Cidade do Vaticano – A economia
mundial, principalmente a europeia, está atravessando uma dura recessão provocando
um freio nas chamadas “economias de 1º mundo”, nas economias de países desenvolvidos
e, ao mesmo tempo, provocando a desaceleração das economias dos chamados países emergentes,
como é o caso do Brasil.
Especialistas da economia mundial afirmam que a recuperação
já está se verificando mas muito lentamente. A produção de países importantes como
Estados Unidos, Japão e Alemanha, ainda registram contrações. Aqui na Itália sentimos
de perto a recessão econômica, traduzida na falta de emprego para os jovens, no fechamento
de muitas empresas e no alto custo fiscal que a população deve suportar. O que fazer
diante de um quadro econômico mundial ainda sombrio, onde as pequenas luzes, aqui
e ali, são muito tênues para produzir o entusiasmo necessário para dar a volta por
cima?
Uma receita para enfrentar momentos como esse foi apontada pelo Papa
Francisco nos dias passados quando fez um discurso a 500 membros da Fundação ‘Centesimus
Annus Pro Pontifice’. A receita não tem nada de novidade, mas para muitos, paradoxalmente,
tem sabor de novo. Devemos reinventar a solidariedade. No atual momento de crise as
dificuldades econômicas mostram que “algo não funciona”. O Papa que “veio do fim do
mundo” pede ao mundo para repensar a solidariedade não como simples assistência aos
mais pobres, mas sim como uma reconsideração global de todo o sistema, como “busca
de caminhos para reformar e corrigir de forma coerente” os desvios levando em consideração
os direitos fundamentais do homem.
Sentimos que algo vai errado na economia
de um país quando um pai de família retorna para casa sem emprego, pois a empresa
fechou; quando os jovens que saem das universidades perambulam pelas ruas batendo
de porta em porta procurando quem sabe o primeiro emprego depois de anos de formação,
e nada; quando o salário não dá para chegar ao fim do mês e as despesas só aumentam,
quando os organismos de assistência social ficam cheios. Assim começamos a nos sentir
ainda mais pobres, sem perspectivas, uma “pobreza material” que se traduz na impossibilidade
de ganhar o pão cotidiano, de matar a fome dos seus filhos, de não ter a dignidade
de um trabalho. O que antes era uma exclusividade do “sul do mundo” dos países pobres,
hoje é uma realidade que bate à porta dos “países do norte”, dos países que conheceram
o desenvolvimento e a riqueza.
A receita, a velha receita recordada pelo Papa
Francisco da solidariedade, nos faz pensar o que significa então solidariedade. A
solidariedade não é uma “esmola social” como referiu o Papa, mas sim um “valor social”.
Se formos ao dicionário, solidariedade, entre outras coisas significa “compromisso
pelo qual as pessoas se obrigam umas às outras e cada uma delas a todas”. Na Sociologia
existe o conceito de solidariedade social, que subentende a ideia de que seus praticantes
sintam-se integrantes de uma mesma comunidade. Para o mundo em que vivemos essa palavra
foi deixada de lado e usada somente como obrigação de dar alguma coisa, uma esmola,
sem recordar que também é um compromisso e um valor. Ser solidário pode parecer somente
uma obrigação e não valor de ajudar e repartir, devolver aquilo que talvez você tenha
em excesso àquele que nada tem. Há muito tempo ideologias centralizadoras apresentam
à nossa sociedade somente o lucro como ideal em detrimento à necessidade de milhões
de pessoas; o lucro acima de tudo, sem ética, sem valor, simplesmente lucro.
Papa
Francisco chama mais uma vez a atenção de que o ser humano deve estar acima dos negócios,
da lógica e dos parâmetros dos mercados, para que cada pessoa tenha a possibilidade
de viver dignamente e de participar ativamente no bem comum. O próprio homem é a resposta
a tudo, devemos voltar à centralidade do homem, a termos uma visão ética das atividades
e das relações humanas, sem medo da solidariedade, sem medo de dar, sem medo de perder
alguma coisa. Uma antiga receita, mais atual do que nunca. (Silvonei José)