2013-05-22 16:47:15

A União Africana a 50 anos da sua fundação


A celebração dos 50 anos da União Africana presta-se bem para um balanço, pois que 50 anos é a idade da razão que permite confrontar o presente com as ambições enunciadas no passado e, portanto, ver o que futuro deverá ser. Há 50 anos, uns quinze chefes de Estado reunidos em Adis-Abeba lançavam as bases duma organização continental destinada a favorecer as independências, garantir a soberania, promover o desenvolvimento e assegurar a integração dos Estados neo-independentes.

A União Africana de hoje, herdeira da OUA (Organização para a Unidade Africana), não renega nenhuma das ambições iniciais. Os seus dirigentes continuam a proclamar a vontade de levar o continente a desabrochar. Mas o balanço que poderia tirar, quer se olhe para ela numa óptica positiva ou negativa, convida forçosamente à prudência. Conduzir o destino dum bilião de pessoas não é tarefa fácil. A irrupção na vida dos homens e mulheres contemporâneos de regras que não são bipolares, mas sim globais, uma afirmação de tecnologias de comunicação que já não deixam ninguém numa situação de actor passivo, criaram uma nova realidade.

Da quinzena de países presentes em Adis-Abeba no dia 25 de Maio de 1963, hoje são 54 os Estados soberanos, membro da UA que comemoração os 50 anos da União a 25 de Maio de 2013. Além disso, segundo estimativas de instituições internacionais, a taxa de crescimento económico da África será este ano superior a 5%. De entre os grandes focos de tensão ainda em curso na Somália, Mali, República Democrática do Congo, são principalmente os países africanos que estão empenhados na sua resolução com o apoio da comunidade internacional. E se por um lado continuam a verificar-se alguns golpes de Estado, por outro a consciência de que já não podem ser consideradas uma forma normal de aceder ao poder está a ganhar terreno e isto está mesmo inscrito na Carta da União Africana. A voz da África passou a contar no cenário internacional.

Há, no entanto, todo o resto, pois que não obstante esses aspectos positivos, a África é ainda o continente mais afectado pela fome, o continente onde a pobreza recua com menos velocidade; onde o crescimento económico se traduz não é tão visível no melhoramento das condições de vida quotidiana das pessoas; onde os valores negativos não são firmemente rejeitados pela sociedade civil, ainda muito frágil; onde as crianças com menos de cinco anos continuam a morrer de doenças perfeitamente curáveis; onde as exportações continuam assentes em recursos extractivos e não sobre a produção industrial propriamente dita e onde uma certa dependência perante os colonizadores de ontem continua a ser uma realidade posta em causa só formalmente.

Este quadro, parcial, deixa entrever os grandes desafios a ser enfrentados por esta África perfeitamente integrada na universalidade actual.

Nestes 50 anos, a Igreja caminhou com esta África em crescimento, manteve-se ao lado do povo em desenvolvimento, indicou a via do bem comum. Não foi sempre ouvida. Antes pelo contrário, a sua atitude foi combatida, por vezes mesmo duramente, ao ponto de o seu empenho no anúncio da Boa Nova ter sido permeado de mártires, de privações e de dolorosas intolerâncias. Mas permaneceu firme no seu empenho e continua a ser uma realidade sobretudo nos dias de hoje em que a luta é antes de mais uma luta contra a pobreza.

Trata-se duma missão profética. “A Igreja católica em África deve iluminar ainda mais as realidades complexas do continente à luz de Cristo, tornando-se cada vez mais sal da terra africana, inserindo o sabor do divino nas realidades de todos os dias” - dizia D. Nicolas Eterovic no seu relatório introdutivo ao II Sínodo dos Bispos para a África, a 5 de Outubro de 2009. Um redobrado trabalho de vigia e de acompanhamento há-de continuar, portanto, sem compromissos nem mitigações nos domínios das competências reconhecidas às instituições públicas…

“A Igreja, Senhoras e Senhores, encontrá-la-eis sempre – por vontade do seu Fundador divino – ao lado dos mais pobres deste continente. Posso assegurar-vos que ela – através de iniciativas diocesanas, de inumeráveis obras educativas, sanitárias e sociais das diversas ordens religiosas, e de programas para o desenvolvimento dirigidos pela Caritas e outras organizações – continuará a fazer todo o possível para apoiar as famílias, nomeadamente as afectadas pelos trágicos efeitos da SIDA, e promover a igual dignidade de homens e mulheres na base de uma harmoniosa complementaridade. O caminho espiritual do cristão é o da conversão diária; a isto mesmo a Igreja convida todos os líderes da humanidade para que esta possa enveredar pelos caminhos da verdade, da integridade, do respeito e da solidariedade” - Palavras do Papa Bento XVI às autoridades políticas e civis angolanas por ocasião da sua viagem ao país em Março de 2009.
Albert Mianzoukouta – Programa Francês/África








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