Bagdá (RV) - Passados dez anos da queda do regime de Saddam Hussein, o Curdistão,
no norte do Iraque, vive uma situação de relativa calma, distante da violência que
atinge ainda Bagdá e outras cidades. É em Erbil, capital, mas também província do
Curdistão, que se encontra a maior comunidade cristã de todo o país, ao todo 6 mil
famílias. Nas outras duas províncias, Sulaimaniya e de Dohuk, vivem outras 4.500.
A maior parte delas chegou ao Curdistão nos últimos anos, em fuga do conflito ainda
em andamento no Iraque. Apesar de viver com mais segurança, porém, também os cristãos
do Curdistão abandonam suas casas. Foi o que disse à Rádio Vaticano, o Arcebispo caldeu
de Erbil, Dom Bashar Warda:
R. “O problema no Iraque depende da instabilidade
política, que prejudica a vida cotidiana não só dos cristãos, mas de todos os iraquianos.
As pessoas sofrem por causa disso, obviamente, enquanto minoria os efeitos negativos
são mais visíveis sobre os cristãos. Não há a percepção de segurança, e isso é o que
vive cada cristão, e a maior pare das famílias foi obrigada a emigrar três vezes nos
últimos 40 anos. Certamente, a situação no Curdistão está um pouco melhor, não se
compara com o resto do Iraque. Aqui se vive com a sensação da segurança, em uma comunidade
como Ankawa (bairro cristão de Erbil), com cinco mil famílias nos sentimos mais tranquilos.
Pode-se viajar, visitar o resto do Curdistão quando quiser. Em todo caso porém, este
grande conflito político atinge todos os iraquianos. E se falamos dos cristãos, que
são minoria, eles são atingidos mais do que os outros”.
P. No Curdistão
como vivem os cristãos? Há discriminação por exemplo no que diz respeito ao trabalho?
R.
“Não quero falar de discriminação contra os cristãos, a falta de trabalho depende
também do fato que, chegando aqui, fugindo do Iraque, não falam o curdo, eis porque
nõs como Igreja procuramos apoiá-los fornecendo cursos de língua curda. A situação
é diferente para aqueles que são mais qualificados, que têm um diploma, o governo
regional do Curdistão procura incentivá-los, pedindo para que fiquem por aqui”.
P. Sabemos que muitos cristãos iraquianos chegaram ao Curdistão nos últimos anos,
mas muitos neste momento estão deixando essa terra, precisamente por causa das dificuldades
que o senhor citou...
R. “O Curdistão se encontra no coração do Oriente
Médio, e sabemos que se trata de uma área instável. Temos fronteiras com a Síria,
com toda a sua violência. Os cristãos sentem que toda a área não está segura, que
não há futuro, emigram da Síria, da Turquia, do Iraque, da Jordânia. A Igreja várias
vezes denunciou a dramática emigração dos cristãos do Oriente Médio, várias vezes
falou de um grande desafio. Certamente, do Iraque emigram mais cristão que dos outros
lugares. Quem deixa o Curdistão não é porque vivem mal, mas porque este sentido de
instabilidade que atravessa toda a região. Também porque sabemos que tudo o que possa
acontecer na Síria atingirá a todos, não é um segredo. Os cristãos me repetem: estamos
cansados, estamos cansados de todas essas mudanças. Para eles essas mudanças são forçadas,
eles sofrem com elas, e não são uma escolha”. (SP)