Mulheres moçambicanas e o espetro da guerra no país
Maputo - As organizações moçambicanas da mulher exigem diálogo entre o governo e a
Renamo, este último o maior partido da oposição em Moçambique, para evitar a reedição
da guerra dos 16 anos no país. Numa carta aberta dirigida ao Chefe do Estado, as organizações
da mulher afirmam que ″Não precisamos fazer lembrar as manchetes que pululam os jornais
do mundo, mostrando as humilhantes violações a que as mulheres são sujeitas em países
sob conflitos armados". Como exemplo, a mesma mensagem refere que "vivenciamos
em Bukavu na República Democrática do Congo a dimensão das atrocidades praticadas
contra as mulheres pelos regimes em conflito. Vivemos recentemente, no Fórum Social
Mundial na Tunísia o grito das mulheres denunciando as várias formas de violência
sofridas, mesmo no contexto da dita "primavera árabe" que deveria trazer a liberdade″.Por
isso, as mulheres moçambicanas exigem que as divergências políticas existentes sejam
resolvidas por diálogo e por cedências de ambas as partes em nome da paz que tanto
custou a conquistar. ″Nós, mulheres moçambicanas de todas as idades, de todos os
credos, de todas as raças, classes e cores, exigimos a todos os poderes políticos,
instituídos e não instituídos, que pensem no povo, nas mulheres, que pensem nas crianças
e que pensem nas pessoas e comunidades indefesas″, referiram. Exigem ainda que
a Convenção 1325 das Nações Unidas sobre Paz e Segurança, assinada por Moçambique,
seja assumida e tomada como referência para o reforço do diálogo, para a promoção
da Paz e Segurança Humana das mulheres e homens moçambicanos. A carta refere ainda
que desde há 20 anos, o 4 de Outubro tornou-se feriado nacional em memória de tudo
o quanto os moçambicanos viveram nos 16 anos do conflito armado, mas, sobretudo, para
que através desta data se tornassem sempre vivos, actuais e constantes os esforços
pela construção e manutenção da paz entre os moçambicanos. De vários pontos do
país, chegam mensagens de Organizações de mulheres, baseadas na comunidade, de mulheres
anónimas e públicas e tantos outros, manifestando o seu protesto contra a violência
e todos os atentados à paz, que com muito custo foi conquistada e vem sendo preservada
pelos moçambicanos. A carta, que também inclui uma mensagem separada dirigida ao
líder da Renamo, Afonso Dhlakama, reconhece a sua contribuição para a democracia,
multipartidarismo e direitos humanos em Moçambique. Contudo, sublinha que "apelamos
que o diálogo seja sempre a primeira e única opção para a resolução de eventuais diferenças
entre as variadas forças políticas em Moçambique".