Rio de Janeiro (RV) - Narra o Evangelho do Domingo de Páscoa que ao local onde
havia sido deposto Jesus no sepulcro, na tarde de sexta-feira, chegou Maria de Magdala
e chegaram outras mulheres. Jesus tinha sido colocado num sepulcro novo, escavado
na rocha, no qual ninguém fora sepultado ainda. Este sepulcro achava-se aos pés do
Gólgota, precisamente onde Jesus crucificado expirara depois que o centurião lhe havia
traspassado o lado com a lança para verificar, com certeza, a realidade da morte.
Jesus fora envolvido em ligaduras pelas mãos caridosas e cheias de afeto das piedosas
mulheres, as quais, juntamente com a Sua mãe e com João, o discípulo amado, haviam
assistido ao seu extremo sacrifício.
Tendo, porém, caído a noite e iniciando-se
o Sábado Pascal, as generosas e afeiçoadas discípulas viram-se obrigadas a adiar a
unção do corpo santo e martirizado de Cristo para uma próxima ocasião, logo que isso
fosse permitido pela lei religiosa da época. Elas dirigem-se, pois, ao sepulcro, no
dia a seguir ao sábado, logo de manhãzinha, isto é, aos primeiros albores do dia;
vão preocupadas com a ideia de como remover a grande pedra que tinha sido colocada
à entrada do sepulcro, a qual, também havia sido selada. Mas, eis que chegadas ao
local viram que a pedra tinha sido retirada do sepulcro.
A pedra colocada
na tarde de Sexta-feira Santa por cima do sepulcro de Jesus tornou-se também ela,
como todas as pedras tumulares, a testemunha da morte do Homem, do Filho de Deus.
E o que testemunha esta pedra no dia a seguir ao sábado, às primeiras horas do despontar
do novo dia? O que é que diz e o que é que anuncia essa pedra retirada do sepulcro?
No Evangelho as respostas começam a aparecer de modo tímido. Maria de Magdala,
quando possuída de grande susto pela ausência de Jesus do sepulcro, corre a avisar
Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava (Jo. 20, 2), a sua linguagem
humana encontra somente estas palavras para exprimir o sucedido: "Levaram o Senhor
do sepulcro e não sabemos onde o puseram" (Jo. 20, 2).
Segue-se que também
Simão Pedro e o discípulo amado, apressadamente, foram ao sepulcro. Pedro, tendo entrado
aí, viu as ligaduras por terra e colocadas à parte, num outro lugar, e o sudário que
estivera sobre a cabeça de Jesus (Jo 20,7). Depois entrou, também, São João e viu
e acreditou: ambos, com efeito, "não tinham entendido ainda a Escritura, que Ele devia
ressuscitar dos mortos" (Jo. 20, 9).
Jesus vencera a morte e a pedra do túmulo
não conseguira ser o seu fim, porque Ele verdadeiramente Ressuscitou e Está no meio
de nós! Os encontros com o Ressuscitado irão abrir ainda mais suas mentes e corações
para tornar os apóstolos testemunhas da ressurreição.
Devemos constantemente
renovar a nossa adesão a Cristo morto e ressuscitado por nós: a sua Páscoa é também
a nossa Páscoa, porque em Cristo ressuscitado é-nos dada a certeza da nossa ressurreição.
A notícia da sua ressurreição dos mortos não envelhece e Jesus está sempre vivo; e
vivo é o seu Evangelho. "A fé dos cristãos, observa Santo Agostinho, é a ressurreição
de Cristo". Os Atos dos Apóstolos explicam-no claramente: "Deus ofereceu a todos um
motivo de crédito com o fato de O ter ressuscitado dentre os mortos" (17, 31). No
decorrer da história muitos consagraram a sua vida a uma causa considerada justa e
morreram! E permaneceram mortos. A morte do Senhor demonstra o amor imenso com que
Ele nos amou até ao sacrifício por nós; mas a sua ressurreição é a certeza de que
quanto Ele afirma é verdade que vale também para nós, para todos os tempos. Ressuscitando-o,
o Pai glorificou-o. São Paulo assim escreve na Carta aos Romanos: "Se confessares
com a tua boca o Senhor Jesus e creres no teu coração que Deus O ressuscitou dentre
os mortos, serás salvo" (10, 9).
Na Igreja Católica não pode faltar a fé na
ressurreição, senão tudo desmorona. Ao contrário, a adesão do coração e da mente a
Cristo morto e ressuscitado muda a vida e ilumina toda a existência das pessoas e
dos povos. Não é, porventura, a certeza de que Cristo ressuscitou que dá coragem,
audácia profética e perseverança aos mártires de todos os tempos? Não é o encontro
com Jesus vivo que converte e fascina tantos homens e mulheres, que desde o início
do cristianismo continuam a deixar tudo para segui-Lo e pôr a própria vida ao serviço
do Evangelho? "Se Cristo não ressuscitou é vã a nossa pregação e vã a nossa fé" (1
Cor 15, 14). Mas ressuscitou! E está vivo no meio de nós!
O anúncio que ouviremos
dentro neste festivo tempo é precisamente este: Jesus ressuscitou, é o Vivente e nós
podemos encontrá-Lo. Como O encontraram as mulheres que, na manhã do terceiro dia,
o dia depois do sábado, tinham ido ao sepulcro; como O encontraram os discípulos,
surpreendidos e perturbados com o que as mulheres tinham contado; como O encontraram
muitas outras testemunhas nos dias depois da sua ressurreição. E também depois da
sua Ascensão, Jesus continuou a permanecer presente entre os seus amigos como tinha
prometido: "E Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo" (Mt 28, 20). O Senhor
está conosco, com a sua Igreja, até ao fim dos tempos.
Iluminados pelo Espírito
Santo, os membros da Igreja primitiva começaram a proclamar o anúncio pascal abertamente
e sem receio. E este anúncio, transmitido de geração em geração, chegou até nós e
ressoa todos os anos na Páscoa com poder sempre novo. É este anúncio que o Papa Francisco
espera de todos nós, brasileiros e, particularmente, dos jovens, na JMJ Rio 2013,
com o seu empenho missionário. Feliz Páscoa, e vamos dar testemunho de que Cristo
ressuscitou verdadeiramente, Aleluia!
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo
Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ