Santo Egídio: Conferência sobre religião e democracia no mundo árabe e na Europa.
Entrevista a Andrea Riccardi
"Religião e democracia no mundo árabe e na Europa", é o título do encontro organizado
em Roma pela Comunidade de Santo Egídio, no qual foi proposta uma análise muito aprofundada
sobre as "primaveras árabes", as exigências que movimentaram os povos e a fase pós-revolução.
Um momento de diálogo e confronto entre diferentes líderes religiosos e de partidos
islâmicos do Norte da África e do Médio Oriente. A necessidade do confronto, do
diálogo, para esclarecer e entender o que está acontecendo na bacia do Mediterrâneo.
"O mar da complexidade", define-o Andrea Riccardi, fundador de Santo Egídio e Ministro
da Cooperação Internacional e a Integração, que sublinha a necessidade de evitar qualquer
tipo de "simplificação" na interpretação de um mundo "complexo e feito de diversidades",
mesmo dentro de cada País. Como para dizer, "o mundo árabe não é, de facto, uma entidade
- acrescenta Riccardi – mas sim um mundo feito de especificidades". E é dessas especificidades
que se deve partir para olhar para o futuro com olhos diferentes. Os mesmos que nos
indicam a consciência de que "não se volta mais para trás". Na outra direcção existe,
porém, o perigo que se alimente o choque de civilizações e a estranheza, que por sua
vez produzem o medo, a incompreensão, a desconfiança. Todos efeitos negativos que
se abatem contra aquelas novas regras do mundo globalizado, feito de barreiras arrasadas
e de interconexões planetárias. "Daí a necessidade de insistir na amizade e conhecimento
– conclui Riccardi - falando a linguagem do intercâmbio e da discussão."
Andrea
Riccardi, fundador da Comunidade de Santo Egídio e Ministro da Cooperação Internacional
e da Integração, abriu os trabalhos destacando que não é possível fazer qualquer tipo
de "simplificação" na interpretação de um "mundo complexo e feito de diversidades".
Salvatore Sabatino o entrevistou: R. - A simplificação é uma grande limitação
nas representações dos mundos. Tivemos a grande simplificação do choque de civilizações:
hoje a grande realidade é, pelo contrário, a complexidade. A complexidade que nós
devemos representar da melhor maneira, creio eu, e o Mediterrâneo é o mar da complexidade,
da coexistência de religiões e etnias diferentes. - O mar, como dizia, da complexidade
onde se defrontam Países muito diferentes, muito complexos, até mesmo no seu interior:
talvez, é o caso de não vermos o mundo árabe como um todo, cada qual tem a sua própria
identidade ... R. - Perfeito. O mundo árabe é feito de histórias diferentes: há
algo que os une, mas há muitas coisas que dividem. São histórias diferentes: a Tunísia
é uma coisa, o Egipto é uma outra coisa. Eu creio que estas realidades diferentes,
nacionais, requerem uma atenção. Exigindo uma atitude de diálogo, mas também de firmeza
na defesa dos direitos humanos, dos direitos das minorias. Penso nas minorias cristãs,
penso nas mulheres … Eu creio que, apesar de todas as dificuldades enormes, hoje a
democracia está mais perto que dez anos atrás. - Apesar de todos estes Países
estarem a caminho de ... R. - Estão a caminho: nunca se atinge a democracia perfeita,
mas creio que a democracia perfeita ainda está muito longe. Porém "a caminho" é já
um facto positivo. Nós devemos estar presentes, culturalmente, politicamente, como
Igreja e como País. - Não acha que a costa norte do Mediterrâneo se colocou um
pouco para trás em relação àquilo que sucedeu nos Países árabes? R. - Talvez sim,
mas tivemos a nossa crise, a nossa introversão, a nossa crise económica. – Existe
também uma crise de pensamento que leva a ver no outro apenas as diferenças? R.
- Na minha opinião, há uma crise de visão na Europa, uma crise de visão da nossa missão.