Rio de Janeiro (RV) - Celebramos quinta-feira passada a Solenidade do Santíssimo
Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Já é tradicional em nossa Arquidiocese a procissão
da unidade, saindo da Igreja da Candelária até a Catedral de São Sebastião. Caminhamos
com Cristo, somos chamados à missão e buscamos a unidade. Rezamos de maneira especial
diante do Santíssimo Sacramento pelo êxito da JMJ Rio 2013. Colocamos nas mãos do
Senhor os nossos trabalhos e lutas para que os que estarão participando de perto ou
de longe tenham um verdadeiro encontro com Deus. Neste domingo, dia 2 de junho, estaremos
todos unidos ao Santo Padre na Hora Santa do Ano da Fé, ao meio-dia, em nosso Santuário
Nacional de Adoração Perpétua. Depois da feliz visita ao Papa Francisco partilhando
os sonhos de nossa Jornada Mundial da Juventude que ele virá para presidir a nossa
alegria em poder servir faz com que a oração seja constante por todas essas intenções.
Ainda
mais: na liturgia deste domingo, o exemplo do oficial romano que proclama acreditar
no “poder da Palavra” de Jesus nos faz refletir sobre o Ano da Fé, fazendo ecoar em
nossos ouvidos a constatação de Jesus: “nunca vi tanta fé, nem mesmo entre o povo
de Israel”.
A insistência do Papa Francisco para ir para as “periferias do
mundo” a fim de anunciar a Boa Notícia encontra aqui também uma luz: os que estão
longe também têm sede de Deus!
Como certa intolerância se instalou no coração
e na mente de muitos ao nosso redor que propagam suas ideias, é importante acatar
novamente esta palavra que nos faz ouvir do coração das pessoas que querem se aproximar
de Jesus para ter a vida. É o grande apelo à missionariedade!
Nessa nossa caminhada
da Igreja na história que o “tempo comum” da liturgia nos faz enxergar, agora nos
apresentado nesse 9º domingo, o Evangelho de Lucas 7, 1-10: Jesus cura o empregado
de um oficial romano.
A boa nova de Jesus chega até os ouvidos dos pagãos do
lugar. O oficial romano, o centurião, era chefe de um destacamento militar, mas ele
reconhece a autoridade da palavra de Jesus e intercede por um empregado seu.
A
liturgia hodierna nos ensina a valorizar o diferente. Os discípulos valorizam a atitude
e os serviços prestados deste pagão e intercedem por ele. De um lado aparece a ida
do Mestre até os necessitados, acolhendo o apelo de um pagão que manifesta sua fé
na palavra de Jesus. De outro vemos também o lado da acolhida, que é ir ao encontro,
além de receber.
No atual contexto do nosso tempo, em que as pessoas se tornaram
distantes e desconfiadas e, paradoxalmente, conectadas com a comunicação digital,
Jesus que vai ao encontro de um pagão nos fala de acolhida e missão.
Jesus
missionário em visita. Como ótimo missionário, atendendo aos rogos dos anciãos, Jesus
se encaminha para fazer uma visita ao doente. O centurião romano reconhece, entretanto,
que não é digno desta visita, mas acredita totalmente na palavra salvadora do Mestre.
Sabemos também das restrições religiosas sobre o encontro de um judeu com os pagãos.
Porém, o próprio centurião vem ao Encontro de Jesus e diz: "que se ele disser uma
única palavra o seu servo será salvo".
Aprender com Jesus é o método melhor
e mais eficaz para a ação pastoral e para um acolhimento mais amadurecido e sem falsas
ilusões.
Um primeiro dado desse gesto encontramos no acolhimento de Jesus ao
centurião de Cafarnaum (Lc 7,1-10; Mt 8,5-13). Foi uma bela profissão de fé que suscitou
uma palavra de admiração de Jesus. O centurião suplica por um dos seus servos, e ao
perceber a atenção de Jesus e sua decisão em ir a sua casa, ele faz aquela confissão
que todos conhecemos: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; dize
uma só palavra e meu servo será curado” (Mt, 8,8). Foi uma troca de acolhida, uma
reciprocidade de impressionante beleza. Gestos alternados: de quem acolhe e de quem
foi acolhido e se sente infinitamente satisfeito. Duas atitudes que se completaram.
Além
do aspecto da profissão da fé em Cristo, este episódio do Evangelho pode nos iluminar
nesse momento importante da cidade do Rio de Janeiro, do Brasil, quando acolheremos
milhares de jovens de quase 170 nações. É a importância da hospitalidade que deve
estar em nosso coração e em nossas atitudes.
A nossa complexa Pastoral Urbana
nos questiona: “A cidade pode ser uma fábrica de frustrações e de sofrimentos para
aqueles que ficam à margem do que ela tem para oferecer. Há muita gente perdida, sem
espaço, exposta ao anonimato solitário de um ambiente onde cada um cuida de si. Catadores
de lixo, mendigos, desempregados, prostitutas, meninos e meninas de rua, migrantes
sem teto são alguns dos “sobrantes” que a cidade exibe sem conseguir integrar” (CNBB,
Estudos 75, n. 38). Além de acolhermos os excluídos da história devido às situações
sociais e humanas, somos chamados a ir mais longe: a concretizarmos com estes gestos
a construção de uma sociedade que constrói a civilização do amor.
Devemos
assim acolher a todos, particularmente aos que batem às portas de nossas comunidades,
bem como ir ao encontro dos que estão indiferentes. Há campo de sobra para o Ministro
da Acolhida e para os demais ministérios e pastorais para construir o Reino de Deus.
No
mundo urbano em que vivemos, parece que todas as relações humanas são muito “desumanas”,
estão “contaminadas”, pois estão fortemente marcadas por um sentido “comercial” fundamentado
no “interesse”: te dou isto e tu me dás aquilo.
A fé do centurião impressiona
até Jesus, pois acreditou em Sua Palavra como nenhum outro daquele povo. Assim, a
liturgia deste domingo nos ensina a valorizar as pessoas, é compromisso do missionário.
Acolher a todos, particularmente neste tempo de JMJ-Rio2013, abrir nossas casas para
acolher os peregrinos. A nossa fé deve ser a fé do centurião: "Diz uma palavra e ele
será salvo".
Experimentemos a misericórdia de Deus e acolhamos a todos! Jesus
vem nos salvar e nos pede que sejamos acolhedores com todos!
† Orani João
Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ