Bento XVI ao Clero de Roma: "Obrigado por seu amor pela Igreja e pelo Papa"
Cidade do Vaticano (RV) - O Papa encontrou na manhã desta quinta-feira, na
Sala Paulo VI, no Vaticano, os párocos e o clero da Diocese de Roma. Bento XVI foi
acolhido com grande afeto e comoção, nas notas do canto "Tu es Petrus".
Sob
uma salva de palmas, Bento XVI agradeceu-lhes pelo amor que nutrem pela Igreja e por
sua pessoa.
"Para mim é um dom especial da Providência, disse o Papa, que
antes de deixar o ministério petrino possa ver mais uma vez o meu clero, o clero de
Roma. Eu sou muito grato por suas orações", disse o pontífice acrescentando: "Não
obstante a minha retirada, estarei sempre próximo a vocês com a oração e tenho certeza
de que também vocês estarão próximos a mim, mesmo que para o mundo eu permaneça escondido".
Bento
XVI afirmou que, devido a suas condições, não pôde preparar um grande, verdadeiro
discurso, como se poderia esperar, mas pensou em fazer uma pequena conversa sobre
o Concílio Vaticano II. O Papa falou sobre a expectativa vivida naquele momento.
"Fomos
ao Concílio não somente com alegria, mas com entusiasmo. Havia uma expectativa incrível.
Esperávamos que tudo se renovasse, que realmente chegasse um novo Pentecostes, uma
nova era da Igreja. Sentia-se que a Igreja não ia para frente, mas que parecia uma
realidade do passado e não portadora do futuro", frisou o pontífice.
Bento
XVI recordou que "naquela época via-se que a relação entre a Igreja e o período moderno,
desde o início, era um pouco contrastante, começando com o erro no caso de Galileu,
e se pensava em corrigir este início errado e encontrar uma nova relação entre a Igreja
e as melhores forças no mundo, para abrir o futuro da humanidade, para abrir o verdadeiro
progresso. Éramos cheios de esperança, entusiasmo e vontade de fazer a nossa parte
para que isso acontecesse", subinhou.
Santo Padre lembrou as idéias essenciais
do Concílio: "o mistério pascal como centro da existência cristã e, portanto, da vida
cristã, expresso no tempo pascal e no domingo que é sempre o dia da Ressurreição.
Sempre começamos o nosso tempo com a Ressurreição, com o encontro com o Ressuscitado".
"Neste
sentido é lamentável que hoje se tenha transformado o domingo em fim de semana, enquanto
é o primeiro dia, é o início: "interiormente, devemos considerar isto, é o início,
início da Criação, é o início da re-criação da Igreja, encontro com o Criador e com
o Cristo Ressuscitado", disse ainda Bento XVI.
O Papa destacou a importância
deste duplo conteúdo do domingo: "é o primeiro dia, ou seja, festa da Criação, enquanto
acreditamos no Deus Criador, e encontro com o Ressuscitado que renova a Criação. O
seu verdadeiro objetivo é criar um mundo que é resposta ao amor de Deus".
Outras
idéias do Concílio foram os princípios de inteligibilidade da Liturgia. "Inteligibilidade
não significa banalidade, porque os grandes textos da liturgia não são facilmente
inteligíveis e precisam de uma formação permanente do cristão, para que cresça e entre
mais profundamente no mistério e possa compreender. Só uma formação permanente do
coração e da mente pode realmente criar inteligibilidade e uma participação que é
mais do que uma atividade exterior, que é um entrar da pessoa, do meu ser em comunhão
com a Igreja e assim em comunhão com Cristo", disse ainda o Papa.
Sobre o tema
eclesiológico, Bento XVI frisou que "a Igreja não é uma organização, algo estrutural,
jurídico e institucional, isso também, mas é um organismo, uma realidade vital, que
entra em minha alma, tornando-me elemento construtivo da Igreja como tal".
O
Concílio decidiu criar uma construção trinitária da eclesiologia: Povo de Deus-Pai-Corpo
de Cristo-templo do Espírito Santo. "É fruto do Concílio que o conceito de comunhão
se torna cada vez mais uma expressão do sentido da Igreja, comunhão em várias dimensões,
comunhão com o Deus Trinitário, que é comunhão entre o Pai, Filho e Espírito Santo,
comunhão sacramental, comunhão concreta no episcopado e na vida da Igreja", sublinhou
ainda o pontífice.
O Santo Padre recordou o confronto sobre o tema da colegialidade
e se deteve sobre o ecumenismo e diálogo inter-religioso abordado pelo Concílio, especialmente
no documento "Nostra Aetate". O Papa reiterou que "ainda há muito para fazer a fim
de chegar a uma leitura realmente no espírito do Concílio", cuja aplicação "ainda
não foi completada".
Na parte conclusiva de seu discurso, Bento XVI abordou
a questão do papel dos meios de comunicação. "Havia o Concílio dos Padres, o verdadeiro
Concílio, mas havia também o Concílio dos meios de comunicação que davam uma interpretação
política e não de fé do que estava acontecendo. Para a mídia, o Concílio era uma luta
política, uma luta pelo poder entre diferentes correntes na Igreja", destacou o Papa.
"Parece-me
que 50 anos depois do Concílio, vemos como este Concílio virtual se rompe, se perde
e aparece o verdadeiro Concílio com toda a sua força espiritual. É nossa tarefa, neste
Ano da Fé, trabalhar para que o verdadeiro Concílio, com a força do Espírito Santo
se realize e seja renovada a Igreja", concluiu Bento XVI. (MJ)