2013-03-08 18:59:40

Síria: catastrófica situação humanitária dos refugiados. Oiça o porta-voz do ACNUR


RealAudioMP3 São sempre numerosos os refugiados que fogem da violência. Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, trata-se de "um desastre em grande escala", com um milhão de sírios que deixaram o País, metade dos quais sendo crianças. Francesca Sabatinelli entrevistou Reem Alsalem, porta-voz do ACNUR no Líbano: RealAudioMP3
"O número das pessoas que se registaram, ou que ainda estão à espera de ser registadas, chegou hoje a um milhão. Nós sabemos, contudo, que o número dos sírios deve ser muito, muito maior do que isso, porque há muitos que ainda não chegaram ao local de registo ou que nunca serão registados. Aquilo que o Alto Comissariado fez, na verdade, foi tocar o alarme, porque esta situação é a pior crise humanitária causada pela guerra na Síria. Para além deste milhão de refugiados no estrangeiro, há quatro milhões de pessoas no interior da Síria - e estas são estimativas conservadoras - que precisam de assistência. Ora, se se adicionam quatro milhões de pessoas no interior da Síria ao milhão de pessoas que estão fora do País, estamos a falar de cinco milhões de pessoas, que representam 20% da população síria. E estas, como eu disse, são estimativas conservadoras, porque não temos acesso a muitas áreas da Síria. Tudo isso demonstra que chegámos num ponto crucial da crise síria."
Quais são as condições físicas e psicológicas destas pessoas?
"Devemos lembrar-nos que esta crise de refugiados diz respeito sobretudo a mulheres e crianças. Mais de 60% dos refugiados são mulheres e crianças: nós os recebemos nos pontos de passagem com a Jordânia, encontramo-los também poucos dias depois da sua chegada no Líbano ... O que vemos é realmente uma situação trágica. Muitos chegam feridos ou sofrem de graves problemas de saúde, vêm com a roupa que trazem no corpo, têm muito pouco dinheiro. Alguns viajaram vários dias e em situações de perigo, outros ficaram feridos por armas de fogo ao tentar escapar da Síria. Quando eles chegam, estão muito preocupados com os familiares que ficaram no País. As crianças, em particular, viram coisas que nenhuma criança daquela idade deveria ver: o assassinato de membros da família, a destruição das suas casas. É evidente o trauma que sofreram: molham a cama, são muito fechadas, não querem falar com ninguém e quando o fazem apresentam comportamentos agressivos. É uma situação realmente muito triste. Chegam sem saber o que o futuro reserva para eles: muitos não sabem por quanto tempo eles serão refugiados e não há ninguém que os possa apoiar. Encontrar alojamento nos Países de acolhimento é um grande desafio para eles. E’ claro, mais de 60% dos refugiados vivem fora dos campos e eu vi com os meus próprios olhos mais de 20 famílias a se aglomerarem num único edifício, em condições higiénico-sanitárias muito precárias, tanto no Líbano como na Jordânia. Dito isto, devemos também recordar que as comunidades do Líbano e da Jordânia foram de uma generosidade extrema, abrindo as suas casas às famílias e partilhando os seus pobres recursos, o pão e a água, com as famílias sírias. Provavelmente, porém, tudo isto não poderá levar a comunidade internacional a perceber que esta não pode ser uma situação sustentável: se estas condições se prolongarem, sem fundos adequados, a Jordânia, o Líbano, e até mesmo a Turquia e Iraque - que também têm os seus problemas - não serão capazes de manter as suas fronteiras abertas e entrarão em colapso diante de tal pressão".
E isto será o resultado da falta de financiamentos?

" Exactamente. Em Dezembro de 2012, as Nações Unidas e as Organizações Não-Governamentais e as agências humanitárias pediram um bilhão de dólares para responder às exigências básicas dos refugiados até Junho. Infelizmente, deste bilhão de dólares que pedimos - o maior pedido de ajuda humanitária da história - só recebemos 25%. Alguma coisa está entrando, mas como lhe disse, esta catástrofe humanitária está crescendo num ritmo tão veloz que, para responder com a mesma velocidade, a comunidade internacional deveria contribuir com a mesma rapidez. Se hoje não conseguimos ter os fundos necessários, não seremos realmente capazes de enfrentar as exigências mais elementares. E quando digo "elementares", não estou a falar de operações humanitárias de grande luxo: falamos de poder fornecer os 20 litros de água, as 2.000 calorias de que as pessoas precisam, um cobertor, uma tenda. Se não conseguirmos outros fundos, deveremos até estabelecer prioridades entre os mais
vulneraveis e deixar de fora deste plano de emergencia todos os outros."







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