Jales (RV*) - Ao completar o seu primeiro mês como “Bispo de Roma”, o Papa
Francisco tomou a decisão mais importante do seu pontificado. Ele constituiu um grupo
de cardeais, para o ajudar no governo da Igreja. A medida é original. Nenhum papa
partilhou, oficialmente, o seu poder com outras pessoas. Mas além de original, esta
medida tem objetivos bem claros e importantes.
Verdade que desde Paulo VI,
logo depois do Concílio, a sugestão de formar um grupo de “conselheiros próximos”,
uma espécie de “senado” que acompanhasse o papa nas decisões que ele deve tomar, começou
a ser excogitada, como resposta aos anseios de maior participação que o Concílio tinha
suscitado. Mas a sugestão só agora toma forma, com o grupo constituído pelo Papa nesta
semana.
Vale a pena intuir as intenções desta medida. São diversos ângulos
por onde dá para ir entrando, na tentativa de compreender o alcance desta iniciativa.
Podemos começar pela data. A medida foi tomada depois que ele completou o primeiro
mês de pontificado. Todos já iam se perguntando, depois dos gestos e das primeiras
mensagens, quais seriam suas decisões práticas, para implementar as esperanças que
ele suscitou. A data serve de indicativo do que ele de fato quer fazer. A medida
de agora faz parte, portanto, do seu plano de governo.
Outra observação importante.
Escolheu cardeais de todos os continentes. Isto significa, claramente, que as medidas
que ele espera implementar com a ajuda desses seus “consultores”, são para toda a
Igreja. Ele quer sentir de perto a realidade de cada continente. De certa maneira,
ele busca os mesmos objetivos dos “sínodos continentais”, instituídos por João Paulo
II. E quem sabe, com um grupo menor de pessoas, a dinâmica de trabalho possa ser
mais ágil.
O critério de escolha foi claramente geográfico. Mas observando
atentamente, há diferenças significativas. A África, a Ásia, a Austrália, um representante
cada continente, o que parece normal. Mas a Europa ficou só com um Cardeal, de Munique,
na Alemanha, e um bispo para o encargo prático de secretário. Mas a diferença maior
está na América Latina, de onde ele chamou dois cardeais, do Chile e de Honduras,
respectivamente o Cardeal Errazuris, e Cardeal Maradiaga. E ainda, da América, o Cardeal
de Boston.
Diante destas constatações, é evidente a intenção do Papa de valorizar
a Igreja da América Latina. Ele assume o desafio que muitos já lhe sugeriram: temos
um Papa vindo da América Latina, que universalize para toda a Igreja os valores positivos
da caminhada da Igreja da América Latina.
Mas nesta constatação dá par intuir
outra segurança que o Papa Francisco está buscando. Ele quer “sentir firmeza” com
a boa experiência que ele teve na Conferência de Aparecida, em 2007, quando ele foi
coordenador da equipe de redação. E seus auxiliares imediatos eram o Cardeal Errazuris,
do Chile, e o Cardeal Maradiaga, de Honduras. Agora, ele chamou os dois, privilegiando
a América Latina com dois representantes, que foram seus companheiros no momento
talvez mais importante que ele teve, antes de ser papa, a Quinta Conferência da América
Latina. E ainda por cima, estabeleceu o Cardeal Maradiaga como coordenador do grupo
todo.
Portanto, dá para esperar muitos encaminhamentos, decorrentes desta
importante iniciativa do Papa Francisco. Ele quer encontrar um primeiro consenso entre
estes seus auxiliares mais próximos, para contar com o consenso de todos, nas importantes
decisões que a Igreja e a humanidade estão esperando em nosso tempo.