2013-03-12 12:57:24

Missa "pro eligendo Pontifice" - Homilia do Card. Angelo Sodano, Decano do Colégio Cardinalício (Basílica São Pedro, 12 março 2013)


Queridos Concelebrantes, distintas Autoridades, Irmãos e Irmãs no Senhor!

"Cantarei, eternamente, as bondades do Senhor" é o canto que mais uma vez ressoou junto ao túmulo do Apóstolo Pedro nesta ora importante da história da Santa Igreja de Cristo. São as palavras do Salmo 88 que afloraram em nossos lábios para adorar, agradecer e suplicar ao Pai que está nos Céus. "Misericordias Domini in aeternum cantabo": é o bonito texto latino, que nos introduziu na contemplação d'Aquele que sempre vela com amor a sua Igreja, sustentado-a em seu caminho ao longo dos séculos e vivificando-a com o seu Espírito Santo.
Também nós hoje com tal atitude interior queremos oferecer-nos com Cristo ao Pai que está nos Céus para agradecer-lhe pela amorosa assistência que sempre reserva à sua Santa Igreja e em particular pelo luminoso Pontificado que nos concedeu com a vida e as obras do 265º
Sucessor de Pedro, o amado e venerado Pontífice Bento XVI, ao qual neste momento renovamos toda a nossa gratidão. (aplausos)
Ao mesmo tempo hoje queremos implorar do Senhor que mediante a solicitude pastoral dos Padres Cardeais queira em breve conceder outro Bom Pastor à sua Santa Igreja. Certamente, auxilia-nos nesta ora a fé na promessa de Cristo sobre o caráter indefectível da sua Igreja. De facto, Jesus disse a Pedro: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela" (cfr. Mt 16,18).
Meus irmãos, as leituras da Palavra de Deus que acabamos de ouvir podem nos ajudar a
compreender melhor a missão que Cristo confiou a Pedro e a seus Sucessores.

1. A mensagem do amor

A primeira leitura repropôs-nos um célebre oráculo messiânico da segunda parte do livro
de Isaías, aquela parte que é chamada "o Livro da consolação" (Is 40-66). É uma profecia
dirigida ao povo de Israel destinado ao exílio na Babilônia. Deus anuncia para o povo de Israel
o envio de um Messias cheio de misericórdia, um Messias que poderá dizer: "O espírito do
Senhor repousa sobre mim... enviou-me a levar a boa nova aos humildes, curar os corações
doloridos, anunciar aos cativos a redenção, aos prisioneiros a liberdade, proclamar um ano de
graças da parte do Senhor" (Is 61,1-3)
O cumprimento de tal profecia realizou-se plenamente em Jesus, vindo ao mundo para tornar presente o amo do Pai pelos homens. É um amor que se faz notar particularmente no contato com o sofrimento, a injustiça, a pobreza, com todas as fragilidades do homem, tanto físicas quanto
morais. É conhecida, a esse propósito, a célebre Encíclica do Papa João Paulo II "Dives in misericordia", que acrescentava: "o modo e o âmbito em que se manifesta o amor são chamados
na linguagem bíblica «misericórdia» (Ibidem, n. 3).
Esta missão de misericórdia foi confiada por Cristo aos Pastores da sua Igreja. É uma missão
que empenha todo sacerdote e bispo, mas empenha ainda mais o Bispo de Roma, Pastor da Igreja
universal. De fato, Jesus disse a Pedro: "Simão, filho de João, amas-me mais do que estes?...
Apascenta os meus cordeiros" (Jo 21,15). É conhecido o comentário de S. Agostinho a essas
palavras de Jesus: "seja, portanto, missão do amor apascentar o rebanho do Senhor"; "sit amoris
officium pascere dominicum gregem" (In Iohannis Evangelium, 123, 5; PL 35, 1967).
Na realidade, é este amor que impele os Pastores da Igreja a realizar a sua missão de serviço
aos homens de todos os tempos, do serviço caritativo mais imediato até o serviço mais alto, o
serviço de oferecer aos homens a luz do Evangelho e a força da graça.
Assim o indicou Bento XVI na Mensagem para a Quaresma deste ano (cfr. N. 3). De fato,
lemos em tal mensagem: "De fato, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à
solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de
caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra». Não há ação mais
benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de
Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus:
a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana. Como escreveu o Servo
de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressio, o anúncio de Cristo é o primeiro
e principal fator de desenvolvimento (cf. n. 16)".

2. A mensagem da unidade

A segunda leitura é extraída da Carta aos Efésios, escrita pelo Apóstolo Paulo justamente
nesta cidade de Roma durante a sua primeira prisão (anos 62-63 d.C.).
É uma leitura sublime na qual Paulo apresenta o mistério de Cristo e da Igreja. Enquanto a
primeira parte é mais doutrinal (cap. 1-3), a segunda, onde se insere o texto que ouvimos, é de
tom mais pastoral (cap. 4-6). Nesta parte Paulo ensina as conseqüências práticas da doutrina
apresentada antes e começa com um forte apelo à unidade eclesial: "Exorto-vos, pois –
prisioneiro que sou pela causa do Senhor – que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes
chamados, com toda a humildade, mansidão, e paciência. Suportai-vos caridosamente uns aos
outros. Esforçai-vos por conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4,1-3)".
S. Paulo explica em seguida que na unidade da Igreja existe uma diversidade de dons,
segundo a multiforme graça de Cristo, mas essa diversidade está em função da edificação do
único corpo de Cristo: "A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas,
pastores, doutores, visando o aperfeiçoamento dos cristãos, e o trabalho na obra da construção
do corpo de Cristo" (cfr. 4,11-12).
É justamente para a unidade do seu Corpo Místico que Cristo em seguida enviou o seu
Espírito Santo e, ao mesmo tempo, estabeleceu os seus Apóstolos, entre os quais Pedro tem a
primazia como o fundamento visível da unidade da Igreja.
Em nosso texto São Paulo ensina-nos que também todos nós devemos colaborar para edificar a unidade da Igreja, porque para realizá-la é necessária "a colaboração de cada conexão,
segundo a energia própria de cada membro" (Ef 4,16). Todos nós, portanto, somos chamados
a cooperar com o Sucessor de Pedro, fundamento visível de tal unidade eclesial.

3. A missão do Papa

Irmãos e irmãs no Senhor, o Evangelho de hoje reconduz-nos à última ceia, quando o Senhor disse aos seus Apóstolos: "Este é o meu mandamento: que vós ameis uns aos outros, com eu vos amei" (Jo 15,12). O texto se une assim também à primeira leitura do profeta Isaías sobre o agir
do Messias, para recordar-nos que a atitude fundamental dos Pastores da Igreja é o amor. É
aquele amor que nos impele a oferecer a própria vida pelos irmãos. De fato, Jesus nos diz:
"ninguém tem um amor maior do que este: dar a vida pelos próprios amigos" (Jo 15,12).
A atitude fundamental de todo bom Pastor é, portanto, dar a vida por suas ovelhas (cfr Jo
10,15). Isto vale, sobretudo, para o Sucessor de Pedro, Pastor da Igreja universal. Porque quanto
mais alto e mais universal é o ofício pastoral, tanto maior deve ser a caridade do Pastor. Por isto
no coração de todo Sucessor de Pedro sempre ressoaram as palavras que o Divino Mestre dirigiu
um dia ao humilde pescador da Galileia: "Diligis me plus his? Pasce agnos meos... pasce oves
meas"; "Amas-me mais do que estes? Apascenta os meus cordeiros... apascenta as minhas
ovelhas!" (cfr. Jo 21,15-17).
No sulco deste serviço de amor pela Igreja e pela humanidade inteira, os últimos Pontífices
foram artífices de muitas iniciativas benéficas também para os povos e a comunidade
internacional, promovendo sem cessar a justiça e a paz. Rezemos para que o futuro Papa possa
continuar esta incessante obra em nível mundial.
Ademais, este serviço de caridade faz parte da natureza íntima da Igreja. Recordou-nos isso
o Papa Bento XVI dizendo-nos: "também o serviço da caridade é uma dimensão constitutiva da
missão da Igreja e é expressão irrenunciável da sua própria essência" (Carta apostólica em forma
de Motu proprio Intima Ecclesiae natura, 11 de novembro de 2012, proêmio; cfr. Carta Encíclica
Deus caritas est, n.25).
É uma missão de caridade que é própria da Igreja, e de modo particular é própria da Igreja
de Roma, que, segundo a bela expressão de S. Inácio de Antioquia, é a Igreja que "preside à
caridade"; "praesidet caritati" (cfr. Ad Romanos, praef.: Lumen gentium, n. 13).
Meus irmãos, rezemos a fim de que o Senhor nos conceda um Pontífice que realize com
coração generoso tal nobre missão. É o que Lhe pedimos por intercessão de Maria Santíssima,
Rainha dos Apóstolos, e de todos os Mártires e Santos que ao longo dos séculos deram glória a
esta igreja de Roma. Amém!









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