Rio de Janeiro (RV) - Com muita alegria, recebemos nesta semana nossos irmãos
no episcopado, para o 22º Curso para Bispos, no Centro de Estudos do Sumaré, aqui
no Rio de Janeiro. Os temas que motivaram os documentos do Concílio Vaticano II, nestas
comemorações dos seus 50 anos, continuaram a ser aprofundados. Neste ano, foi sobre
Liturgia e Leigos, com a presença dos cardeais que conduzem os respectivos dicastérios.
Sobre a missão da mulher leiga na Igreja e no mundo, falou-nos a responsável do Setor
Mulher do Pontifício Conselho para os Leigos. Também aproveitamos para aprofundar
o tema do Ano da Fé, e um irmão professor teólogo e Bispo do sul da Itália nos ajudou
na reflexão.
Nesta época do Ano da Juventude, estamos vivendo um tempo forte
na vida e missão da Igreja. Para as comemorações dos 50 anos do Concílio Vaticano
II e os 20 anos da promulgação do Catecismo da Igreja Católica, o Santo Padre Papa
Bento XVI convocou-nos a revisitar a eclesiologia conciliar com dois momentos marcantes:
O Ano da Fé e o Sínodo dos Bispos.
Assim se expressou o Papa na audiência geral
do dia 10/10/12, na Praça de São Pedro: "Penso também que devemos aprender a lição
mais simples e mais fundamental do Concílio: o Cristianismo em sua essência consiste
na fé em Deus, que é Amor trinitário, e no encontro pessoal e comunitário com Cristo,
que orienta e conduz a vida. Tudo o mais é consequência. O Concílio nos recorda que
a Igreja, em todos os seus componentes, tem o mandato de transmitir a palavra de amor
do Deus que salva, para que seja ouvida e acolhida a chamada divina que contêm em
si nossa felicidade eterna".
Com as experiências da semana que passamos com
os irmãos bispos aqui em nossa Arquidiocese, quero unir-me em ação de graças a todos
os demais, pela sua resposta de amor e fidelidade à Igreja. A nossa missão se fundamenta
na eclesiologia de serviço (diakonia) e de comunhão (koinonia), fundamentadas nas
bases cristológicas que o Vaticano II desenvolveu, e relacionou com Cristo servo-pastor-sacerdote-mestre
a doutrina do episcopado, restituindo à ordenação episcopal (LG21) o valor de um dom
específico decorrente da fonte pneumatológica (LG c.II), não mais restrito unicamente
ao momento eucarístico, mas aberto à missão: portanto, nós, os bispos, fomos ordenados
e consagrados para a missão (LG 22) .
A Igreja nos constituiu para o serviço
ministerial no episcopado como legítimos sucessores dos Apóstolos e membros do Colégio
Episcopal. Partícipes da solicitude de todas as Igrejas, exercem-na em comunhão e
sob a autoridade do Sumo Pontífice, no que se refere ao magistério e regime pastoral,
unidos todos em Colégio ou corpo, com relação à Igreja universal de Deus. Cada um
toma o cuidado da Igreja Particular que lhe foi confiada (CD.3) . Assim, para desempenharmos
um fecundo ministério episcopal, nós somos chamados a nos identificarmos com Cristo
de forma muito especial em nossa vida pessoal e no exercício do ministério apostólico,
de modo que o "pensamento de Cristo" (1Cor2, 16) penetre totalmente as nossas ideias,
nossos sentimentos e nossos comportamentos, e que a luz que irradia da face de Cristo
ilumine nossa missão.
O Bispo, é o princípio visível de unidade na sua Igreja,
é chamado a edificar incessantemente a Igreja particular na comunhão de todos os seus
membros, e destes com a Igreja universal, vigiando para que os diversos dons e ministérios
contribuam para a comum edificação dos crentes e para a difusão do Evangelho .
Vigário
do "grande Pastor das ovelhas" (Heb13, 20), o Bispo deve manifestar com a sua vida
e com o seu ministério episcopal a paternidade de Deus, a bondade, a solicitude, a
misericórdia, a doçura e a autoridade de Cristo, o qual veio para dar a vida e para
fazer de todos os homens uma só família, reconciliada no amor do Pai, e a perene vitalidade
do Espírito Santo que anima a Igreja e a apoia na sua debilidade humana. Esta índole
trinitária do ser e do agir do Bispo tem a sua raiz na própria vida de Cristo, que
é toda ela trinitária. Cristo é o Filho eterno e unigênito do Pai desde sempre no
seu seio (Jo1, 18) e o ungido do Espírito Santo, enviado ao mundo (cf. Mt11, 27 ;
Jo15, 26 ; 16, 13-14).
Entre as diversas imagens, a do pastor ilustra com particular
eloquência o conjunto do ministério episcopal, na medida em que manifesta o seu significado,
o seu fim, o seu estilo, o seu dinamismo evangelizador e missionário do ministério
pastoral do Bispo na Igreja. Cristo Bom Pastor indica a quotidiana fidelidade à própria
missão, a plena e serena dedicação à Igreja, a alegria de conduzir até o Senhor o
Povo de Deus que lhe é confiado, e a felicidade por acolher na unidade da comunhão
eclesial todos os filhos de Deus dispersos (cf. Mt15, 24; 10, 6). Na contemplação
do ícone evangélico do Bom Pastor, o Bispo descobre o sentido do constante dom de
si mesmo, recordando que o Bom Pastor ofereceu a vida pelo rebanho (cf. Jo10, 11)
e veio para servir e não para ser servido (cf. Mt 20,28), como também aí encontra
a fonte do ministério pastoral para o qual as três funções de ensinar, santificar
e governar devem ser exercidas com os traços característicos do Bom Pastor.
A
colegialidade afetiva faz do Bispo um homem que nunca está só porque está sempre e
continuamente com os seus irmãos no episcopado e com aquele que o Senhor escolheu
como sucessor de Pedro. A colegialidade afetiva exprime-se como colegialidade efetiva
no Concílio Ecumênico ou com a ação conjunta dos bispos espalhados pelo mundo, promovida
pelo Pontífice Romano ou aceite por ele, de modo que aconteça um verdadeiro ato colegial.
O afeto colegial, que não é um mero sentimento de solidariedade, efetua-se em graus
diferentes, cujos atos possam ter consequências jurídicas. Este afeto concretiza-se
de várias formas como, por exemplo, o Sínodo dos Bispos, a Visita ad limina, a inserção
dos Bispos diocesanos nos Dicastérios da Cúria Romana, a colaboração missionária,
os concílios particulares, as conferências episcopais, o empenho ecumênico ou o diálogo
inter-religioso .
Com a consagração episcopal, o Bispo recebe uma especial
efusão do Espírito Santo que o configura de forma muito especial com Cristo, Chefe
e Pastor. O mesmo Senhor, "bom mestre" (Mt 19, 16), "sumo sacerdote" (Hb 7, 26) "bom
pastor que oferece a vida pelas ovelhas" (Jo 10, 11), gravou o seu rosto humano e
divino, a sua semelhança, o seu poder e a sua virtude no Bispo.
O Bispo terá
sempre presente que a sua santidade pessoal nunca se fixa a um nível apenas subjetivo,
mas transborda na sua eficácia em benefício dos que foram confiados ao seu cuidado
pastoral. O Bispo deve ser uma alma contemplativa, além de homem de ação, de modo
que o seu apostolado seja um "contemplata aliistradere". O Bispo, convencido de que
nada pode fazer sem o "estar com Cristo", deve ser um apaixonado do Senhor. Além disso,
não esquecerá que o exercício do ministério episcopal, para ser credível precisa da
autoridade moral e da respeitabilidade que procede da santidade de vida, que sustentam
o exercício do poder jurídico.
Essas reflexões nesta semana particularmente
preciosa para nossa unidade, pois as conferências e partilhas nos ajudam ainda mais
em uma vivência fraterna e de comunhão, nos animam a nos apoiar mutuamente e a caminharmos
com coragem neste tempo de tantos desafios para a missão a nós confiada pelo Senhor.
Que
em atenção ao Ano da Fé, da Juventude, das conclusões do Sínodo dos Bispos e às portas
da Quaresma e Campanha da Fraternidade possamos viver a fidelidade de nosso ministério
episcopal no favorecimento e fortalecimento da colegialidade episcopal.
Que
tenhamos a luz do Divino Espírito e a intercessão da Virgem Maria, a Senhora Aparecida,
em nossa missão.
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ