Roma (RV) - Durante a Segunda Guerra Mundial, não somente os judeus foram perseguidos
e mortos por motivos raciais. Quinhentos mil homens, mulheres e crianças, pertencentes
à população Rom e Sinti (estão entre os principais grupos étnicos da Romênia, também
conhecidos como ciganos, expressão que hoje tem um caráter pejorativo) foram perseguidos,
aprisionados e mortos pelos nazistas, exterminados nas câmaras de gás e nos fornos
crematórios na Europa, entre 1934 e 1945. Na Itália, como em tantos outros países,
esta tragédia ainda não tem um reconhecimento oficial.
Durante o ‘Dia da Memória’,
recordado no último domingo, 27, desenvolveu-se em Roma uma campanha de sensibilização
com o objetivo de combater o preconceito e os esteriótipos desta população marginalizada.
O
Diretor do Escritório Nacional Anti-discriminações Raciais, da Itália, Marco De Giorgi,
conversou com a Rádio Vaticano sobre este ‘Holocausto esquecido’:
“Nunca
se fala de um evento muito importante, que é o Porrajmos (n.d.r perseguição da
comunidade Rom e Sint). No Dia da Memória, recordamos que mais de meio milhão de
pessoas Rom foram exterminadas pelos nazistas. Isto, frequentemente, não é citado
nos livros e nos jornais. Nós recordamos disto pelo passado, mas na verdade, pensamos
também no futuro, isto é, em como e o que fazer para a inclusão social desta comunidade.
A única solução é reintroduzi-los entre nós, não relegá-los a um campo Rom ou simplesmente
criar pequenos espaços para eles, mas reintroduzi-los na sociedade e educá-los para
a cultura e para o trabalho”.
Com o uso da arte, da música e da cultura,
a campanha ‘Dosta’ (basta, em romeno) procura difundir o conhecimento da comunidade
Rom, Sinti e Andarilhos, através de diversas representações, mais atentas ao seu cotidiano
e envolvendo diretamente os interessados. Por ocasião do Dia da Memória, foram realizadas
no Museu Maxi, em Roma, mostras e concertos, além da exposição de produtos artesanais.
Tudo com o objetivo de recordar o Porrajmos e superar preconceitos.
O
músico e docente universitário de etnia em Roma Santino Spinellitambém conversou
com a Rádio Vaticano sobre a situação vivida pelos Rom:
“Nós queremos uma
Europa unida, solidária e sem discriminações. A Shoah acabou em 1945, o Porrajmos
dos Rom continua até agora. Os campos nômades não são nada mais nada menos que uma
herança da cultura nazifacista, daquela ferocidade dos campos de concentração que
deviam separar, anular a dignidade das pessoas, separá-las uma das outras. Isto contraria
qualquer lógica democrática, qualquer constituição e qualquer declaração universal
dos direitos humanos.”
Na Europa, Rom, Sinti e andarilhos são 12 milhões.
Na Itália cerca de 140 mil. Frequentemente vivem em condições difíceis, são objetos
de discriminação, mas são um povo rico de história e tradições, muito mais do que
nômades. 80% dos Rom e Sinti que vivem na Europa, não são nômades. Seguidamente se
fala da necessidade de encontrar solução ao problema da integração, mas quase nunca
se obtém, algum resultado. De onde se deve partir?
Quem responde é o Diretor
Espiritual do Seminário Romano maior, Padre Paolo Lojudice, que acompanha a comunidade
Rom da capital italiana:
“Creio que uma intervenção nesta situação deva
ser do cidadão comum, que deve pensar, refletir, colocar-se diante de algumas situações
presentes nesta realidade, diante de seus próprios olhos, próximas a sua própria casa,
procurando entender o que existe por trás disto, porque, infelizmente, sobretudo certas
populações ROM, estão muito ligadas ao esteriótipo de alguém que é delinquente e rouba.
Talvez conhecer, indo mais à fundo, signifique enfrentar melhor o problema, em toda
a sua complexidade.
"Porrajmos", em romeno, se traduz como “aniquilação,
destruição” dos zíngaros durante a Segunda Guerra Mundial. Assinalados por um triângulo
marrom e pela tatuagem de um “Z”, foram colocados em campos de concentração e usados
como cobaias e mortos. Algumas estimativas indicam que foram 500 mil mortos, sendo
250 mil apenas nos campos de concentração. Em 1945, no Tribunal de Nuremberg, os ‘zingaros’
não foram considerados como parte civil. Somente recentemente o governo alemão indenizou
sobreviventes zíngaros da atrocidade nazista. A Itália poderá ser um país que em breve
reconhecerá o Porrajmos. (JE)