Palavras do Papa sobre a máfia sacodem as consciências: não basta arrepender-se, é
preciso converter-se, comenta Pe. Ciotti
Cidade do Vaticano (RV) - Um grito para dizer a quem se encontra no círculo
da máfia "que não basta arrepender-se, mas é preciso converter-se". Desse modo, o
presidente da "Associação Libera", contra todas as máfias, Pe. Luigi Ciotti, interpreta
a oração do Papa Francisco feita no Angelus de domingo passado pela conversão
dos mafiosos, no dia seguinte ao da Beatificação do sacerdote italiano Giuseppe Puglisi
(Pe. Pino), assassinado pela máfia em 1993. Eis as considerações de Pe. Ciotti:
Pe.
Luigi Ciotti:- "É um grito para ressaltar verdadeiramente que todos devemos ser
capazes de ligar a terra com o céu. É um grito para dizer aos criminosos mafiosos
que não basta arrepender-se, mas é preciso converter-se. Torna-se fundamental e importante
uma mudança também interior, sobretudo na esteira do que João Paulo II, 20 anos atrás,
no Vale dos Templos, gritara – "Convertei-vos", – bem como das palavras que Bento
XVI disse em Palermo, em sua visita anos atrás – "Máfia, história de morte" –, justamente
para sacudir as consciências, para convidar as comunidades cristãs a serem capazes
do testemunho cristão, da responsabilidade civil. É interessante que tenha relacionado
o problema da prostituição, do tráfico de pessoas, das formas de escravidão, às formas
de exploração, de violência, de jogos criminosos. Foi interessante porque evidenciou
que o problema não é só a máfia, mas a "mafiosidade" (o ser mafioso, ndr).
RV:
O que significa falar de explorações, de escravidão? Existem máfias por trás de tudo
isso – disse o Papa...
Pe. Luigi Ciotti:- "É verdade, porque por
trás de todas essas palavras existem histórias, rostos, fadigas e esperanças das pessoas.
É o grito da liberdade, porque a vida nos dá um compromisso: é preciso empenhar a
nossa liberdade para libertar quem não é livre, quem se tornou escravo, quem é pobre,
quem se encontra à margem, as vítimas da violência criminosa. E aí se poderia acrescentar
a ecomáfia, a usura, as formas de extorsão, as dependências da droga e várias formas
de exploração. Não são pessoas livres e o Papa chamou pelo nome algumas dessas dimensões
que pedem dignidade e liberdade."
RV: Certamente, Pe. Puglisi não era um
daqueles "cristãos de salão" – usando uma expressão do Papa Francisco –, para os quais
está tudo bem...
Pe. Luigi Ciotti:- "É maravilhoso. São palavras
muito claras. Creio que na Igreja, sem se esquecer as bonitas realidade que existem
– e são tantas que por vezes não aparecem, que não têm visibilidade –, é preciso caminhar
mais, para além daquele processo de purificação de todas as formas de poder político,
econômico e social. Uma Igreja mais pobre diante do poder e mais corajosa. A Igreja
deve interferir onde é espezinhada a liberdade, a dignidade das pessoas. Onde é humilhado
e sufocado um processo de justiça, a Igreja tem o dever de falar. O Papa convida-nos
a fazer isso." (RL)