Card. Napier: "os abusos a menores são um crime horrendo" - declaração esclarece recentes
afirmações mal interpretadas
"Os abusos a menores são um crime horrível contra as crianças, as suas famílias, a
Igreja e a sociedade", é o que escreveu, num comunicado oficial, o Cardeal. Wilfried
Napier, Arcebispo de Durban, na África do Sul. A sua declaração vem depois de uma
entrevista que ele concedeu a uma emissora radiofónica, durante a qual as suas palavras
foram mal interpretadas, resultando no surgimento de uma posição errada da Igreja,
isto é, como se ela visse na pedofilia um transtorno mental, mas não um crime. Pelo
contrário, na sua nota, o Cardeal Napier reitera que os abusos a menores são um crime
e que, como tais, "devem ser tratados segundo as exigências do Código Penal e do Direito
Canónico", para depois serem submetidos à análise da Congregação para a Doutrina da
Fé, que agirá consequentemente. O purpurado explica também que ele tinha sido contactado
pela emissora radiofónica para uma entrevista sobre o Papa Francisco e o Conclave
em geral. Só mais tarde, o entrevistador pediu ao Arcebispo de Durban um comentário
sobre possíveis reformas que o novo Pontífice poderia fazer na vida da Igreja e em
particular a questão dos abusos a menores. "Eu disse pelo menos duas vezes - escreve
na sua nota o Cardeal Napier – que eu não sou uma pessoa qualificada para explicar
o que é a pedofilia e não me foi dado o tempo para dizer que a principal preocupação
pastoral deve ser sempre para as vítimas dos abusos". Portanto, acrescenta o Cardeal:
"A questão principal era e ainda é a seguinte: os abuso sexuais a menores são um crime
hediondo mais do que qualquer outro, porque causam dano a uma criança". Concluindo
a sua nota com a explicação de que ele a difundiu para fazer entender "o contexto
da entrevista e as acções que a Igreja faz contra a pedofilia", o Cardeal. Napier
exprime finalmente as suas desculpas "a todos aqueles que se sentiram ofendidos por
esta falsa entrevista, em particular às vítimas de abusos, as quais precisam de toda
a ajuda e apoio que a Igreja pode dar" (PIRO)
Do site da Conferência
Episcopal da África do Sul a versão original: Antes de tudo, quero confirmar
que estou plenamente de acordo com a posição da Igreja que: O
Abuso Sexual a Menores é um crime horrendo contra as Crianças, as suas Famílias, a
Igreja e a Sociedade. Deve ser tratado segundo as exigências do Código Penal e
do Direito Canónico. Do mesmo modo, uma vez que a existência de crime foi verificada
através de investigação minuciosa feita por investigadores independentes contratados
pelo Comité de Conduta Profissional, a questão é levada às autoridades civis, quer
a polícia, o Departamento para o bem-estar das Crianças ou um Empregado Social, para
que uma acção criminal civil possa ter lugar. Uma vez concluída a acção civil a
Igreja local submete o caso à Congregação para a Doutrina da Fé (CDF). E’ levada
a cabo a acção determinada pela CDF.
Entrevista da “Radio 5 em Directo”
da BBC
Na sexta-feira à noite, pelas 21.45h recebi um pedido da Rádio BBC para
falar sobre a eleição do Papa Francisco. Como eu já tinha feito isso por mais de uma
dezena de vezes aceitei. A entrevista feita por Stephen Nolan da “Radio 5” começou
com uma discussão geral sobre o Conclave, a atmosfera na Capela Sistina, etc. Em seguida
Stephen perguntou o que o Papa Francisco precisava fazer para reformar a Igreja com
particular referência aos abusos sexuais a crianças. Aceitei a pergunta como tinha
feito com outras entrevistas. Falei da minha própria experiência. No início dos
anos ‘90 a opinião médica dos especialistas era que a pedofilia era uma condição que
podia ser tratada, e até mesmo curada. Por isso, os culpados poderiam voltar ao ministério
depois do tratamento. Com experiência de que a opinião médica evoluiu ao ponto de
dizer que, se por um lado os culpados poderiam ser tratados, por outro a sua condição
não era curável; na verdade, até o próprio tratamento nem sempre era bem sucedido.
Por conseguinte o regresso ao ministério não era uma opção. Para ilustrar a complexidade
da questão, levantei a questão de um culpado que tinha sido ele mesmo abusado, e tendo
em mente um caso particular opinei de que ele precisaria mais de tratamento que de
punição. E aí é quando o problema começou. Agora eu sou acusado de ter dito que
a pedofilia é uma condição ou desordem mental e não um crime. Pelo menos por duas
vezes eu disse que eu não era qualificado de dizer o que é a pedofilia, mas isto passou
despercebido no calor da discussão. A questão principal era e ainda é: o abuso
sexual a menores é um crime horrendo entre outras coisas por causa do dano que faz
à criança. Na mesma preocupação eu incluo o abusado que se tornou abusador. Se
ele precisa (ou não) de ajuda médica, tanto quanto se não mesmo mais que de punição,
é uma questão que ainda deve ser respondida pelos especialistas médicos. Será que
o dano sofrido pelo abusado afecta de algum modo a sua culpabilidade perante uma lei
do tribunal? E ainda, só os especialistas nos podem dar uma resposta. Eu não estou
qualificado, mas será que não tenho o dever de perguntar no lugar do abusador abusado? Depois
do programa chamei Stephen no Sábado mas sem sucesso. Pelas 23.30h alguém da “Radio
5 em Directo” telefonou para dizer que eu podia ir ao Programa para esclarecer a questão.
Isso foi feito, mas sem demasiado sucesso visto que a entrevista mais uma vez se transformou
num interrogatório. Pedi para falar com um superior e protestar formalmente sobre
a decepção de ter sido perguntado sobre a eleição quando a agenda era o abuso à criança.
O chefe da Redacção Paul pôs-me em comunicação com Philo que me deu a oportunidade
de ouvir o clip gravado pouco antes e fez ulteriores esclarecimentos. Enquanto
faço esta declaração para dar o contexto à entrevista e também àquilo que a Igreja
agora está a fazer contra os abusos sexuais a menores, peço desculpas sinceramente
e sem reservas àqueles que se sentiram ofendidos pela improvisada entrevista, e sobretudo
àqueles que foram abusados e precisam de toda a ajuda e apoio que a Igreja pode dar.