Cidade do Vaticano (RV) – Recorre nesta quinta-feira o 50° aniversário da Encíclica
Pacem in Terris, de João XXII, um documento profético, de grande força, no
qual o Beato Roncalli, após a crise dos mísseis de Cuba, exortava todos os homens
de boa vontade, e não somente os cristãos, a empenharem-se em favor da paz no mundo.
A
Rádio Vaticano conversou com o historiador da Universidade Católica de Milão, Agostino
Giovagnoli, sobre a atualidade deste documento:
Agostino Giovagnoli:
“A força da Pacem in Terris é antes de tudo aquela de levar a cabo um Magistério,
aquele dos Papas, que ao longo do século XX, a partir de Bento XV de modo particular,
sempre insistiu sobre o tema da paz, e assim, sobre o papel da Igreja Católica para
o apoio da paz na família humana. Além disto, a Pacem in Terris, levou este tema a
uma formulação plena, no sentido de considerar a guerra como alguma coisa não mais
aceitável e suportável”.
RV: Um documento que nasce após a
crise dos mísseis de Cuba, talvez o momento em que o mundo esteve mais próximo de
uma Terceira Guerra Mundial, uma guerra nuclear. Seguramente, também isto estava muito
presente no pensamento, no coração do Papa João XXIII…?
Agostino
Giovagnoli: “Sim, certamente. A gênese deste documento está justamente na crise
de Cuba de outubro de 1962 e eu diria também no papel que naquela ocasião, João XXIII
pode desenvolver de modo singular entre as duas grandes partes envolvidas: os Estados
Unidos e a União Soviética. João XXIII, neste modo, quis transformar a iniciativa
específica em alguma coisa maior, isto é, numa advertência que a Santa Sé estava em
grau de dar, desenvolvendo um Magistério moral, universal, dirigido a todos os povos”.
RV: A universalidadedeste documentoestá
presente desde otítulo,porque aPacem
inTerrisnão é dirigidaapenasaos católicos, aos cristãos, masa todos os homensde boa vontade
Agostino Giovagnoli: “Isto
é muito significativo. A partir dele, outros documentos retomaram este apelo aos homens
de boa-vontade, crentes e não crentes. Eu diria que aqui se vê também a evolução daquele
‘Magistério característico de João XXIII’, tão atento em não fazer distinção entre
as ideologias, os movimentos históricos e também entre erro e errantes”.
RV:
Muito vêem uma similaridade entre o Papa Francisco e João XXIII, seguramente nesta
dimensão da paz....
Agostino Giovagnoli: “A relação
é evidente, é muito forte – o tema da paz está presente já nos primeiros discursos
do novo Papa – e é fundado, por exemplo, naquele convite de se ter cuidado pelo outro
com ternura. Eu diria que este Papa que vem do ‘Sul do mundo’, e que representa aquele
processo de globalização em que estamos submergidos, constitui de qualquer maneira,
a continuação de uma intuição característica de João XXIII, que, convocando o Concílio
Vaticano II, atrelou a sorte da Igreja àquela do mundo inteiro, e assim, também reivindicou
um compromisso cristão da Igreja Católica em particular, pela paz, não como alguma
coisa de acessório, mas como alguma coisa fundamental”. (JE)