Audiência: O amor de Deus não anula o sofrimento no mundo, mas nos ajuda a superá-lo
Cidade do Vaticano
(RV) – Quarta-feira é dia de Audiência Geral. Bento XVI recebeu milhares de fiéis
e peregrinos na Sala Paulo VI e em sua catequese propôs novamente a oração do Credo,
neste Ano da Fé.
Em especial, o Papa refletiu sobre a primeira e fundamental
definição que o Credo nos apresenta de Deus: Ele é Pai todo-poderoso, criador do céu
e da terra.
Nem sempre é fácil falar hoje de paternidade, disse o Papa. Sobretudo
no mundo ocidental, as famílias desagregadas, os compromissos de trabalho sempre mais
exigentes, as preocupações e frequentemente a dificuldade de enquadrar as contas familiares,
a invasão dos meios de comunicação de massa são alguns dos fatores que podem impedir
uma relação serena e construtiva entre pais e filhos.
Muitas vezes a comunicação
é difícil, falta confiança e a relação com a figura paterna pode se tornar problemática;
e problemático se torna imaginar Deus como um pai, não tendo modelos adequados de
referência. Quem teve a experiência de um pai demasiado autoritário e inflexível,
ou indiferente e pouco afetuoso, ou até mesmo ausente, non é fácil pensar com serenidade
a Deus como Pai e abandonar-se a Ele confiança.
Mas a revelação bíblica nos
ajuda a compreender esta relação paterna. Deus é Pai porque nos escolheu e abençoou
antes da criação do mundo; nos fez realmente seus filos em Jesus; porque acompanha
nossa existência, dando-nos sua Palavra, seus ensimanentos, sua graça e seu Espírito,
e porque podemos confiar em seu perdão quando erramos o caminho. Ele é um Pai bom,
que não abandona, mas que ampara, ajuda e salva com uma fidelidade que supera infinitamente
a dos homens. Ele nos deu seu Filho para que sejamos seus filhos e nos oferece o Espírito
Santo para que possamos chamá-lo «Abbá, Pai».
“Mas poderíamos nos perguntar:
como é possível pensar num Deus onipotente olhando para a Cruz de Cristo?”, questiona
o Papa.
Nós gostaríamos de uma onipotência divina segundo os nossos esquemas
mentais e nossos desejos: um Deus “onipotente” que resolva os problemas, que nos evite
qualquer dificuldade, que mude o andamento dos fatos e anule a dor.
Mas não
é assim. Sua grandeza como Pai onipotente se manifiesta plenamente sobre a cruz gloriosa
de seu Filho. Não é uma força arbitária que muda o rumo dos acontecimentos, mas que
se expressa na misericórdia, no perdão, no incansável chamado à coversão e numa atitude
de paciência, mansidão e amor.
No final da catequese, Bento XVI fez um resumo
da mesma em várias línguas, entre as quais, o português:
Queridos irmãos
e irmãs, ao recitar o credo, iniciamos com estas palavras: “Creio em Deus Pai todo-poderoso”.
Assim, a primeira definição fundamental da profissão de fé é que Deus é Pai. Neste
sentido, se por um lado é difícil falar hoje de paternidade, devido a tantos fatores
que impedem uma relação construtiva entre pais e filhos, por outro lado, a Revelação
ao falar de Deus, nos ensina o que significa verdadeiramente ser pai. Deus é um Pai
misericordioso, cujo amor é eterno, e que nos perdoa através do sacrifício de seu
Filho, Jesus Cristo, para nos conduzir à alegria plena, que brota de sermos feitos
seus filhos adotivos pela ação do Espírito Santo. Contudo, como afirmar que Deus é
um Pai todo-poderoso quando se experimenta a presença do mal e do sofrimento no mundo?
A onipotência de Deus não é uma força arbitrária, mas sim a força do amor, que em
Jesus Cristo, morto e ressuscitado, vence o ódio, o mal, o pecado e nos abre as portas
da vida eterna. Queridos peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos!
Saúdo de modo particular os brasileiros vindos do Rio de Janeiro e de Brasília. Fortalecidos
com a certeza de que sois filhos de Deus, anunciai Cristo crucificado e ressuscitado
a todas as pessoas com quem tenhais contato, dando testemunho d’Ele através do amor
a Deus e ao próximo. E desça a minha bênção sobre vós, vossas famílias e comunidades.