Marrocos: Sinagoga restaurada com recurso alemão e inaugurada por autoridade muçulmana
Fez (RV) - Uma sinagoga marroquina do século XVII, abandonada e transformada
numa fábrica de tapetes e depois num Centro de Box, foi restaurada e apresentada ao
público nesta quarta-feira, 13, numa emocionada cerimônia no Bairro Judeu da cidade
de Fez, graças a um financiamento da Alemanha.
Quem inaugurou a restaurada
Sinagoga Slat al Fassiyin foi o Primeiro-ministro marroquino, o muçulmano Abdelilah
Benkiran, acompanhado pelo Presidente do Parlamento alemão, Norbert Lambert. Também
participaram da cerimônia os ministros marroquinos do Interior e da Cultura, o Prefeito
da cidade de Fez (pertencentes a partidos diferentes) e expoentes da exígua comunidade
judia marroquina.
A cerimônia foi um hino à tolerância e ao multiculturalismo
que tem regido a convivência pacífica entre judeus e muçulmanos no Marrocos, durante
séculos.
Na primeira metade do século XX, cerca de 400 mil judeus viviam no
Marrocos, 28 mil somente na cidade de Fez, que contava com mais de 50 sinagogas. Atualmente,
dados generosos da maior comunidade judaica num país árabe, revelam que vivem apenas
3 mil judeus no Marrocos, a maioria em Casablanca. Na cidade de Fez, permanecem somente
50, a maioria idosos, "pois nosso filhos emigraram", revela o líder da comunidade
judaica em Fez, Armand Guigui.
Nas ruas do antigo Bairro Judeu, ao lado do
Palácio real - um símbolo da proteção que os reis marroquinos sempre deram aos judeus
- não existem mais casas habitadas por judeus, apenas alguns negócios de jóias, guiados
por anciãos. A Sinagoga de Slat al Fassiyin, localizada no final de uma pequena
viela, é considerada a 'mais autêntica', porque era a sinagoga utilizada pelos judeus
'de pura estirpe', com um ritual distinto dos judeus bérberes ou daqueles vindos da
Andaluzia, expulsos da Espanha.
O êxodo dos judeus do Marrocos aconteceu especialmente
após a criação do Estado de Israel e a independência do país do Magreb. As numerosas
sinagogas, assim como as escolas ou os centros sociais judeus, foram abandonados e
caíram no esquecimento.
Perla, um anciã judia de Casablanca, emigrada da França
e com raízes em Toledo, na Espanha, afirmou que "o Marrocos nos perdeu sem querer
fazê-lo e nós fomos embora sem querer", explicando a quase total saída de judeus do
país.
A Sinagoga de Slat Fassiyin abrigou um Centro de Box. Nas suas centenárias
vigas eram fixados os sacos onde os jovens do bairro exercitavam seus golpes, enquanto
o teto de madeira caía aos pedaços.
Graças aos esforços do falecido Simón Levy,
inquieto linguista, etnólogo, político comunista e pesquisador do patrimônio judeu,
foi possível salvar não somente esta sinagoga, mas diversos outros templos e cemitérios
judeus espalhados pelo Marrocos. Um filho de Levy, médico residente em Berlim,
teve a idéia de pedir ajuda ao Ministério do Exterior, que entendeu que o projeto
entrava na sua filosofia de salvaguarda do Patrimônio da UNESCO e a proteção do pluralismo,
como afirmou o embaixador alemão em Rabat, Michael Witter.
Aproveitando uma
visita ao Marrocos do Presidente do Parlamento alemão, foi tornada pública a restauração
do templo construído em estilo arquitetônico puramente marroquino, mesmo que as estrelas
de Davi presentes nos muros indiquem que não seja um templo muçulmano.
Contudo,
devido à falta de judeus para usar o templo como local oração, ele se tornará um museu
ou um centro cultural. E os judeus que permanecem em Fez, reconhecem a proteção dos
reis alawis, seu apego a suas raízes marroquinas, a tolerância e o pluralismo no Marrocos,
mas também que os anos áureos da Sinagoga recém restaurada, permanecerão apenas na
memória. (JE)