Cidade do Vaticano (RV) – A cidade de Baependi,
interior de Minas Gerais, está em festa, como está em festa toda a Igreja no Brasil;
o motivo é simples, Francisca de Paula de Jesus, mais conhecida como Nhá Chica será
beatificada neste 04 de maio, ela a primeira leiga brasileira a receber as honras
dos altares. Mas por que toda essa festa, essa alegria? Primeiro pelo reconhecimento
da Igreja de que Nhá Chica viveu de modo exemplar a sua vida; e depois porque dá também
a nós a esperança de que podemos aspirar à santidade com nossas vidas, pois “ser santo
é a meta de cada cristão”. Essa mulher simples, filha de ex-escrava, analfabeta,
encantou os homens e mulheres de seu tempo, – ela viveu entre 1810-1895 –, não com
grandes performances de vida, com sua grande cultura, ou com sua grande riqueza material;
não, ela encantou os homens e mulheres de seu tempo com a sua simplicidade, com a
sua sabedoria, que não sabia de onde vinha, da sua devoção a Deus, da sua entrega
aos pobres, ela que era pobre. Francisca nasceu no Distrito de Santo Antônio do Rio
das Mortes em São João Del Rey e depois foi viver com a sua família em Baependi. Na
bagagem dessa família, poucos pertences e uma imagem de Nossa Senhora da Conceição,
“Minha Sinhá” como ela chamava a Mãe de Deus. Apesar de já em vida ter tido a fama
de santidade passaram-se quase 100 anos após a sua morte para ter início o processo
de beatificação, processo que se conclui neste sábado com o reconhecimento da Igreja.
Muitos conhecem a bonita história dessa humilde filha da Terra de Santa Cruz – outros
estão conhecendo agora - que nada de extraordinário fez, a não ser viver na sua simplicidade
o verdadeiro sentido do ser cristão, ou seja, a doação total ao seu Deus e ao próximo.
Ela viveu de forma muito simples, numa casa humilde com poucos móveis. Mas a sua verdadeira
simplicidade se pode ver no encontro os irmãos, com aqueles que buscavam nela o alivio
para suas penas cotidianas, que buscavam a sua palavra de conforto, a sua oração e
a sua benção. Ela recebia todos com muita alegria e paciência, mas não na sexta-feira.
De fato a sexta era um dia importante pois “se recorda a Paixão de Cristo” – dizia
ela. Neste dia ela lavava as poucas roupas que tinha e se dedicava mais à oração e
à penitência. Nhá Chica por ser analfabeta não lia a Bíblia, mas entrava em contato
com as Sagradas Escrituras através da leitura que outras pessoas faziam para ela;
mas ser analfabeta para ela não era uma barreira intransponível, pois a graça de Deus
estava presente, e ela compreendia como ninguém tudo o que ouvia. A “Mãe dos pobres
de Baependi”, como também é chamada teve uma vida exemplar de fé, de doação e entrega
nas mãos daquele que tudo pode. Hoje a sua beatificação é festa nesta cidade, no céu
e no coração daqueles que agradecem a Deus por esse dom admirável; a “santa dos humildes”.
Humildade e abnegação, que – lendo um pouco a sua história – se pode ver até mesmo
quando recebeu a herança de seu irmão; usou o dinheiro para construir uma igreja para
Nossa Senhora e o que sobrou doou aos últimos que pediam a sua ajuda. Usava roupa
simples, quase sempre a mesma e dormia numa cama rústica sem colchão. Tudo segundo
o desejo de ser por fora aquilo que seu coração, escondido no peito, refletia: bondade,
simplicidade e um grande amor a Deus e ao próximo. Verdadeiramente a Igreja Católica
no Brasil está em festa e cheia de gratidão a Deus por essa sua filha que renunciou
a uma vida rica e abundante de bens para se tornar a “mãe dos pobres”, uma chama que
ilumina a noite dos últimos. Filha de ex-escrava ajudou as pessoas a se libertarem
do egoísmo e da falta de fé; ela pequena e imensa ao mesmo tempo hoje intercede por
cada um daqueles últimos que vêem no seu exemplo um caminho a ser percorrido na busca
daquela paz que somente a doação e o amor incondicionado a Deus e ao próximo pode
dar.
Nhá Chica, pequena de estatura, pode ser pequena aos olhos do mundo,
mas certamente é uma gigante aos olhos de Deus e hoje o céu faz festa por uma semente
que produziu e produz frutos. (Silvonei José)