Bento XVI sobre ecumenismo: juntos somos rosto e força de Cristo
Cidade do Vaticano (RV) - A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos – que
no Brasil se celebra entre Ascensão e Pentecostes – inicia-se nesta sexta-feira no
hemisfério norte. A edição este ano tem como tema "O que o Senhor exige de nós", extraído
do livro do Profeta Miquéias.
Desde o início de seu Pontificado, Bento XVI
colocou o diálogo ecumênico entre as prioridades de seu ministério e em muitas circunstâncias
as suas palavras expressaram com vigor o desejo de que todos os fiéis em Cristo reencontrem
a unidade da primeira hora da Igreja. A esse propósito, aproveitamos a ocasião para
recordar algumas afirmações do Santo Padre.
A unidade da Igreja nasce à distância
de poucas horas de seu fim aparente. Nasce no Cenáculo – naquela esplêndida, intensa
oração de Jesus que confia os Apóstolos ao Pai – e parece destruída pouco depois,
quando o autor da oração pende crucificado no Gólgota.
Entre o Getsêmani e
o Calvário os Apóstolos renegam, fogem, se dão por vencidos. E naquela dispersão parece
espreitar o sinal daquilo que nos séculos vindouros seria da comunidade cristã, criada
no sangue de um Deus morto e ressuscitado, mas incapaz de permanecer unida como o
seu Artífice a havia pensado e abençoada.
Refletindo sobre os primeiros anos
do cristianismo, Bento XVI observou, numa ocasião, a intervenção que São Paulo foi
obrigado a fazer já no tempo dos primeiros fiéis de Corinto:
"De fato, o
Apóstolo soubera que na comunidade cristã de Corinto havia nascido discórdias e divisões.
Por isso, com grande firmeza, acrescenta: 'Cristo estaria dividido?' (1 Cor 1,13).
Desse modo, ele afirmava que toda divisão na Igreja é uma ofensa a Cristo; e, ao mesmo
tempo, que é sempre n'Ele, único Cabeça e Senhor, que podemos reencontrar-nos unidos,
pela força inesgotável de sua graça." (Angelus, 23 de janeiro de 2011)
A
tentação da discórdia é realmente antiga, mesmo entre quem foi criado para ser uma
só coisa. E a conseqüência daquela "ofensa a Cristo" – evidenciou o Papa mais vezes
– é que a divisão entre os cristãos é muitas vezes uma tela escura que não deixa transparecer
plenamente a presença de Deus para o restante da humanidade:
"O mundo sofre
pela ausência de Deus, por causa da inacessibilidade de Deus, deseja conhecer o rosto
de Deus. Mas como os homens de hoje poderiam e podem conhecer esse rosto de Deus no
rosto de Jesus Cristo se nós cristãos somos divididos, se um ensina contra o outro,
se um está contra o outro? Somente na unidade podemos mostrar realmente a este mundo
– que tem necessidade – o rosto de Deus, o rosto de Cristo." (Audiência geral,
23 de janeiro de 2008)
E rezar juntos é o primeiro e mais imediato modo de
testemunhar a unidade entre cristãos divididos:
"Na oração comum as comunidades
cristãs colocam-se juntas diante do Senhor e, tomando consciência das contradições
geradas pela divisão, manifestam a vontade de obedecer à sua vontade recorrendo confiantes
ao seu socorro onipotente. (...) Portanto, a oração comum não é um ato voluntarista
ou puramente sociológico, mas é expressão da fé que une todos os discípulos de Cristo."
(Audiência geral, 23 de janeiro de 2008)
Oração, certamente, mas não só, para
não ser címbalos que tocam. É necessária também a ação, a ação da caridade. E foi
o que o Santo Padre sempre auspiciou do diálogo ecumênico. Colocar ao lado da oração
também gestos concretos de partilhada solidariedade:
"Isso favorece o caminho
da unidade, porque se pode dizer que todo alívio, mesmo pequeno, que os cristãos dão
juntos ao sofrimento do próximo, contribui para tornar mais visível também a sua comunhão
e a sua fidelidade ao mandamento do Senhor." (RL)