Juiz de Fora (RV) - As comunidades às quais foi endereçado o livro do Apocalipse
viviam tempos amargos por causa do testemunho: perseguições, exílio, mortes. Como
entender o projeto de Deus nessas situações? Quem garante que Deus é o Senhor da história?
A situação das comunidades identifica-se com o choro de João, choro-desespero diante
da impossibilidade de entender o significado dos acontecimentos e o sentido da história
sofrida que o povo vive.
Na visão do capítulo 5, o autor mostra às comunidades
que Jesus, por sua morte e ressurreição, é aquele que dá sentido à história. A história
é simbolizada pelo livro fechado com sete lacres (selos). A vitória de Jesus é celebrada
numa solene liturgia universal, que inicia no céu e ecoa por todo o mundo, tendo como
lugar de conclusão novamente o céu. Esses cânticos de louvor cantados no céu e na
terra visam suscitar esperança na comunidade reunida para celebração e leitura do
livro, levando-a a tomar consciência da ação de Cristo em favor dos cristãos.
O
texto da segunda leitura do terceiro domingo da Páscoa reflete a segunda e terceira
doxologias. A segunda é celebrada no céu, por um número incontável de anjos que circundam
o trono, os seres vivos e os anciãos. O trono simboliza a estabilidade de Deus e do
seu projeto. Os seres vivos são símbolos do dinamismo que parte de Deus. Os Anciãos
são figuras representadas do povo de Deus. Cada comunidade verá neles os irmãos e
irmãs que os precederam no testemunho.
O hino de louvor atribui a Cristo, morto
e ressuscitado, e só a Ele, o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a honra, a glória
e o louvor. São sete (número perfeito) atribuições. São o reconhecimento alegre dos
cristãos diante do que Jesus realizou em favor deles. Só Ele é merecedor dessas atribuições.
Aplicá-las a outros – como se costumava fazer no império romano, onde o imperador
era adorado como Deus e recebia do povo esse reconhecimento – é, para as comunidades
cristãs, idolatria, pois só quem dá gratuitamente a vida para resgatar a morte é que
deve ser louvado.
A terceira doxologia se faz ouvir em todos os lugares: no
céu, na terra, sob a terra, sobre o mar e é proclamada por todos. Ela atribui a Deus
e ao Cordeiro, para sempre, os atributos do reconhecimento de sua ação: o louvor,
a honra, a glória e o poder.
A liturgia se encerra no céu com um Amém solene.
Amém significa: isto é verdade. É o reconhecimento de que Deus é plenamente fiel.
O reconhecimento é acompanhado de prostração e adoração por parte dos Anciãos. Seu
gesto é um convite às comunidades: a quem adorar? Basta olhar a caminhada das comunidades,
descobrir por que pessoas tiveram a coragem de perder a vida e derramar seu sangue,
para descobrir quem merece, de forma única e exclusiva, reconhecimento e adoração.
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Eurico dos Santos Veloso Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG)