Debate sobre impunidade em violação dos direitos humanos no Brasil
Brasília (RV) - Uma delegação internacional da Fundação Right Livelihood chegou
no último domingo ao Brasil para cobrar esclarecimentos sobre o assassinato de militantes
sociais ligados principalmente à Comissão Pastoral da Terra (CPT) e ao Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A entidade sueca cita dados da Comissão Pastoral
da Terra (CPT) que indicam que o número de ativistas ameaçados ou vítimas da violência
cresceu 177,6% de 2010 para 2011, passando de 125 para 347 casos no período.
A
fundação menciona o assassinato de um dos líderes do MST, Cícero Guedes, em janeiro
deste ano, como um dos crescentes ataques contra ativistas brasileiros envolvidos
na luta pela reforma agrária. A delegação é formada por dois ganhadores do chamado
Prêmio Nobel Alternativo (Right Livelihood Award), concedido desde 1980 pela entidade,
a inglesa Angie Zelter e o biólogo argentino Raúl Montenegro. Também integra a comissão
a ex-parlamentar sueca Marianne Andersson, que faz parte do conselho diretivo da fundação.
Terça-feira,
o grupo visitou três assentamentos do MST, entre eles o 17 de abril, em Eldorado dos
Carajás, no Pará. Em nota, a fundação avalia que a violação contra os movimentos sociais
no Estado é "particularmente grave, com elevado índice de desmatamento e grande número
de casos de flagrantes de trabalho em condição semelhante à escravidão e de ameaças
a defensores dos direitos humanos". Dos 29 casos de ativistas rurais mortos em 2011,
no país, em função de sua militância, 12 ocorreram no estado, segundo levantamento
da CPT.
Quarta-feira, a delegação participa de um debate público sobre a impunidade
em casos de violação aos direitos humanos. O evento ocorre no campus de Marabá da
Universidade do Estado do Pará (Uepa). Ainda em Marabá, o grupo vai acompanhar, a
partir de quarta-feira, o julgamento dos três acusados de matar o casal de extrativistas
paraenses José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva. Os dois
foram mortos a tiros em maio de 2011.
Criado para "honrar e apoiar aqueles
que oferecem respostas práticas e exemplares aos desafios mais urgentes" da população
mundial, o chamado Prêmio Nobel Alternativo já foi concedido pela Fundação Right Livelihood
a personalidades ou instituições brasileiras em cinco ocasiões: à CPT em conjunto
com o MST (1991), ao agrônomo e ecologista José Lutzenberger (1988), ao teólogo Leonardo
Boff (2001), ao ativista Chico Whitaker Ferreira (2006), e ao bispo da Prelazia do
Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário, Dom Erwin Kräutler (2010).
A cerimônia de entrega do prêmio ocorre anualmente, no Parlamento da Suécia.