Uberaba (RV) - Conta-se que Kant, o filósofo mais influente dos últimos 200
anos, reconhecia a inteligência superior, presidindo a harmonia de todo o universo.
Mas declarou que, se fosse “apanhado” por alguém, dedicando-se à oração, sentir-se-ia
envergonhado. Eis aqui alguém que não descobriu o Deus pessoa, o amigo que pode ser
encontrado no mais profundo do nosso eu. Trata-se de um órfão, que se sente apenas
ligado à família humana, mas não sabe que o Criador o convidou a fazer parte da família
divina. Isso levou a humanidade a se pôr na resistência contra o diálogo com a divindade.
Uma pessoa emancipada é tentada a não rezar. Um líder não se ajoelha, dizem. Imagina
que tem nas mãos a solução dos problemas. Não precisa apelar a ninguém para abrir
caminhos. Mas o bom Pai não os abandona. “Cristo morreu também pelos pecadores”
( Rom 5, 6).
É mais do que certo que o ser humano não deve esperar
as coisas caírem do céu, como dádiva. Pura outorga. A orientação que recebeu é outra.
“Mão trabalhadora mandará; mão preguiçosa servirá” (Prov 12,
24). É preciso acreditar em si e pôr mãos à obra, com gosto e inteligência. Mas daí
a abandonar a oração, como desnecessária, vai uma distância absurda. O ser humano,
dentro do universo visível, é o único que tem capacidade de entrar em comunicação
com o Ser Superior. Essa atitude benevolente com o “Pai Justo”, é capaz de encher
a alma. Dá uma sensação de plenitude. Mas não tem vínculo necessário com a consolação
interior, ter o coração inebriado de alegria. As pessoas que aprenderam a orar, não
buscam doçuras. Mas são inclinadas a serem pessoas que amam a justiça e a verdade,
e não se subordinam a que outras pessoas sejam injustiçadas.Também o verdadeiro orante
tem fortaleza de ânimo, sabe onde quer chegar, e não se deixa abalar por entraves
e maquinações. E finalmente – é sempre a Mestra Santa Teresa que o ensina - quem descobriu
o valor da oração torna-se uma pessoa humilde, abandona qualquer arrogância, e sabe
avaliar os pontos de vista dos mais humildes. Nós todos devemos chegar ao ponto de
apreciar a oração como uma respiração da alma. “Mestre, ensina-nos a orar” (
Lc 11, 1).
Dom Aloísio Roque Oppermann scj – Arcebispo Emérito de Uberaba,
MG. Endereço eletrônico: domroqueopp@terra.com.br