Jales (RV) - Do dia 28 de fevereiro, quinta-feira, às 20h de Roma, a Igreja
Católica está sem Papa. Efetivada a renúncia de Bento XVI, começa o período de “sede
vacante”. Está vago o cargo de Papa.
Tudo conforme ele mesmo tinha determinado,
no dia 11 de fevereiro, quando estabeleceu o dia e a hora exata em que ele deixaria
de exercer a missão de Papa.
De tal modo que toda a Igreja teve tempo de assimilar
a notícia da inesperada decisão, e contar com a segurança das disposições que entram
logo em vigor quando vem a faltar o papa.
Assim todos podemos ter segurança
e serenidade, sabendo que estão agora previstos todos os passos que vão levar à eleição
de um novo Papa, dentro de poucos dias.
Desta vez a situação foi inusitada.
Quando morria um Papa, estávamos acostumados a acompanhar o seu enterro, e agradecer
Deus o dom de sua vida, colocada a serviço da Igreja até o momento de sua morte.
Fomos
surpreendidos por uma inesperada decisão do Papa, que sentindo suas forças faltarem,
decidiu renunciar, para deixar o lugar a outro que pudesse cumprir esta pesada missão
com renovadas energias.
Desta maneira, não é que ele abandonou o barco, para
cair fora. Ao contrário, sentiu tanta responsabilidade pesando em seus ombros, que
achou mais acertado, para o bem da Igreja, renunciar à sua missão de Papa, para que
esta missão seja assumida por alguém em plenas condições de suportar o peso deste
cargo todo especial.
Com isto, de certa maneira, Bento XVI deu um claro recado
ao novo Papa. Seja quem for o eleito, ele poderá contar com o apoio de todos para
enfrentar “as questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca
de São Pedro e anunciar o Evangelho”, como ele mesmo falou no dia em que anunciou
sua renúncia.
Como todos já pudemos constatar, Bento XVI nos deixa um claro
e comovente testemunho de tantas virtudes, que o ajudaram a tomar esta decisão.
Foi
humilde para reconhecer sua fraqueza física.
Foi desprendido em deixar de lado
as honras e o poder do cargo que ocupava. Foi, sobretudo, responsável, comunicando
sua decisão, a tempo de todos assimilarem a notícia e assumirem suas responsabilidades.
Com
sua renúncia, Bento 16 nos deixa um comovente exemplo de total devotamento à missão
que Deus dá a cada um. Sua renúncia se assemelha a um grande retiro, onde ele poderá
agora se deter com mais serenidade, vinda de sua paz de consciência pelo dever cumprido,
e da abundante semeadura, que a seu tempo germinará e dará muitos frutos.
Pelo
inusitado da renúncia, o fato se revestiu de expectativas de mudanças na vida da
Igreja. Com seu gesto, Bento XVI acabou demonstrando que é possível provocar mudanças,
mesmo num aparato tão monolítico como se tornou a estrutura da instituição eclesial.
Parecia
que o impulso renovador do Vaticano II já tivesse se esgotado. De repente, a renúncia
de um papa acaba mostrando que é possível, sim, mudar muitas coisas, que o peso da
história parecia canonizar como imutáveis!
Nestes dias de sede vacante, estas
esperanças se concentram na pessoa do novo papa que vai ser eleito. Mas podemos alargá-las,
apostando nas iniciativas renovadoras que poderão contagiar a Igreja inteira, como
aconteceu com João 23.
Dom Demétrio Valentini, bispo de Jales (SP) e membro
da Caritas Brasileira