Cidade do Vaticano (RV) – Exatamente um mês atrás, Bento XVI surpreendeu o
mundo com o anúncio de sua renúncia ao ministério petrino.
O Papa estava reunido
com os cardeais para um Consistório público de algumas causas de canonização, quando
então anunciou em latim:
“Caríssimos Irmãos, convoquei-vos para este Consistório
não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão
de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente
a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido
à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino.
(...) Para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também
o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo
de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem
o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato,
com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor
de São Pedro.”
O anúncio pegou de surpresa inclusive a maioria dos cardeais
presentes, entre eles o Card. João Braz de Aviz, que se consultaram reciprocamente
para confirmar aquilo que tinham acabado de ouvir.
Dois dias depois, na missa
de Quarta-feira de Cinzas, Bento XVI pediu para vivermos essa Quaresma numa comunhão
eclesial mais intensa e palpável, superando individualismos e rivalidades – um sinal
humilde e precioso para aqueles que estão longe da fé ou são indiferentes.
Os
dias que se sucederam foram de despedida, de agradecimento, em que o próprio Papa
emérito falou francamente dos motivos que o levaram a tomar esta decisão.
“Nestes
últimos meses, senti que as minhas forças tinham diminuído, e pedi a Deus com insistência,
na oração, que me iluminasse com a sua luz para me fazer tomar a decisão mais justa,
não para o meu bem, mas para o bem da Igreja . Dei este passo com plena consciência
da sua gravidade e também novidade, mas com uma profunda serenidade de espírito. Amar
a Igreja significa também ter a coragem de fazer escolhas difíceis, dolorosas, tendo
sempre diante dos olhos o bem da Igreja e não a nós mesmos.”
Em seu último
dia de pontificado, Bento XVI recebeu os membros do Colégio Cardinalício, cumprimentando
pessoalmente cada um deles, prometendo desde já a incondicionada reverência e obediência
ao seu sucessor.
No final da tarde, foi de helicóptero para Castel Gandolfo,
onde reside temporariamente. Foi nessa cidade que Bento XVI fez seu último pronunciamento
público, afirmando a todos que agora é “simplesmente um peregrino que inicia a última
etapa da sua peregrinação nesta terra”.