Papa Francisco, o magistério do testemunho - ouça aqui
O Papa Francisco
continua a suscitar grande entusiasmo pelo seu estilo simples, direto, numa relação
muito “humana” e natural com toda a gente que tem ocasião de contactar. Algumas pessoas,
porém, interrogam-se sobre aquilo que lhes parece ser a ausência, até agora, de um
autêntico magistério papal, como aquele que Bento XVI assegurava com tanta densidade.
Vendo melhor, não faltam nas intervenções públicas do Papa Francisco, por palavras
e por obras, indicações claras e firmes sobre aquilo que o cristão está chamada a
viver, ao nível da fé e do comportamento de cada dia. Queremos hoje aqui evocar
algumas passagens das suas declarações, improvisadas, sábado passado, ao fim da tarde,
na vigília de Pentecostes, em resposta a algumas questões que lhe tinham sido apresentadas
por representantes de associações laicais e Movimentos eclesiais, presentes em grande
número na praça de São Pedro. Um encontro que tinha como tema: 'Eu creio, mas aumenta
a nossa fé'. O Santo Padre falou sobre a certeza e confissão da fé, o desafio de
evangelizar, a Igreja como resposta à sociedade atual. A primeira pergunta era
sobre a sua experiência de crente: como chegou à certeza da fé e como vive a fragilidade
da fé. Papa Francisco referiu a avó como a principal testemunha que lhe transmitiu
a fé cristã, na família e apelou às mulheres para que sintam o “amor na transmissão
da fé”. Sobre a fragilidade da fé, Francisco considerou que, no caso da fé, o maior
inimigo não é a fragilidade, mas sim o medo. “Não tenhais medo! Somos frágeis,
e sabemo-lo, mas Ele (o Senhor) é mais forte. Se vais com Ele, não há problema… ...
quando temos demasiada confiança em nós próprios, somos cada vez mais frágeis, mais
frágeis. Sempre com o Senhor! E dizer com o Senhor quer dizer com a Eucaristia,
com a Bíblia, com a oração… É o que eu penso sobre a fragilidade, pelo menos é a minha
experiência. Uma coisa que me dá força, todos os dias, é rezar o terço a Nossa Senhora.
Sinto uma força muito grande”. A segunda questão era: “Como comunicar de modo eficaz
a fé, hoje?” Papa Francisco respondeu que o mais importante no desafio da evangelização
se resume em três palavras: “Jesus, oração e testemunho”. E insistiu sobre o testemunho
do cristão: “Só com o testemunho se pode comunicar a fé. E isto é o amor. Não com
as nossas ideias, mas com o Evangelho vivido na própria existência e que o Espírito
Santo faz viver dentro de nós. É como uma sinergia entre nós e o Espírito Santo, e
isto conduz ao testemunho. A Igreja, são os Santos que a fazem avançar, porque são
eles que dão este testemunho”.
Sobre a crise do nosso tempo, o Papa sublinhou
que não é uma crise só económica ou cultural. Olhando para uma Igreja que "quer pobre
e para os pobres”, o Santo Padre apelou a uma comunidade aberta aos outros. "O
que está em crise é o Homem! E o que pode ser destruído é o homem. Mas o Homem é imagem
de Deus, por isso é uma crise profunda. Neste momento de crise profunda, não podemos
preocupar-nos apenas de nós mesmos, fecharmo-nos na solidão, no desânimo, no sentimento
de impotência perante os problemas. Não fechar-se, por favor! É este o perigo: fechamo-nos
na paróquia, com os amigos, no movimento, com aqueles com os quais pensamos as mesmas
coisas… Mas sabeis o que acontece? Quando a Igreja se fecha, adoece, fica doente”. “A
Igreja tem que sair de si mesma. Para onde? Em direcção às periferias existenciais,
quaisquer que estas sejam. Sair! Jesus diz-nos: Ide por todo o mundo! Ide! Pregai!
Dai testemunho do Evangelho! E o que acontece se alguém sai de si mesmo? Pode acontecer
a quem segue por uma estrada: pode ter um acidente. Mas eu digo-vos: prefiro mil vezes
uma Igreja acidentada, que sofreu um acidente, do que uma Igreja doente por
estar fechada!” Como tinha feito já, na semana passada, noutras duas circunstâncias,
o Papa Francisco contou “uma história”, um “midrash” bíblico de um rabino do século
XII, a propósito do episódio da Torre de Babel. Era necessário preparar bem os tijolos.
E quando estavam prontos, havia que os transportar até à parte mais alta da construção.
Às vezes acontecia caírem ao chão e perderem-se. Era um drama, uma tragédia! Castigavam
severamente o operário. “Era tão precioso um tijolo, que se um caía, era um drama.
Mas se caía um operário, não fazia mal, era outra coisa. É o que sucede hoje: se caiem
um pouco os investimentos nos bancos… tragédia… como é possível?! Mas se as pessoas
morrem de fome, se não têm saúde, não faz mal! É esta a nossa crise de hoje! E o testemunho
de uma Igreja pobre e para os pobres vai contra esta mentalidade.”