2013-03-08 18:52:23

Tempo de Conclave


Rio de Janeiro (RV*) - A declaração da renúncia do Papa Emérito Bento XVI no último dia 11 de fevereiro, concretizada no dia 28 do mesmo mês, desencadeou uma grande onda de discussões na mídia sobre a Igreja Católica Apostólica Romana. Tanto pelo ineditismo do fato – uma renúncia do Papa – como pelo momento da história – as críticas sobre as posições da Igreja – fez com que fosse um dos fatos mais comentados dos últimos tempos. Até mesmo as notícias da segunda-feira do Carnaval carioca cederam ao momento eclesial.
Sem dúvida que isso reflete o quanto a Igreja Católica desperta interesse pelo mundo e em todas as mídias. Creio que é um momento muito importante de uma reflexão e aprofundamento sobre a maneira como somos vistos e como nós mesmos nos vemos. Em resumo: a famosa pergunta de Jesus para seus discípulos: “quem dizem os homens que eu sou?” e depois, e para vocês, “quem sou eu?”
As datas e o modo como a Igreja procede neste momento já foram amplamente divulgados por todos os meios de comunicação. Portanto, não entrarei nesses detalhes.
Os cardeais estão reunidos nas Congregações Gerais durante estes dias de pré-conclave, que, inclusive, já está às portas. E para a eleição do novo Sumo Pontífice, não só a Igreja Católica discute e reza, mas toda a sociedade se coloca também na expectativa. As opiniões não faltam (“quem dizem os homens que eu sou?”).
As pressões mais diversas ocorrem pela mídia em geral, procurando impor ideias, opções ou mesmo cercear participação. A Igreja, em sua milenar experiência, desde que se iniciaram as Congregações Gerais, sabe da importância da sua liberdade em escolher o Papa, por isso os cardeais já estão sob sigilo e sem contato com informações externas. Se no passado existiram exércitos que tentavam barrar cardeais para não participarem dos conclaves ou mesmo reis e imperadores que declaravam “exclusão” a cardeais para não poderem votar, hoje os tipos de exércitos e exclusões são outros, mas sempre com a mesma finalidade: tentar impor suas ideias e candidatos ao grupo de votantes.
As discussões sobre de qual região do mundo seria melhor que fosse o novo Bispo de Roma, sobre a idade, tipo de pensamento e experiência pastoral ou curial, qual seria o seu perfil, quais os problemas a enfrentar por primeiro, ou mesmo, qual seria seu “plano de governo” enchem a cada dia os espaços da mídia. Sem dúvida que hoje, com o advento da comunicação, esse espaço está sendo ocupado por estas discussões. Claro que, em meio a esse olhar, os vários grupos aproveitam para fazer repescagem de problemas do passado e ilustrar questões atuais para continuar tendo assuntos a explorar. Para nós, católicos, é um oportuno momento de reflexão, pois nos responde a pergunta: “o que dizem os outros quem sou?” E a essa pergunta, também é importante que meditemos um pouco como estamos sendo percebidos pelas pessoas “de fora” de nossas comunidades.
Porém, o Conclave verdadeiro é o que acontece em Roma, tanto na Sala do Sínodo, situada na “Aula” Paulo VI, como também na Capela Sistina e na “Domus” Santa Marta, onde estarão residindo os cardeais votantes. O que vemos é um momento divino e humano. De um lado tempo de oração pessoal, comunitária, pública. De outro lado discussões, exposições, discursos, reflexões sobre o estado atual da Igreja e o que o Espírito Santo ilumina para o futuro. Creio que para nós, católicos, esse segundo aspecto é que deve nos nortear nesses dias.
Nas Congregações Gerais, uma parte dos dias é destinada à oração especial pelo conclave, além das eucaristias e liturgia das horas. A partir desta semana, iniciaram-se em todas as paróquias, igrejas, capelas do mundo a celebração das missas “para eleição do Pontífice”, as horas santas nessa intenção, as vigílias de oração e outros momentos de meditação e reflexão sobre o momento presente, suplicando ao Senhor a graça de termos o quanto antes um Pastor que continue levando adiante a missão de Pedro, de confirmar os irmãos e irmãs na fé e apontar caminhos para a Igreja nos tempos atuais. Temos certeza de que o Senhor que até aqui nos conduziu entre águas tranquilas ou ondas de tempestade também nos conduzirá para o porto seguro, ou seja, para vivermos a nossa vida com o Senhor, testemunhando-O ressuscitado em nossa sociedade.
E é essa a pergunta que nós, católicos, somos chamados a fazer para nós mesmos: “para vocês, quem sou eu?” Nós acreditamos que é o Senhor que conduz a Igreja, que ele é o nosso Redentor e Salvador. E que nós somos aqueles que O seguem e servem ao Seu povo. Nós cremos e temos certeza que o Espírito Santo irá iluminar as mentes e vontades de nossos cardeais na escolha do novo sumo pontífice.
Problemas das mais variadas espécies sempre existiram, mas também sempre existiram muitos santos e profetas que levaram adiante a missão de serem sinais do caminho de todos nós: a santidade. Sabemos também que o Senhor quer que todos sejamos santos. E este tempo quaresmal é o belo momento de procurarmos a conversão a caminho da Páscoa. É nesse clima de Ano da Fé e da Juventude que nos movemos neste histórico 2013. Com confiança e com a certeza de que o Senhor é o pastor que nos conduz.
As celebrações e orações na intenção da eleição do Sumo Pontífice devem ser acompanhadas com os devidos esclarecimentos de fé ao nosso povo. É tempo de oração e confiança! É um momento marcante para a vida da Igreja! Nós participaremos com nossa unidade e meditando à luz da fé sobre todos esses acontecimentos. Será uma bela ocasião de afirmar que nós nos encontrarmos com o Senhor, o Filho de Deus, o Salvador do Mundo, Jesus Cristo, a quem anunciamos e pedimos para que sejamos sempre mais seus sinais para nossa sociedade em mudança e transformação.
Existem pelo menos dois conclaves: o da mídia e o dos cardeais. O da mídia nos ajuda a ver como nos percebem e nos veem. O dos cardeais nos convida a estar junto com o Senhor na oração, olhando com confiança o futuro da Igreja colocada nas mãos do Seu Senhor. É a experiência do cenáculo e de Pentecostes!
Que nos fortaleçamos ainda mais neste tempo de tantos sinais e caminhemos pressurosos para a Páscoa do Senhor: Ele ressuscitou, Ele está no meio de nós, Ele é nossa vida e salvação! É com essa certeza que caminhamos em meio aos desertos da história e do mundo, deixando-nos conduzir pela ação do Espírito Santo.

*Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ









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