1º aniversário de "Mulheres, Igreja, Mundo " Suplemento de L'Osservatore Romano
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Há um ano
atrás nascia o suplemento mensal do jornal do Vaticano “L’Osservatore Romano” dedicado
às mulheres. Intitula-se em italiano “Donne Chiese, Mondo” (Mulheres, Igreja, Mundo).
Um aniversário que foi assinalado no número do mês de Maio findo com um breve balanço.
A ele nos referimos na rubrica “África. Vozes Femininas” desta semana, detendo-nos
também sobre o amplo artigo da primeira página, inteiramente dedicada à irmã Mary
Ann Walsh, porta-voz da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, que se detém sobre
questões ligadas à Igreja e a comunicação social…
Texto transmissão:
“Mulheres,
Igreja, Mundo” completou no mês de Maio um ano de vida. Nasceu em Maio de 2012. O
objectivo – explicava na altura a responsável - é dar a palavra às mulheres….
“É
sobretudo dar a palavra às mulheres. Dois terços da Igreja são religiosas. Muitas
vezes nos esquecemos disto. Além disso, há muitas mulheres leigas que colaboram com
a Igreja em diversos sectores e todas essas mulheres são, na maior parte das vezes,
desconhecidas não só pelas pessoas externas, que vêem a Igreja como uma realidade
masculina, como um mundo de padres, mas também pela própria Igreja. Este é, a meu
ver, o aspecto mais grave. O nosso jornal quer, então, dar voz a estas mulheres, quer
dar a conhecer o seu trabalho, explicar, ouvir o que têm a dizer sobre a Igreja, porque
estas mulheres têm muito a dizer, propostas a fazer, têm pontos de vista interessantes
sobre a vida da Igreja. Eu acho que as mulheres na Igreja são como que um tesouro
escondido que nós devemos ajudar a emergir e a utilizar.”
A historiadora e
jornalista italiana, Lucetta Scaraffia, há um ano atrás, acerca de “Mulheres, Igreja,
Mundo”. Um ano de vida, uma etapa importante – escreve agora no número 12 do suplemento,
acrescentando que ao longo destes 12 meses ela e a sua equipa ouviram as vozes das
mulheres que constituem um apoio fundamental e imprescindível para a vida da Igreja.
O suplemento procurou dar conta do trabalho e do contributo intelectual dessas mulheres,
muitas vezes ignorados. Fizeram isso dialogando com vozes femininas doutras confissões
religiosas; procurando na história de Santas aquilo que as pode tornar protagonistas
na vida das mulheres de hoje; fazendo investigações sobre realidades assentes no empenho
de tantas mulheres que permanecem, todavia, muitas vezes na sombra. Um trabalho fascinante,
mas não fácil – faz saber a equipa que diz ter trabalhado com modéstia, rigor e abertura,
atenta ao que de novo vai emergindo na Igreja, e respeitosa, ao mesmo tempo, da sua
importante tradição.
Declarando-se consciente do trabalho que tem pela frente,
a equipa de “Mulheres, Igreja, Mundo” diz-se satisfeita por ter iniciado este trabalho.
E nisto sentiu-se confortada pelas palavras do Papa Francisco que relançou o papel
“primário, fundamental” das mulheres na Igreja dos primeiros tempos e de hoje. Sente-se
também confortada pela recordação de quanto afirmara João Paulo II a propósito do
génio feminino e pelo elogio tecido por Bento XVI em relação a Ildegarda de Bingen,
Doutora da Igreja, Dorothy Day e Etty Hillesum.
Sublinhando ainda que o suplemento
teve ao longo deste ano resultados importantes e algumas críticas, que tive em conta,
a equipa frisa mais uma vez que este é só o início dum trabalho que espera seja fecundo
e útil não só para mulheres e homens de Igreja, mas também para todos aqueles que
nestes anos difíceis olham para a Igreja com esperança.
*** Para ilustrar
a forma como este esforço da equipa do suplemento “Mulheres, Igreja, Mundo” ganha
corpo em concreto, vamos percorrer alguns traços do artigo publicado na primeira página
do primeiro aniversário: a figura da irmã Mary Ann Walsh, porta-voz da Conferência
Episcopal dos Estados Unidos.
Interpelada pela jornalista Giulia Galeotti,
esta religiosa da Congregação das Irmãs da Caridade, diz que quando começou a trabalhar
no mundo da Comunicação em 1983, as mulheres neste âmbito eram muito poucas. Fez a
sua iniciação no Catholick News Service (agência católica de informação dos Estados
Unidos); dez anos depois seria escolhida para coordenar o Departamento das Relações
com os Media por ocasião da JMJ de Denver. Quando a convidaram para isso disseram-lhe:
“gostas do Papa, gostas de jovens, gostas dos media és, portanto, perfeita para este
trabalho”. Assim iniciou a trabalhar no Departamento das Relações com os Media da
Conferência Episcopal dos Estados Unidos, acabando por se tornar Directora do mesmo
Departamento. É um trabalho divertido – diz ela, acrescentando: gosto de trabalhar
com os media, adoro o confronto de ideias, o mundo do jornalismo quando exprime a
procura da verdade.
Mary Ann Walsh diz ainda que é desde criança que gostava
de jornalismo. A sua heroína era Helen Thomas, uma famosa repórter americana. Sempre
gostou de escrever e foi muito activa no jornal de parede da sua escola. Desse tempo
lembra-se que uma das professoras, a irmã Mary Carmel Gaynor, insistia em dois aspectos:
Clareza e procura da perfeição. Algo que ela hoje considera precioso não só para
quem trabalha no mundo da comunicação social, mas para a vida em geral.
Quando
entrou para a Congregação das Irmãs da Caridade (Sister of Mercy como são chamadas
nos Estados Unidos) Congregação que se ocupa de saúde, pobreza e educação, pensava
que a fase jornalística da sua vida tinha chegado ao fim, mas não! De resto se pensarmos
bem, trabalhando nos media e com os media se faz um apostolado educativo! – exclama.
Instada a falar da presença da Conferência Episcopal dos Estados Unidos nas
chamadas redes sociais de comunicação – twitter, facebook, blog – a irmã Mary Ann
Valsh diz que é uma forma preciosa para entrar em relação com as pessoas e por isso
constitui uma prioridade absoluta para os bispos dos Estados Unidos que, há alguns
anos atrás empregou uma pessoa só para se ocupar disso. E ela diz-se estupefacta
pela interacção que esses meios permitem criar com as pessoas. Uma pessoa escreve
e é imediatamente aprovada ou desaprovada…
Num país de 78 milhões de católicos
como os Estados Unidos, a irmã Mary considera que é preciso fazer algo mais do que
pregar na Igreja para chegar a eles. É preciso usar todos os instrumentos possíveis.
De resto já está claro para os bispos do país que não podem queixar-se dos media se
não fizerem a sua parte para contar as coisas. Ter uma atitude aberta em relação aos
media é fundamental. E as redes sociais de comunicação torna o desafio ainda maior.
Constituem uma forma de comunicação que está a mudar a Igreja, afirma, pois que são
meios interactivos, enquanto que, tradicionalmente, na Igreja tendia-se a fazer comunicados
unilaterais.
Além disso, há que ser imediatos, ir directamente ao assunto,
repetir os conceitos, mas não fazer longos raciocínios em estilo académico, como às
vezes fazem alguns eclesiásticos – refere a irmã - recordando que o ano passado a
Conferência Episcopal dos Estados Unidos realizou um trabalho de grupo sobre a forma
como os bispos utilizam as novas tecnologias de comunicação. Tudo porque, de forma
geral a Igreja tem uma certa dificuldade em fazer chegar a sua mensagem ao mundo de
hoje.
No que toca à atitude dos media em relação à Igreja nos Estados Unidos,
a irmã Mary Ann Walsh diz-se convicta de que aqueles que criticam a Igreja católica
o fazem porque somos “grandes”. Nos últimos anos – continua – as coisas não foram
fáceis devido aos escândalos sexuais, mas considera que a Igreja reagiu correctamente.
Resta o facto - sublinha - que se tratou dum crime realmente horrível, duma questão
atroz. A dor está ainda viva, terrivelmente viva no coração das vítimas e de todos
nós – remata.
A autora do artigo sobre a irmã Mary Ann Walsh intitulado “Com
pacata determinação”, faz-lhe notar que embora dois terços dos religiosos no mundo
sejam mulheres, mas que a voz dessas religiosas é pouco ouvida, a irmã responde que
“é um problema essencialmente da sociedade o facto de a voz das mulheres não ser ouvida
como deveria se”. Basta olhar para o Estados Unidos: tirando a questão do sacerdócio,
se confrontarmos a posição que as mulheres já atingiram na Igreja e na sociedade,
vence a Igreja - diz dando alguns exemplos de altos postos ocupados pela mulher na
Igreja nos Estados Unidos. E não esqueçamos – são ainda palavras suas – que elas trazem
sempre uma perspectiva diferente, enriquecem…
Era pois alguns extractos do
artigo “Com pacata determinação” sobre a irmã Mary Ann Walsh, dos Estados Unidos,
artigo que ocupa a quase totalidade da primeira página do número 12 do suplemento
mensal sobre as Mulheres, do jornal do Vaticano, l’Osservatore Romano”. A irmã Mary,
recordamos, é Director do Departamento das Relações com os Media, da Conferência Episcopal
dos Estados Unidos. Já trabalhou no jornal da Diocese de Albany e para a agencia de
noticias “Catholic News Service” como correspondente de Roma e como directora dos
media em Washington. Autora de vários volumes, já recebeu numerosos prémios jornalísticos,
escrevendo entre outros para o jornal Washington Post, USA today, América Magazine,
US Catholic e Catoholic Digest.
Ainda neste número do primeiro aniversário
do suplemento “Mulheres, Igreja, Mundo” podem encontrar um interessante artigo sobre
Mary Ward, uma religiosa britânica do século XVII declarada bem-aventurada pelo Papa
Bento XVI e que lutou muito pela emancipação das mulheres; uma investigação sobre
as obras de Santa Francisca Cabrini na Argentina do século XIX a favor dos imigrados
italianos naquele país e que fundou uma casa, mesmo no bairro onde viria a nascer
anos mais tarde Jorge Bergoglio, o agora Papa Franscico. O suplemento oferece ainda
um retrato de Santa Rita, descrita pela historiadora Lucetta Scaraffia… Para ler
o suplemento em português podem consultar o site .
E nós ficamos por aqui
com esta rubrica. Até para semana se Deus quiser.