Síria: catastrófica situação humanitária dos refugiados. Oiça o porta-voz do ACNUR
São sempre numerosos
os refugiados que fogem da violência. Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados,
trata-se de "um desastre em grande escala", com um milhão de sírios que deixaram o
País, metade dos quais sendo crianças. Francesca Sabatinelli entrevistou Reem Alsalem,
porta-voz do ACNUR no Líbano: "O número das pessoas
que se registaram, ou que ainda estão à espera de ser registadas, chegou hoje a um
milhão. Nós sabemos, contudo, que o número dos sírios deve ser muito, muito maior
do que isso, porque há muitos que ainda não chegaram ao local de registo ou que nunca
serão registados. Aquilo que o Alto Comissariado fez, na verdade, foi tocar o alarme,
porque esta situação é a pior crise humanitária causada pela guerra na Síria. Para
além deste milhão de refugiados no estrangeiro, há quatro milhões de pessoas no interior
da Síria - e estas são estimativas conservadoras - que precisam de assistência. Ora,
se se adicionam quatro milhões de pessoas no interior da Síria ao milhão de pessoas
que estão fora do País, estamos a falar de cinco milhões de pessoas, que representam
20% da população síria. E estas, como eu disse, são estimativas conservadoras, porque
não temos acesso a muitas áreas da Síria. Tudo isso demonstra que chegámos num ponto
crucial da crise síria." Quais são as condições físicas e psicológicas destas pessoas? "Devemos
lembrar-nos que esta crise de refugiados diz respeito sobretudo a mulheres e crianças.
Mais de 60% dos refugiados são mulheres e crianças: nós os recebemos nos pontos de
passagem com a Jordânia, encontramo-los também poucos dias depois da sua chegada no
Líbano ... O que vemos é realmente uma situação trágica. Muitos chegam feridos ou
sofrem de graves problemas de saúde, vêm com a roupa que trazem no corpo, têm muito
pouco dinheiro. Alguns viajaram vários dias e em situações de perigo, outros ficaram
feridos por armas de fogo ao tentar escapar da Síria. Quando eles chegam, estão muito
preocupados com os familiares que ficaram no País. As crianças, em particular, viram
coisas que nenhuma criança daquela idade deveria ver: o assassinato de membros da
família, a destruição das suas casas. É evidente o trauma que sofreram: molham a cama,
são muito fechadas, não querem falar com ninguém e quando o fazem apresentam comportamentos
agressivos. É uma situação realmente muito triste. Chegam sem saber o que o futuro
reserva para eles: muitos não sabem por quanto tempo eles serão refugiados e não há
ninguém que os possa apoiar. Encontrar alojamento nos Países de acolhimento é um
grande desafio para eles. E’ claro, mais de 60% dos refugiados vivem fora dos campos
e eu vi com os meus próprios olhos mais de 20 famílias a se aglomerarem num único
edifício, em condições higiénico-sanitárias muito precárias, tanto no Líbano como
na Jordânia. Dito isto, devemos também recordar que as comunidades do Líbano e da
Jordânia foram de uma generosidade extrema, abrindo as suas casas às famílias e partilhando
os seus pobres recursos, o pão e a água, com as famílias sírias. Provavelmente, porém,
tudo isto não poderá levar a comunidade internacional a perceber que esta não pode
ser uma situação sustentável: se estas condições se prolongarem, sem fundos adequados,
a Jordânia, o Líbano, e até mesmo a Turquia e Iraque - que também têm os seus problemas
- não serão capazes de manter as suas fronteiras abertas e entrarão em colapso diante
de tal pressão". E isto será o resultado da falta de financiamentos?
" Exactamente.
Em Dezembro de 2012, as Nações Unidas e as Organizações Não-Governamentais e as agências
humanitárias pediram um bilhão de dólares para responder às exigências básicas dos
refugiados até Junho. Infelizmente, deste bilhão de dólares que pedimos - o maior
pedido de ajuda humanitária da história - só recebemos 25%. Alguma coisa está entrando,
mas como lhe disse, esta catástrofe humanitária está crescendo num ritmo tão veloz
que, para responder com a mesma velocidade, a comunidade internacional deveria contribuir
com a mesma rapidez. Se hoje não conseguimos ter os fundos necessários, não seremos
realmente capazes de enfrentar as exigências mais elementares. E quando digo "elementares",
não estou a falar de operações humanitárias de grande luxo: falamos de poder fornecer
os 20 litros de água, as 2.000 calorias de que as pessoas precisam, um cobertor, uma
tenda. Se não conseguirmos outros fundos, deveremos até estabelecer prioridades entre
os mais vulneraveis e deixar de fora deste plano de emergencia todos os outros."