activa no jornal de parede da sua escola. Desse tempo lembra-se que uma das professoras, a irmã Mary Carmel Gaynor, insistia em dois aspectos:
Clareza e procura da perfeição. Algo que ela hoje considera precioso não só para quem trabalha no mundo da comunicação social, mas para a vida em geral.

Quando entrou para a Congregação das Irmãs da Caridade (Sister of Mercy como são chamadas nos Estados Unidos) Congregação que se ocupa de saúde, pobreza e educação, pensava que a fase jornalística da sua vida tinha chegado ao fim, mas não! De resto se pensarmos bem, trabalhando nos media e com os media se faz um apostolado educativo! – exclama.

Instada a falar da presença da Conferência Episcopal dos Estados Unidos nas chamadas redes sociais de comunicação – twitter, facebook, blog – a irmã Mary Ann Valsh diz que é uma forma preciosa para entrar em relação com as pessoas e por isso constitui uma prioridade absoluta para os bispos dos Estados Unidos que, há alguns anos atrás empregou uma pessoa só para se ocupar disso. E ela diz-se estupefacta pela interacção que esses meios permitem criar com as pessoas. Uma pessoa escreve e é imediatamente aprovada ou desaprovada…

Num país de 78 milhões de católicos como os Estados Unidos, a irmã Mary considera que é preciso fazer algo mais do que pregar na Igreja para chegar a eles. É preciso usar todos os instrumentos possíveis. De resto já está claro para os bispos do país que não podem queixar-se dos media se não fizerem a sua parte para contar as coisas. Ter uma atitude aberta em relação aos media é fundamental. E as redes sociais de comunicação torna o desafio ainda maior. Constituem uma forma de comunicação que está a mudar a Igreja, afirma, pois que são meios interactivos, enquanto que, tradicionalmente, na Igreja tendia-se a fazer comunicados unilaterais.

Além disso, há que ser imediatos, ir directamente ao assunto, repetir os conceitos, mas não fazer longos raciocínios em estilo académico, como às vezes fazem alguns eclesiásticos – refere a irmã - recordando que o ano passado a Conferência Episcopal dos Estados Unidos realizou um trabalho de grupo sobre a forma como os bispos utilizam as novas tecnologias de comunicação. Tudo porque, de forma geral a Igreja tem uma certa dificuldade em fazer chegar a sua mensagem ao mundo de hoje.

No que toca à atitude dos media em relação à Igreja nos Estados Unidos, a irmã Mary Ann Walsh diz-se convicta de que aqueles que criticam a Igreja católica o fazem porque somos “grandes”. Nos últimos anos – continua – as coisas não foram fáceis devido aos escândalos sexuais, mas considera que a Igreja reagiu correctamente. Resta o facto - sublinha - que se tratou dum crime realmente horrível, duma questão atroz. A dor está ainda viva, terrivelmente viva no coração das vítimas e de todos nós – remata.

A autora do artigo sobre a irmã Mary Ann Walsh intitulado “Com pacata determinação”, faz-lhe notar que embora dois terços dos religiosos no mundo sejam mulheres, mas que a voz dessas religiosas é pouco ouvida, a irmã responde que “é um problema essencialmente da sociedade o facto de a voz das mulheres não ser ouvida como deveria se”. Basta olhar para o Estados Unidos: tirando a questão do sacerdócio, se confrontarmos a posição que as mulheres já atingiram na Igreja e na sociedade, vence a Igreja - diz dando alguns exemplos de altos postos ocupados pela mulher na Igreja nos Estados Unidos. E não esqueçamos – são ainda palavras suas – que elas trazem sempre uma perspectiva diferente, enriquecem…

Era pois alguns extractos do artigo “Com pacata determinação” sobre a irmã Mary Ann Walsh, dos Estados Unidos, artigo que ocupa a quase totalidade da primeira página do número 12 do suplemento mensal sobre as Mulheres, do jornal do Vaticano, l’Osservatore Romano”. A irmã Mary, recordamos, é Director do Departamento das Relações com os Media, da Conferência Episcopal dos Estados Unidos. Já trabalhou no jornal da Diocese de Albany e para a agencia de noticias “Catholic News Service” como correspondente de Roma e como directora dos media em Washington. Autora de vários volumes, já recebeu numerosos prémios jornalísticos, escrevendo entre outros para o jornal Washington Post, USA today, América Magazine, US Catholic e Catoholic Digest.

Ainda neste número do primeiro aniversário do suplemento “Mulheres, Igreja, Mundo” podem encontrar um interessante artigo sobre Mary Ward, uma religiosa britânica do século XVII declarada bem-aventurada pelo Papa Bento XVI e que lutou muito pela emancipação das mulheres; uma investigação sobre as obras de Santa Francisca Cabrini na Argentina do século XIX a favor dos imigrados italianos naquele país e que fundou uma casa, mesmo no bairro onde viria a nascer anos mais tarde Jorge Bergoglio, o agora Papa Franscico. O suplemento oferece ainda um retrato de Santa Rita, descrita pela historiadora Lucetta Scaraffia…
Para ler o suplemento em português podem consultar o site .

E nós ficamos por aqui com esta rubrica. Até para semana se Deus quiser.








All the contents on this site are copyrighted ©.