Guerra na Síria mais mortífera do que a do Iraque - mais de um milhão de refugiados
Os últimos meses de guerra na Síria estão a ser mais sangrentos do que as piores fases
da violência no Iraque. Desde o início de Dezembro, são mortas em média 149 pessoas
por dia no país que há dois anos vive em guerra civil, segundo um trabalho da revista
Foreign Policy citado pelo jornal Público. A revista cita dados da Brooking Institution
segundo os quais, em 2006, foram mortos violentamente no Iraque 36.591 civis e elementos
das forças de segurança. Morreram também em combate 3902 rebeldes, de acordo com informações
da coligação militar internacional. O que dá uma média de 3374 iraquianos mortos por
mês, 111 por dia. Na Síria, desde o início do levantamento contra o regime de Bashar
al-Assad, em Março de 2011, já perderam a vida mais de 70 mil pessoas, segundo estimativas
das Nações Unidas. Os números dispararam nos últimos meses. A Foreign Policy cita
dados do Violations Documentation Center segundo os quais, desde o início de Dezembro
de 2012, foram mortas, em média 4472 pessoas por mês. A média diária é, neste caso,
de 149, de acordo com os dados recolhidos por esta organização de activistas sírios
anti-Assad que regista – com nomes, datas e locais – mortos, detidos e desaparecidos. Ainda
que digam respeito a um período inferior ao do ano de maior violência no Iraque –
quando o dia-a-dia era marcado por bombas, atentados-suicidas, ataques às tropas norte-americanas
e violência de sunitas contra xiitas – os dados confirmam o agravamento da situação
na Síria. Atendendo a que a população síria é cerca de dois terços a do Iraque
– 22 milhões de pessoas para 31 milhões - mesmo que os números absolutos fossem iguais
o impacto das mortes seria mais elevado na Síria. Numa das dimensões da guerra,
os refugiados, o caso da Síria não tem, para já, as proporções que assumiu no Iraque,
mas a situação tem-se agravado. O “pico” no Iraque foi atingido em 2007, com 2,2 milhões
de pessoas, segundo as Nações Unidas. No caso da Síria eram um milhão de pessoas no
início do mês de Março. O alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António
Guterres, afirmou há dias que o número pode duplicar ou triplicar até ao final do
ano. O número de deslocados internos é semelhante nos dois casos: 2,4 milhões de
iraquianos em 2007, 2,5 milhões actualmente na Síria, segundo estimativas das Nações
Unidas. O autor do trabalho da Foreign Policy, David Kenner, escreve que, da mesma
forma que a invasão do Iraque e a guerra definiram a última década no Médio Oriente,
o levantamento na Síria parece poder definir a próxima. No caso do Iraque, os acontecimentos
“moldaram as crescentes tensões entre sunitas e xiitas no mundo árabe e serviram como
linha da frente na luta dos EUA com o Irão e alteraram a paisagem política em Damasco
e Beirute”.