Rio de Janeiro (RV*) - A declaração da renúncia do Papa Emérito Bento XVI no
último dia 11 de fevereiro, concretizada no dia 28 do mesmo mês, desencadeou uma grande
onda de discussões na mídia sobre a Igreja Católica Apostólica Romana. Tanto pelo
ineditismo do fato – uma renúncia do Papa – como pelo momento da história – as críticas
sobre as posições da Igreja – fez com que fosse um dos fatos mais comentados dos últimos
tempos. Até mesmo as notícias da segunda-feira do Carnaval carioca cederam ao momento
eclesial. Sem dúvida que isso reflete o quanto a Igreja Católica desperta interesse
pelo mundo e em todas as mídias. Creio que é um momento muito importante de uma reflexão
e aprofundamento sobre a maneira como somos vistos e como nós mesmos nos vemos. Em
resumo: a famosa pergunta de Jesus para seus discípulos: “quem dizem os homens que
eu sou?” e depois, e para vocês, “quem sou eu?” As datas e o modo como a Igreja
procede neste momento já foram amplamente divulgados por todos os meios de comunicação.
Portanto, não entrarei nesses detalhes. Os cardeais estão reunidos nas Congregações
Gerais durante estes dias de pré-conclave, que, inclusive, já está às portas. E para
a eleição do novo Sumo Pontífice, não só a Igreja Católica discute e reza, mas toda
a sociedade se coloca também na expectativa. As opiniões não faltam (“quem dizem os
homens que eu sou?”). As pressões mais diversas ocorrem pela mídia em geral, procurando
impor ideias, opções ou mesmo cercear participação. A Igreja, em sua milenar experiência,
desde que se iniciaram as Congregações Gerais, sabe da importância da sua liberdade
em escolher o Papa, por isso os cardeais já estão sob sigilo e sem contato com informações
externas. Se no passado existiram exércitos que tentavam barrar cardeais para não
participarem dos conclaves ou mesmo reis e imperadores que declaravam “exclusão” a
cardeais para não poderem votar, hoje os tipos de exércitos e exclusões são outros,
mas sempre com a mesma finalidade: tentar impor suas ideias e candidatos ao grupo
de votantes. As discussões sobre de qual região do mundo seria melhor que fosse
o novo Bispo de Roma, sobre a idade, tipo de pensamento e experiência pastoral ou
curial, qual seria o seu perfil, quais os problemas a enfrentar por primeiro, ou mesmo,
qual seria seu “plano de governo” enchem a cada dia os espaços da mídia. Sem dúvida
que hoje, com o advento da comunicação, esse espaço está sendo ocupado por estas discussões.
Claro que, em meio a esse olhar, os vários grupos aproveitam para fazer repescagem
de problemas do passado e ilustrar questões atuais para continuar tendo assuntos a
explorar. Para nós, católicos, é um oportuno momento de reflexão, pois nos responde
a pergunta: “o que dizem os outros quem sou?” E a essa pergunta, também é importante
que meditemos um pouco como estamos sendo percebidos pelas pessoas “de fora” de nossas
comunidades. Porém, o Conclave verdadeiro é o que acontece em Roma, tanto na Sala
do Sínodo, situada na “Aula” Paulo VI, como também na Capela Sistina e na “Domus”
Santa Marta, onde estarão residindo os cardeais votantes. O que vemos é um momento
divino e humano. De um lado tempo de oração pessoal, comunitária, pública. De outro
lado discussões, exposições, discursos, reflexões sobre o estado atual da Igreja e
o que o Espírito Santo ilumina para o futuro. Creio que para nós, católicos, esse
segundo aspecto é que deve nos nortear nesses dias. Nas Congregações Gerais, uma
parte dos dias é destinada à oração especial pelo conclave, além das eucaristias e
liturgia das horas. A partir desta semana, iniciaram-se em todas as paróquias, igrejas,
capelas do mundo a celebração das missas “para eleição do Pontífice”, as horas santas
nessa intenção, as vigílias de oração e outros momentos de meditação e reflexão sobre
o momento presente, suplicando ao Senhor a graça de termos o quanto antes um Pastor
que continue levando adiante a missão de Pedro, de confirmar os irmãos e irmãs na
fé e apontar caminhos para a Igreja nos tempos atuais. Temos certeza de que o Senhor
que até aqui nos conduziu entre águas tranquilas ou ondas de tempestade também nos
conduzirá para o porto seguro, ou seja, para vivermos a nossa vida com o Senhor, testemunhando-O
ressuscitado em nossa sociedade. E é essa a pergunta que nós, católicos, somos
chamados a fazer para nós mesmos: “para vocês, quem sou eu?” Nós acreditamos que é
o Senhor que conduz a Igreja, que ele é o nosso Redentor e Salvador. E que nós somos
aqueles que O seguem e servem ao Seu povo. Nós cremos e temos certeza que o Espírito
Santo irá iluminar as mentes e vontades de nossos cardeais na escolha do novo sumo
pontífice. Problemas das mais variadas espécies sempre existiram, mas também sempre
existiram muitos santos e profetas que levaram adiante a missão de serem sinais do
caminho de todos nós: a santidade. Sabemos também que o Senhor quer que todos sejamos
santos. E este tempo quaresmal é o belo momento de procurarmos a conversão a caminho
da Páscoa. É nesse clima de Ano da Fé e da Juventude que nos movemos neste histórico
2013. Com confiança e com a certeza de que o Senhor é o pastor que nos conduz. As
celebrações e orações na intenção da eleição do Sumo Pontífice devem ser acompanhadas
com os devidos esclarecimentos de fé ao nosso povo. É tempo de oração e confiança!
É um momento marcante para a vida da Igreja! Nós participaremos com nossa unidade
e meditando à luz da fé sobre todos esses acontecimentos. Será uma bela ocasião de
afirmar que nós nos encontrarmos com o Senhor, o Filho de Deus, o Salvador do Mundo,
Jesus Cristo, a quem anunciamos e pedimos para que sejamos sempre mais seus sinais
para nossa sociedade em mudança e transformação. Existem pelo menos dois conclaves:
o da mídia e o dos cardeais. O da mídia nos ajuda a ver como nos percebem e nos veem.
O dos cardeais nos convida a estar junto com o Senhor na oração, olhando com confiança
o futuro da Igreja colocada nas mãos do Seu Senhor. É a experiência do cenáculo e
de Pentecostes! Que nos fortaleçamos ainda mais neste tempo de tantos sinais e
caminhemos pressurosos para a Páscoa do Senhor: Ele ressuscitou, Ele está no meio
de nós, Ele é nossa vida e salvação! É com essa certeza que caminhamos em meio aos
desertos da história e do mundo, deixando-nos conduzir pela ação do Espírito Santo.
*Orani
João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio
de Janeiro, RJ