Rio de Janeiro (RV) - Estamos nos aproximando da Semana Santa. O tempo da Quaresma,
como caminhada de conversão e penitência rumo à Páscoa, tem como um belo e importante
sinal visível dessa caminhada de “metanóia” a celebração do sacramento da Penitência.
Somos chamados a fazer a experiência da misericórdia de Deus em nossas vidas. Para
isso, somos iluminados pela Palavra de Deus e a ação do Espírito Santo para que, aprofundando
a nossa realidade de pecado, experimentemos ainda mais a graça que nos vem pelo amor
derramado em nossos corações em Jesus Cristo, nosso Senhor. O pecado é o ato voluntário
de quem se afasta da comunicação com a graça divina. Mas o sacramento da Reconciliação,
ou Confissão, como também se pode chamar, vem reatar os laços da pessoa com Deus.
Quando Jesus inicia sua vida pública anuncia um convite à penitência: “porque o Reino
de Deus está próximo”. Isto já se dá no momento do seu batismo, e, convida o precursor,
São João Batista, para que continue nesta pedagogia divina. Sabemos que as consequências
do pecado vão longe, não só em nossas vidas, mas também na própria vida social. A
Penitência é a ação que nos conduz a uma vida nova e a viver em oração e fidelidade
ao Evangelho e, por isso, somos chamados a uma vida de conversão para prevenir contra
as faltas no futuro. Podemos ver nas cartas paulinas quão inúmeras vezes o Apóstolo
Paulo exorta as comunidades à reconciliação. Vale lembrar das consequências do pecado
na vida da pessoa humana, nos relacionamentos e no próprio tecido social. A Igreja
recomenda confessar-se pelo menos pela Páscoa da Ressurreição, mas este sacramento
deve ser buscado sempre que houver alguma transgressão à Lei Divina. Ou seja, pelo
exame de consciência o ser humano saberá da necessidade de buscar a reconciliação.
Quanto mais somos iluminados pela Palavra e quanto mais perto do Senhor, mais enxergamos
nossos pecados. Deus não condena o pecador, mas, repudia o pecado. Basta recordar
o capítulo 15 de São Lucas e tantos outros trechos do Evangelho que nos falam da alegria
do pecador arrependido. Deus é sempre justo e misericordioso, e como Pai bondoso sempre
espera o retorno de seu filho amado, obra de Sua vontade para você existir no mundo.
Lembre-se: você é querido, amado e pensado por Deus! O retorno ao amor de Deus transforma
os corações, os pensamentos e comportamentos daquele que caminha como uma nova pessoa
deixando para trás tudo o que fazia parte do velho homem. Pela razão e pela fé
vemos no pecado o pior dos males, por isso há a necessidade de conversão e reconciliação
na busca do sacramento da Confissão, que religa a alma humana à graça divina. Na prática,
após a confissão, o penitente deve ter a clara consciência de suas atitudes e/ou lugares
que põem sua alma em risco. A nova vida o leva a ter novas atitudes. Às vezes acontece
que uma confissão regular, mensal, por exemplo, o “penitente” pode ficar preso em
um impasse. Isso ocorre como se nota que na confissão a rotina dos pecados é a mesma.
Ele tem uma boa vontade, ele vê seus pecados, sempre se arrepende, e decide melhorar.
E até agora nada. Cada vez é a mesma coisa. Esta situação pode causar frustração.
Pois nada realmente mudou na minha vida espiritual? E o penitente se questiona: Eu
sou moralmente tão corrupto? Ou talvez eu seja apenas um que não sirvo para nada?
Cada momento é uma nova oportunidade de caminhada na direção à comunhão com Deus
e com os irmãos e irmãs. Torna-se necessário rever nosso estilo de vida. Encontrar
as raízes de nosso pecado. É importante rezar todos os dias e, para isso, é necessário
intimidade, um lugar que é o meu espaço pessoal para o encontro com Deus e comigo
mesmo. Tendo um lugar de oração é mais fácil manter a sua regularidade e o tempo de
meditação e reflexão. São Bento sempre dizia “Ora et labora”, que quer dizer:
“oração e trabalho!” E quem pode se esquecer do momento em que Jesus, pregado
na cruz dialoga com um famoso ladrão também pregado ao lado dele? “Mestre, quando
estiver no Reino de Deus, lembra-se de mim!” e Jesus responde: “Ainda hoje
estarás no paraíso comigo!” Existe maior prova de amor e misericórdia que isto?
Mesmo sangrando e perfurado pelos pregos, lá na cruz, Jesus estende seu gesto de misericórdia.
Daí, podemos perceber como que de fato o amor de Deus se estende e sua misericórdia
transcende. E o soldado, aos pés da cruz que exclama: “Este Homem é de fato o Filho
de Deus!” Por isso, o rito da Confissão é um ato que leva à justiça para com
Deus, nos reincorpora com Jesus retomando a nossa veste batismal, pois somos unidos
como ramos à videira pelo próprio sacramento do Batismo. Caríssimos, estamos já
bem próximos da Páscoa do Senhor. Em todo o mundo é um período privilegiado para a
aproximação ao sacramento da confissão. Não deixe de visitar sua paróquia ou comunidade
e verificar o calendário dos mutirões de confissão. Reconciliação com Deus neste sacramento
é o abraço Dele de acolhida como filho ou filha. Sinta depois disso o alívio em seu
coração e comungue com leveza de coração! Santa Páscoa a todos! Rezem pela nossa
santa Igreja e pelo nosso Papa Francisco neste novo período que iniciamos. Deus dê
a todos uma santa continuação da Quaresma e os abençoe! † Orani João Tempesta,
O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ