2013-06-02 11:36:10

Creio em Sua Palavra


Rio de Janeiro (RV) - Celebramos quinta-feira passada a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo. Já é tradicional em nossa Arquidiocese a procissão da unidade, saindo da Igreja da Candelária até a Catedral de São Sebastião. Caminhamos com Cristo, somos chamados à missão e buscamos a unidade. Rezamos de maneira especial diante do Santíssimo Sacramento pelo êxito da JMJ Rio 2013. Colocamos nas mãos do Senhor os nossos trabalhos e lutas para que os que estarão participando de perto ou de longe tenham um verdadeiro encontro com Deus. Neste domingo, dia 2 de junho, estaremos todos unidos ao Santo Padre na Hora Santa do Ano da Fé, ao meio-dia, em nosso Santuário Nacional de Adoração Perpétua. Depois da feliz visita ao Papa Francisco partilhando os sonhos de nossa Jornada Mundial da Juventude que ele virá para presidir a nossa alegria em poder servir faz com que a oração seja constante por todas essas intenções.

Ainda mais: na liturgia deste domingo, o exemplo do oficial romano que proclama acreditar no “poder da Palavra” de Jesus nos faz refletir sobre o Ano da Fé, fazendo ecoar em nossos ouvidos a constatação de Jesus: “nunca vi tanta fé, nem mesmo entre o povo de Israel”.

A insistência do Papa Francisco para ir para as “periferias do mundo” a fim de anunciar a Boa Notícia encontra aqui também uma luz: os que estão longe também têm sede de Deus!

Como certa intolerância se instalou no coração e na mente de muitos ao nosso redor que propagam suas ideias, é importante acatar novamente esta palavra que nos faz ouvir do coração das pessoas que querem se aproximar de Jesus para ter a vida. É o grande apelo à missionariedade!

Nessa nossa caminhada da Igreja na história que o “tempo comum” da liturgia nos faz enxergar, agora nos apresentado nesse 9º domingo, o Evangelho de Lucas 7, 1-10: Jesus cura o empregado de um oficial romano.

A boa nova de Jesus chega até os ouvidos dos pagãos do lugar. O oficial romano, o centurião, era chefe de um destacamento militar, mas ele reconhece a autoridade da palavra de Jesus e intercede por um empregado seu.

A liturgia hodierna nos ensina a valorizar o diferente. Os discípulos valorizam a atitude e os serviços prestados deste pagão e intercedem por ele. De um lado aparece a ida do Mestre até os necessitados, acolhendo o apelo de um pagão que manifesta sua fé na palavra de Jesus. De outro vemos também o lado da acolhida, que é ir ao encontro, além de receber.

No atual contexto do nosso tempo, em que as pessoas se tornaram distantes e desconfiadas e, paradoxalmente, conectadas com a comunicação digital, Jesus que vai ao encontro de um pagão nos fala de acolhida e missão.

Jesus missionário em visita. Como ótimo missionário, atendendo aos rogos dos anciãos, Jesus se encaminha para fazer uma visita ao doente. O centurião romano reconhece, entretanto, que não é digno desta visita, mas acredita totalmente na palavra salvadora do Mestre. Sabemos também das restrições religiosas sobre o encontro de um judeu com os pagãos. Porém, o próprio centurião vem ao Encontro de Jesus e diz: "que se ele disser uma única palavra o seu servo será salvo".

Aprender com Jesus é o método melhor e mais eficaz para a ação pastoral e para um acolhimento mais amadurecido e sem falsas ilusões.

Um primeiro dado desse gesto encontramos no acolhimento de Jesus ao centurião de Cafarnaum (Lc 7,1-10; Mt 8,5-13). Foi uma bela profissão de fé que suscitou uma palavra de admiração de Jesus. O centurião suplica por um dos seus servos, e ao perceber a atenção de Jesus e sua decisão em ir a sua casa, ele faz aquela confissão que todos conhecemos: “Senhor, eu não sou digno de que entres em minha casa; dize uma só palavra e meu servo será curado” (Mt, 8,8). Foi uma troca de acolhida, uma reciprocidade de impressionante beleza. Gestos alternados: de quem acolhe e de quem foi acolhido e se sente infinitamente satisfeito. Duas atitudes que se completaram.

Além do aspecto da profissão da fé em Cristo, este episódio do Evangelho pode nos iluminar nesse momento importante da cidade do Rio de Janeiro, do Brasil, quando acolheremos milhares de jovens de quase 170 nações. É a importância da hospitalidade que deve estar em nosso coração e em nossas atitudes.

A nossa complexa Pastoral Urbana nos questiona: “A cidade pode ser uma fábrica de frustrações e de sofrimentos para aqueles que ficam à margem do que ela tem para oferecer. Há muita gente perdida, sem espaço, exposta ao anonimato solitário de um ambiente onde cada um cuida de si. Catadores de lixo, mendigos, desempregados, prostitutas, meninos e meninas de rua, migrantes sem teto são alguns dos “sobrantes” que a cidade exibe sem conseguir integrar” (CNBB, Estudos 75, n. 38). Além de acolhermos os excluídos da história devido às situações sociais e humanas, somos chamados a ir mais longe: a concretizarmos com estes gestos a construção de uma sociedade que constrói a civilização do amor.

Devemos assim acolher a todos, particularmente aos que batem às portas de nossas comunidades, bem como ir ao encontro dos que estão indiferentes. Há campo de sobra para o Ministro da Acolhida e para os demais ministérios e pastorais para construir o Reino de Deus.

No mundo urbano em que vivemos, parece que todas as relações humanas são muito “desumanas”, estão “contaminadas”, pois estão fortemente marcadas por um sentido “comercial” fundamentado no “interesse”: te dou isto e tu me dás aquilo.

A fé do centurião impressiona até Jesus, pois acreditou em Sua Palavra como nenhum outro daquele povo. Assim, a liturgia deste domingo nos ensina a valorizar as pessoas, é compromisso do missionário. Acolher a todos, particularmente neste tempo de JMJ-Rio2013, abrir nossas casas para acolher os peregrinos. A nossa fé deve ser a fé do centurião: "Diz uma palavra e ele será salvo".

Experimentemos a misericórdia de Deus e acolhamos a todos! Jesus vem nos salvar e nos pede que sejamos acolhedores com todos!

† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ








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