Tunisia, foi assassinado o líder da oposição - islamistas rejeitam governo de salvação
O partido islamista Ennahda, principal parceiro da coligação no poder em Tunísia,
desautorizou o primeiro-ministro Hamadi Jebali, declarando-se contra a formação de
um Governo de salvação nacional, composto por tecnocratas, em resposta aos protestos
desencadeados pelo assassínio de um dos mais conhecidos dirigentes da oposição. Temendo
a repetição dos protestos da véspera, a polícia reforçou o dispositivo de segurança
na capital, segundo o jornal Público. Num anúncio inesperado, o primeiro-ministro
revelou terça-feira à noite que, para superar a actual crise política, decidiu “formar
um governo de competência nacional, sem pertenças partidárias, que terá um mandato
limitado à gestão dos assuntos correntes e à realização de eleições no mais breve
prazo”. Não revelou, porém, quando poderá o executivo ser formado. Jebali respondia,
assim, aos protestos que estalaram em mais de uma dezena de cidades após a notícia
da morte de Chokri Belaid, uma das vozes mais influentes da Frente Popular, a coligação
de partidos de esquerda criada em Outubro passado para ser alternativa ao Ennahda.
Os seus apoiantes responsabilizaram o partido no poder pelo homicídio, que aconteceu
pouco depois de Belaid ter acusado os islamistas de estarem na origem de uma vaga
de ataques contra a oposição. A proposta do primeiro-ministro parece ter sido bem
acolhida pela oposição. O antigo primeiro-ministro Beji Caid Essebsi, líder do partido
Nida Tounés (secular), falou numa “iniciativa positiva”, mas defende que “todo o Governo,
incluindo o primeiro-ministro, se deveria demitir”. Maya Jribi, líder do Partido Republicano,
insistiu que Jebali deve obter o acordo de todos os partidos na formação do governo
provisório. Mas sem o apoio do Ennahda dificilmente a iniciativa terá sucesso e
pode mesmo pôr em causa a continuação de Jebali à frente do actual Governo e a sobrevivência
da própria coligação. A crise deixa ainda mais incerta a aprovação de uma nova Constituição,
que está há 15 meses em discussão – o diploma precisa de ser aprovado por dois terços
dos deputados, mas as duas versões já apresentadas não conseguiram gerar consenso
e, sem uma nova Lei Fundamental, não será possível realizar novas eleições legislativas.
E o impasse agravará a contestação nas ruas, alimentada pela crise económica e a frustração
de milhares de jovens sem emprego. Para amanhã está previsto o funeral de Belaid
e até lá a polícia permanece em alerta. Na terça-feira, um agente foi morto nos confrontos
com manifestantes em Tunes, mas as manifestações estenderam-se ao Norte e à região
central, entre as mais pobres da Tunísia.