Rio de Janeiro (RV) - O Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do
Rio de Janeiro, Dom Antônio Augusto Dias Duarte, que é também vice-Presidente da Jornada
Mundial da Juventude, escreveu na última edição do O SÃO PAULO sobre a JMJ e os jovens
da atualidade que vão participar dela. Com o título de Jovens, Amigos, Missionários,
‘parem o mundo que eu quero descer!’, Dom Antônio falou sobre o determinismo dos jovens
nos tempos atuais e como se diferem dos demais de décadas passadas, sobretudo os que
protagonizaram o mundialmente conhecido movimento hippie. Confira abaixo o texto.
Jovens, Amigos, Missionários, ‘parem o mundo que eu quero descer!’ Esta frase
que parece partir do fundo do coração de alguém desesperado foi escrita num muro de
uma metrópole europeia no final dos anos 1960. Ela registrava a rebeldia de toda uma
geração inconformada com os rumos da civilização autodenominada moderna. Os jovens
daquelas décadas – 1950, 1960 e 1970 – sabiam muito bem o que não queriam mais viver.
Eles foram filhos das décadas anteriores, onde as guerras tinham destruído cidades
e famílias, tinham ceifado milhões de vidas humanas. Eles queriam parar esse mundo
louco e que lhes oferecia, depois de tanta violência, somente uma civilização de avanços
científicos e tecnológicos e não de progresso realmente humanitário. Faltavam-lhes
horizontes de vida, amplos e valiosos, que lhes daria segurança e esperança com relação
ao futuro.
A frase inicialmente citada nesse artigo refletia perfeitamente
o estado vital de ânimo e o sentimento de orfandade da juventude daquelas décadas,
que se contentava com muito pouco, isto é, em ser apenas a juventude transviada, da
paz e do amor, dos cabelos longos e roupas desalinhadas, numa palavra, ser hippies.
Os dois verbos – parar e descer – serviam para justificar as revoluções, muitas
delas vividas com a violência costumeira daqueles anos de inconformismos e insatisfações,
mas não ajudavam a construir uma nova sociedade com outros verbos mais humanitários,
tais como os verbos amar, compartilhar, perdoar e servir. Foram passando outras décadas
– 1980 e 1990 – e o século 21, o 3º milênio da era cristã, chegou e vieram outras
gerações de jovens, que foram entrando no cenário mundial como os novos protagonistas
da história do mundo e da Igreja.
As gerações X, Y e Z – assim batizadas por
causa da familiaridade que têm com as tecnologias avançadas – hoje sabem muito bem
o que querem. Não têm dúvidas sobre o que é essencial nas suas vidas e quais são os
verbos que querem conjugar no tempo presente e no futuro. Sabem que o essencial na
vida é Deus e os seus projetos e os seus valores inegociáveis. Para os jovens do final
do século 20 e inícios dos anos 2000, existem alguns pontos de encontro com o Criador
do mundo e com seu Filho, o Cristo Redentor da humanidade, como são a família, a ética
nos relacionamentos, os valores que solucionam os problemas do mundo – a vida, a fé,
o casamento entre o homem e a mulher, a honestidade, a solidariedade e o voluntariado,
a verdade – e eles não querem abrir mão dessa herança recebida de Deus. Esses jovens
sabem, portanto, muito bem o que querem viver hoje e amanhã. Querem viver a religião,
mas não uma religião superficial, de emoções e de “curas”, nem só de proibições e
deveres periódicos, mas uma religião que é apresentada como “a maior rebelião do homem
que não quer viver como um animal, que não se conforma, que não sossega, sem conhecer
o Criador e privar com Ele” (cf. São Josemaria Escrivá, entrevista em 5-10-1967).
As Jornadas Mundiais da Juventude são um grito dessa rebelião juvenil, que
há 28 anos ecoa no mundo. Não são mais frases escritas a modo de grafite em muros,
mas são vozes que levantam “coxos e paralíticos”, que atravessam barreiras de intelectuais
e políticos “surdos”, que removem com a fé as montanhas de descrenças existentes em
ideologias destruidoras dos valores humanos. Em julho de 2013, a ‘Cidade Maravilhosa’
será invadida por jovens que dirão ao século 21 que eles têm esperança, que eles acreditam
num Deus que os procura e os leva a sério, que eles sabem construir um mundo sem guerras
melhor que seus antepassados e, principalmente, que eles querem ser felizes construindo
a civilização do amor, onde se dá espaço para a ordem, para a paz, para a justiça
e para os autênticos valores humanos e cristãos.
Assim, falando do que os
jovens X, Y e Z querem ouvir, o papa emérito Bento 16 abria para eles o horizonte
mais buscado pela humanidade: “a felicidade é algo que todos nós desejamos, mas uma
das grandes tragédias deste mundo é que muitos não conseguem encontrar, porque a procuram
nos lugares errados. A solução é muito simples: a verdadeira felicidade deve ser procurada
em Deus. Só ele pode satisfazer a necessidade mais profunda do nosso coração!” (Bento
16, Encontro com jovens em Londres, 17-9-2010).
Com o Papa Bento 16, que escolheu
o Rio de Janeiro para ser sede da JMJ, e com o papa Francisco, que viverá esta jornada
em terras latino-americanas, assistiremos emocionados como a forma alegre de ser do
brasileiro estará refletida no rosto da juventude carioca, e que receberá os jovens
de outros estados do nosso imenso país, e todos juntos, do Oiapoque ao Chuí, abrirão
os seus braços e seus naturais sorrisos para acolherem os “jovens rebeldes” procedentes
de 165 países, que já se inscreveram e que não querem nem parar nem descer do mundo,
porque sabem que ele saiu bom e feliz das mãos amorosas de Deus Pai Todo Poderoso
e foi elevado por Jesus Cristo.
No mundo de hoje, ainda conturbado e violento,
as frases politicamente corretas sobram com seus tristes verbos, porém as atitudes
que a juventude assumem geradas pelos verbos amar, servir, alegrar-se, solidarizar-se,
e, principalmente, pelos verbos vir e ser são as que levam à revolução pacífica da
humanidade. Já se está vendo isso na organização da JMJ quando milhares de jovens
vindos ao Rio de Janeiro para serem voluntários já estão sendo os novos missionários
que a Igreja precisa e que o mundo espera. O Hino Oficial da JMJ-2013 parece que coloca
esses dois verbos saindo dos lábios do Cristo Redentor: “Venham meus amigos... sejam
missionários”. Jovens brasileiros venham ao Rio! Partam do Rio com ardor missionário!
(SP - O São Paulo)