Francisco na Missa do Crisma: “Ser pastor é sentir o cheiro das ovelhas”
Cidade do Vaticano (RV) – O Papa Francisco celebrou na manhã desta Quinta-feira
Santa, que abre o Tríduo Pascal, a Missa do Crisma na Basílica Vaticana.
Em
sua homilia, falou da simbologia dos ungidos, seja na forma, seja no conteúdo. A beleza
de tudo o que é litúrgico, explicou, não se reduz ao adorno e bom gosto dos paramentos,
mas é presença da glória do nosso Deus que resplandece no seu povo vivo e consolado.
“O óleo precioso, que unge a cabeça de Aarão, não se limita a perfumá-lo,
mas se espalha e atinge «as periferias». O Senhor dirá claramente que a sua unção
é para os pobres, os presos, os doentes e quantos estão tristes e abandonados. A unção
não é para perfumar a nós mesmos, e menos ainda para que a conservemos num frasco,
pois o óleo tornar-se-ia rançoso... e o coração amargo.”
Para Francisco, o
bom sacerdote reconhece-se pelo modo como é ungido o seu povo: “Nota-se quando o povo
é ungido com óleo da alegria; por exemplo, quando sai da Missa com o rosto de quem
recebeu uma boa notícia. O nosso povo gosta do Evangelho quando é pregado com unção,
quando o Evangelho que pregamos chega ao seu dia a dia, quando escorre como o óleo
de Aarão até às bordas da realidade, quando ilumina as situações extremas, «as periferias»
onde o povo fiel está mais exposto à invasão daqueles que querem saquear a sua fé”.
Ser sacerdote é estar nesta relação com Deus e com o seu povo, pois assim
a graça passa através dele para ser mediador entre Deus e os homens. Esta graça, todavia,
precisa ser reavivada, para intuir o desejo do povo de ser ungido e experimentar o
seu poder e a sua eficácia redentora: “Nas «periferias» onde não falta sofrimento,
há sangue derramado, há cegueira que quer ver, há prisioneiros de tantos patrões maus”.
Não é nas reiteradas introspecções que encontramos o Senhor, adverte o Pontífice,
nem mesmo nos cursos de autoajuda. O poder da graça cresce na medida em que, com fé,
saímos para nos dar a nós mesmos oferecendo o Evangelho aos outros, para dar a pouca
unção que temos àqueles que nada têm.
“O sacerdote que sai pouco de si mesmo,
que unge pouco, perde o melhor do nosso povo, aquilo que é capaz de ativar a parte
mais profunda do seu coração presbiteral. Quem não sai de si mesmo, em vez de ser
mediador, torna-se pouco a pouco um intermediário, um gestor. Daqui deriva precisamente
a insatisfação de alguns, em vez de serem pastores com o «cheiro das ovelhas», pastores
no meio do seu rebanho, e pescadores de homens.”
Para enfrentar a crise de
identidade sacerdotal, que se soma à crise de civilização, Papa Francisco convida
a lançar as redes em nome Daquele em que depositamos a nossa confiança: Jesus.
E
conclui: “Amados fiéis, permanecei unidos aos vossos sacerdotes com o afeto e a oração,
para que sejam sempre Pastores segundo o coração de Deus. Amados sacerdotes, Deus
Pai renove em nós o Espírito de Santidade com que fomos ungidos, o renove no nosso
coração de tal modo que a unção chegue a todos, mesmo nas «periferias» onde o nosso
povo fiel mais a aguarda e aprecia”. (BF)