João Paulo II e o genocídio de Ruanda: "A coragem do perdão e da fraternidade"
Cidade do Vaticano (RV) – Em 6 de abril de 1994, tinham início os dramáticos
100 dias do genocídio de Ruanda.
Situado no coração da África, no país foram
massacradas sistematicamente de 800 mil a um milhão de pessoas – um dos episódios
mais sangrentos da história do século XX.
O Pontífice na época, João Paulo
II, fez sentir sua voz assim que o conflito eclodiu. Foram reiterados apelos, como
no Regina Coeli de 8 de maio de 1994, quando pediu que se depusessem os ódios e as
armas que já tanto sangue fizeram escorrer naquela região martirizada. “Ruanda e a
África necessitam da paz” – exclamou na ocasião.
Uma semana depois, João Paulo
II já usava a palavra “genocídio”:
“Sinto o dever de evocar as violências de
que são vítimas as populações de Ruanda. Trata-se de um verdadeiro genocídio, do qual
inclusive são responsáveis, infelizmente, alguns católicos. Dia após dia, estou solidário
com este povo em agonia, e gostaria de falar à consciência de todos aqueles que planejam
esses massacres e os executam. Eles estão levando o país para o abismo. Todos deverão
responder por seus crimes diante da história e, antes de tudo, diante de Deus. Chega
de sangue! Deus espera de todos os ruandeses, com a ajuda dos países amigos, um despertar
moral: a coragem do perdão e da fraternidade.”
As causas que produziram essa
barbárie são complexas, com raízes no período colonial belga – que incutiu na população
as divergências de etnia entre tutsis e hutus.
Durante o massacre, a inércia
da comunidade internacional fez com países ocidentais se tornassem coniventes. O veto
dos Estados Unidos – que não reconhecia o genocídio (fato que ocorreu somente em junho,
ou seja, dois meses depois) – impediu que a ONU interviesse. Vários países enviaram
contingentes com a única finalidade de salvar os próprios cidadãos, como fez a Bélgica
e a França.
Até agora, poucas pessoas foram punidas. Em 18 de dezembro de 2008,
o Tribunal Internacional Especial instituído em Arusha, na Tanzânia, condenou à prisão
perpétua o coronel Théoneste Bagosora, que em 1994 era o Ministro da Defesa ruandês
e considerado o idealizador do massacre, o major Aloys Ntabakuze e o coronel Anatole
Nsengiyumva.