Rio de Janeiro (RV) - Celebramos neste final de semana a grande solenidade
do nosso glorioso padroeiro, sob a inspiração de quem foi fundada a cidade maravilhosa
de São Sebastião do Rio de Janeiro! Segundo alguns biógrafos, ele nasceu em Narbona,
uma cidade ao Sul da França, no século III.
Era filho de uma família ilustre.
Ficou órfão do pai ainda menino, e então, foi levado para Milão por sua mãe, onde
passou os primeiros anos da infância e juventude.
A mãe educou-o com esmero
e muito zelo. Ele ingressou no exército imperial, e, por sua cultura e grande capacidade
atingiu os mais altos graus da hierarquia militar, chegando a ocupar o posto de Comandante
do Primeiro Tribunal da Guarda Pretoriana durante o reinado de Diocleciano, um dos
mais severos imperadores romanos, perseguidor dos cristãos.
Foi denunciado
ao Imperador como sendo cristão. Mesmo sendo um bom soldado romano, suas atitudes
demonstravam sua fé cristã, e, diante de todos, confessou bravamente sua convicção.
Foi acusado, então, de traição. Na época, o imperador tinha abolido os direitos civis
dos cristãos. Por não aceitar renunciar a Cristo, São Sebastião foi condenado à morte,
sendo amarrado a um tronco de árvore e flechado. Porém, não morreu ali. Foi encontrado
vivo por uma mulher cristã piedosa que tinha vindo buscar o seu corpo. Diante do ocorrido,
recuperada a saúde, apresentou-se diante do Imperador e reafirmou sua convicção cristã.
E nova sentença de morte veio sobre ele: foi condenado ao martírio no Circo. Sebastião
foi executado, então, com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte
e jogado nos esgotos perto do Arco de Constantino. Era 20 de janeiro.
Seu
corpo foi resgatado e levado para as catacumbas romanas com grande honra e piedade.
Sua fama se espalhou rapidamente. Suas relíquias repousam sobre a Basílica de São
Sebastião, na via Apia, em Roma. O Papa Caio escolheu-o como defensor da Igreja e
da fé. Os jovens da Ação Católica o elegeram como modelo de vida cristã.
Nesses
tempos de grande negação da fé e de valores espirituais e religiosos, humanos e sociais,
São Sebastião torna-se um grande modelo de ajuda para nós hoje, principalmente aos
jovens, envoltos em grande confusão moral e espiritual. Ele é um sinal de fidelidade
a Cristo mesmo com as pressões contrárias. Dessa forma, ele continua anunciando Jesus
Cristo, por quem viveu, até os dias de hoje. Ele nos ensina a não desanimarmos com
as flechadas que recebemos e a continuarmos firmes na fé.
São Sebastião foi
escolhido como um dos patronos da Jornada Mundial da Juventude Rio 2013, que acontecerá
no próximo mês de julho, e que já estamos vivendo intensamente.
Um mártir não
deve ser um estranho para nós. Ainda em pleno século XXI encontramos irmãos e irmãs
nossas que são mortos em tantos países, outros têm ainda seus direitos civis cassados
por serem cristãos, outros são condenados à prisão ou à morte por aderirem ao Cristianismo,
e ainda são expulsos de suas cidades e suas igrejas queimadas. Isso não se trata de
um passado longínquo. São fatos atuais, que encontramos em nossos noticiários. Além
disso, muitos são martirizados em sua fama, em sua honra e tantas outras maneiras
modernas de “matar” pessoas por causa da fé ou de suas convicções cristãs. Vemos assim
que o mártir é nosso contemporâneo. Tanto no passado como no presente, a perseguição
sangrenta de cristãos continua a fazer a grande fileira dos mártires.
O martírio
nos chama atenção para a fé, para a doação da vida, para a convicção, para a coerência
entre fé e vida, entre a palavra e o testemunho. Vivenciar à radicalidade aquilo que
se acredita. A fé não é apenas uma profissão verbal de verdades dogmáticas, mas uma
maneira nova de viver, uma ação de amor a cada dia.
Neste Ano da Fé, queremos
resgatar a alegria de crer. Desejamos viver concretamente a Fé através de atitudes
concretas a cada dia e em cada situação humana. Precisamos também aprofundar nossa
fé e conhecer profundamente o que significa crer. Para isso, recomendamos o estudo
do Catecismo da Igreja Católica.
A vida de santidade está muito próxima de
nós. Desde que cheguei à cidade maravilhosa, escutei de muitas pessoas belos testemunhos
que deixam nossa cidade ainda mais bela: muita gente santa e muitos que morreram com
fama de santidade. Depois de um tempo de estudos e discernimento, resolvemos dar respostas
às pessoas que assim nos pediam.
Por isso, neste ano, durante a procissão de
São Sebastião, estamos levando as “relíquias” da serva de Deus, Odete Vidal – a “Odetinha”
–, uma criança carioca falecida em 1939, aqui no Rio de Janeiro, e que a Congregação
para a causa dos Santos autorizou iniciar a pesquisa para estudar sua vida, virtudes
e escritos para uma possível futura beatificação. Os santos estão próximos de nós
e podem até ter vivido ao nosso lado! A primeira carioca a ter a autorização para
essa pesquisa fala ao coração de todos sobre a necessidade de belos e importantes
exemplos para as crianças, jovens e adultos de hoje. E nesse aspecto, temos milhares
de exemplos na história da Igreja, demonstrando que a graça de Deus continua atuando
e agindo ainda hoje.
Uma beatificação não se constrói planejando, e sim aceitando
o clamor do povo que proclama e tem como santa alguém que morreu com essa fama. Cabe
à Igreja a pesquisa sobre a vida e virtudes, assim como, mais tarde, o sinal dos céus,
com a comprovação de um milagre realizado por Deus por intercessão daquela que para
isso foi invocada.
Neste final da trezena de São Sebastião, um momento de grande
missão popular em nossa cidade, nós iniciamos este novo caminho: a pesquisa para uma
possível futura beatificação. Isso dentro do Ano da Fé e a caminho da Jornada Mundial
da Juventude! São muitos sinais e muitos dons que recebemos! Que o Senhor abra os
nossos olhos para tudo percebermos na fé e bendizermos a Deus pelos sinais dos tempos
nesta época dos 50 anos do Concílio Vaticano II e de nova evangelização. Aquilo que
foi decisão do Concílio e os desejos manifestados por ocasião do Sínodo dos Bispos
sobre a Nova Evangelização, o Senhor nos concede concretamente através de tantos sinais.
Somos
todos chamados à santidade! Recordando o nosso padroeiro São Sebastião, vemos que
também hoje novos perseguidores nos assustam e nos perseguem: querem nos fazer crer
que podemos viver separados de Deus. Que podemos ser indiferentes a Ele. O cristão
pode não estar hoje condenado à morte física, mas, muitas vezes, a uma morte espiritual
se se deixar levar por essas tentações.
A coragem estará em acatar em nossas
vidas o apelo de Cristo, que foi vitorioso na vida em seu martírio. Foi por Cristo
que São Sebastião viveu. Foi por Cristo que Odetinha viveu. Todos os santos e santas
nos apontam para o Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador, nosso Redentor. Ao celebrarmos
a festa do nosso glorioso Mártir São Sebastião, esse sinal colocado por Deus desde
o início da fundação desta cidade, que nos chama ao seguimento de Cristo, somos todos
também chamados a uma nova vida no seguimento d’Aquele que o Pai enviou para a nossa
Salvação.
Deus abençoe a todos: nossa cidade, arquidiocese, devotos de São
Sebastião e, especialmente, todos os que nos ajudam e trabalham para que a JMJ Rio
2013 seja uma “primavera do amanhecer” para essa cidade de São Sebastião do Rio de
Janeiro!
† Orani João Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São
Sebastião do Rio de Janeiro, RJ