Goiânia (RV) - Boa parte do Brasil convive hoje em meio a conflitos pelo uso
da água. De acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), no ano passado foram registrados
115 conflitos em 19 estados. “Uma das razões fundamentais, sem dúvida, é o registro
dos conflitos acontecidos em função da seca, embora se reconheça que esse registro
está aquém do real acontecido e em acontecimento, já que a longa estiagem não acabou”,
explica Roberto Malvezzi, assessor nacional da CPT.
De acordo com o levantamento,
a seca não é a razão única do crescimento dos conflitos pela água. “É que aqueles
registrados como oriundos da estiagem se concentram em apenas seis estados, sendo
cinco do Nordeste e um da região sul (Santa Catarina). Porém, quando nos debruçamos
sobre os conflitos de água em geral, então eles abrangem 18 estados da federação.
Dessa forma, podemos dizer que os conflitos pela água já adquiriram efetivamente uma
dimensão nacional”, afirma Malvezzi.
O assessor conta que hoje os conflitos
ocorrem de forma diferente. “Persistem as ocupações de bancos, órgãos públicos, fechamento
de estradas, normalmente para reivindicar políticas públicas e obras estruturantes
que empoderem a população para os períodos de estiagem prolongada”. A CPT afirma que
os conflitos pela água estão presentes em todo o território nacional por outras razões:
destruição e poluição de mananciais, impedimento de acesso à água, apropriação privada
e não cumprimento de procedimentos legais.
“Esses problemas são causados em
sua maioria esmagadora pela construção de hidrelétricas, barragens e açudes, mineradoras,
comandados por empresários e ações dos governos estaduais e federal. Há um fenômeno
não captado pelos dados que é a apropriação privada dos aquíferos subterrâneos, particularmente
no Oeste Baiano, e também das águas de superfície para finalidade de irrigação. Mesmo
assim, está evidenciado pelos números quem são os causadores dos problemas e quem
são as vítimas”, arremata Malvezzi. (CM-cnbb)