João XXIII, sempre mais reconhecido em Israel, poderá tornar-se em breve um 'Justo
entre as Nações'
Roma (RV) - Entre 1935 e 1944, quando era Delegado Apostólico do Vaticano em
Istambul, o Arcebispo Angelo Roncalli (1881-1963) não poupou esforços para salvar
‘o maior número de judeus do extermínio nazista’. O futuro Papa João XXIII “realizou
ações extraordinárias no tempo e no contexto em que vivia para ajudar os judeus, então
perseguidos”. Entre estas ações, está a emissão de ‘certificados de emigração’ por
meio da mala diplomática do Vaticano. Roncalli intervém também abertamente em favor
dos judeus eslovacos e búlgaros.
Quem afirma é Baruch Tenembaum da Fundação
Raoul Wallenberg, que recentemente participou em Israel de um Seminário Internacional
intitulado “Homenagem à memória do Papa João XXIII, a Shoah, os Judeus e a criação
do Estado de Israel”. Um comunicado da Fundação Raoul Wallenberg, que cita um artigo
publicado pelo ''Jerusalem Post'' sobre o encontro, recorda que foi realizado “um
paciente trabalho de coleta de provas tangíveis das ações de salvamento realizados
por Roncalli durante a Shoah”. Este foi apresentado ao Museu Yad Vashem, acompanhado
do fascículo com uma forte recomendação de que Roncalli seja reconhecido como “Justo
entre as Nações”. O pedido ainda não teve uma resposta, mas cresce em Israel “a divulgação
deste Papa, tanto que a cidade israelense de Ashdod nomeará uma rua com o seu nome”.
Tenembaum
realiza esforços para que Roncalli receba “o justo reconhecimento junto à opinião
pública israelense, à qual demonstra como Roncalli tenha um mérito particular no nascimento
do Estado de Israel”.
Ademais, Tenembaum conta ter recebido pessoalmente o
testemunho de Moshe Tov, um dos fundadores da diplomacia israelense e de Yair Zaban,
Secretário particular de Moshe Sneh, que em 1947 estava à frente do departamento político
da Agência Judaica na Europa. Foi justamente Sneh que confidenciou a Zaban ter recebido
uma ajuda determinante de Roncalli por ocasião da votação nas Nações Unidas sobre
o desmembramento do território.
A Agência judaica estava preocupada pelos
voto contrários dos países latino-americanos. Pela influência do Vaticano sobre estes
países, através a intervenção o então Núncio Roncalli, conseguiram realizar um encontro
com o Secretário de Estado Vaticano, Cardeal Domenico Tardini, o que aconteceu em
3 de outubro de 1947. O encontro foi considerado um sucesso e na votação da Assembléia
Geral das Nações Unidas, a maior parte dos países latino-americanos, somente com abstenção
de Cuba, votou favorável à moção. (JE)