"Papa mostra grandeza do ministério petrino". Card. Ravasi prega Exercícios Espirituais
ao Papa e à Cúria Romana
Ouça aqui... Na homilia da
Missa de Quarta Feira de Cinzas, Bento XVI recordou que as divisões no corpo eclesial
desfiguram o rosto da Igreja. O Papa exortou a viver a Quaresma numa comunhão eclesial
mais intensa, superando individualismos e a rivalidades. São palavras particularmente
significativas nestes últimos dias de Pontificado, como comenta o Cardeal Gianfranco
Ravasi, Presidente do Pontifício Concílio para a Cultura, em entrevista ao nosso colega
da redação italiana Fabio Colagrande: R. – A surpresa, naturalmente, declararam-na
todos perante a surpresa. Devo dizer que senti sobretudo a admiração, porque o Papa
manifestou a grandeza da missão petrina, precisamente ao declarar que a sua fragilidade
física tornava este serviço mais difícil. Sob esta luz penso, pois, que se deve admirar
por aquilo que fez, em certo sentido, um acto teológico: demonstrou de maneira incisiva
o que é realmente o ministério petrino, exactamente no momento em que declarava que
já não era capaz fisicamente para poder continuá-la. R. – O facto de que
o ministério é um ministério e esta palavra que usamos, que praticamente foi transformada
em sentido também negativo pela tradição política, esta palavra tem no seu coração
o "minus", ou seja, o estar ao serviço de, o 'ser menos, não ser dominador. Uma pessoa
que é imperial e que exerce este poder, pode tê-lo na mão exclusivamente como sua
propriedade. Quando, porém, é um acto de ministério é preciso também ser capaz de
se tornar "minus", isto é, de se subtrair para deixar mais espaço a quem consegue
realizá-lo mais plenamente. O Cardeal Ravasi irá pregar a partir de amanhã
(dia 17) os exercícios espirituais da Quaresma para o Papa e a para a Cúria Romana,
exactamente por escolha de Bento XVI. Nesta contingência particular apresentou-nos
o seu estado de espírito para esta tarefa. R. – Devo dizer que que a emoção
é ultrapassada pelo menos por duas razões: a primeira porque o próprio Papa confirmou
estes exercícios, querendo-os quase como uma espécie de oásis de serenidade, depois
deste vendaval mediático, que ocorreu em consequência da sua opção. Sob este ponto
de vista será, pois, um momento de serenidade. Por outro lado, os exercícios são sempre
uma experiência de família, porque não estão presentes apenas os meus colegas, mas
também pessoas que fazem parte da vida quotidiana da Cúria Romana, e portanto da vida
quotidiana do Papa. E’ um mundo interno que tem uma função importante dentro da Igreja
e que se encontra num momento de silêncio, de reflexão. Provavelmente nunca como neste
momento também a nossa comunidade, daqueles que estão mais próximos do Papa na colaboração,
precisam de ter este espaço absoluto, eu diria mesmo branco, em que se está sozinho
com a própria consciência e com Deus.