"Os demónios da Europa estão apenas adormecidos" - afirma Jean Claude Juncker, ex-presidente
do Eurogrupo
Jean-Claude Juncker, primeiro-ministro do Luxemburgo, foi presidente do Eurogrupo
durante oito anos, até há dois meses. Numa entrevista ao semanário alemão Der Spiegel
desta semana, citada pelo jornal Público diz que os velhos demónios que no passado
levaram países europeus a entrar em guerra “não desapareceram”. “[Os demónios] estão
apenas adormecidos, como as guerras na Bósnia e no Kosovo mostraram”, diz. E confessa
que o assusta ver as semelhanças entre as circunstâncias da Europa de há 100 anos
e o contexto actual europeu. Juncker enumera exemplos de recentes episódios que
deixaram “feridas profundas” ou que o chocaram: a forma como alguns políticos alemães
atacaram a Grécia quando o país entrou em crise e os cartazes em protestos de rua
em Atenas mostrando Angela Merkel de uniforme nazi. “Sentimentos que pensávamos estar,
enfim, relegados para o passado vieram à superfície”, diz Juncker. Concorda que
ninguém duvida seriamente que existe paz e amizade na Europa mas também avisa: “Quem
pensar que a eterna questão da guerra e da paz na Europa é uma questão que desapareceu
para sempre, pode estar muito enganado.” Juncker encontra hoje a mesma “complacência”
baseada na “ideia de que a paz está garantida para sempre” que existia há 100 anos,
em vésperas da I Guerra Mundial. "Arrepia-me ver como são semelhantes as circunstâncias
da Europa em 2013 e as de há 100 anos." “Em 1913, muitas pessoas acreditavam que
nunca mais haveria uma guerra na Europa. As grandes potências do continente tinham
fortes ligações económicas e a convicção geral era a de que simplesmente não podiam
permitir-se entrar em conflitos militares.” O ex-líder do Eurogrupo diz que a razão
de ser da “união monetária sempre foi consolidar a paz”. Mas lamenta ver hoje como
“demasiados europeus estão a voltar a um espírito regional ou nacional”. Europa
em perda no mundo Por outro lado, sobre a perda de influência de uma Europa em
crise, considera que apenas “unida” a Europa poderá continuar a contar para o mundo.
Os sinais são vários: em meados deste século, a Europa só terá 7% da população mundial
e, já hoje, mais de 80% do crescimento económico é referente as outras regiões do
globo, diz Juncker. “Uma Europa unida é a única hipótese de o nosso continente
não ser excluído do radar do mundo”, diz. E acrescenta: “Os chefes do Governo da Alemanha,
França e Reino Unido também sabem que a sua voz só é ouvida internacionalmente porque
falam através do megafone da União Europeia.” Aos 58 anos, aquele que foi uma espécie
de "presidente informal da união monetária europeia”, não revela a ambição de chegar
a um outro lugar de na União Europeia, mas diz excluir a hipótese de suceder a Herman
Van Rompuy no cargo de presidente do Conselho Europeu. Tem a certeza absoluta sobre
isso porque diz que, para ele, não faria sentido assumir um cargo que poderia ter
assumido em 2009, quando vários chefes de Estado e de Governo o abordaram para o fazer
mas “aparentemente algumas pessoas” não o quiseram. A chanceler alemã Angela Merkel?
O então Presidente francês Nicolas Sarkozy? Nesta questão em particular, Jean-Claude
Juncker não respondeu ao jornalista da Der Spiegel.