Montes Claros (RV) - Muitas vezes se entende justiça no sentido de se dar o
que é devido a cada um. Mas a justiça de Deus é a doação gratuita de seus dons em
base à sua prodigalidade e misericórdia. Nenhum ser humano pode exigir ou merecer
algo divino para si. O que Deus é e faz para nós se dá na sua justiça misericordiosa.
Ele nos favorece porque nos ama. Seu amor se baseia na gratuidade. Por isso, de nossa
parte, a melhor atitude é a de tentarmos corresponder a seu amor. Nem isso conseguimos
suficientemente. Mas Ele supre o que nos falta para essa correspondência.
Basta
que usemos bem suas oportunidades e graças. Elas podem passar por nós e não surtirem
efeito se não nos esforçarmos por utilizá-las adequadamente. A justiça divina dá-nos
seu amor porque Ele nos ama e nos quer ver conquistando a verdadeira felicidade. Ele
é justo porque é a fonte da justiça amorosa.
Isaías lembra a bondade divina
cooperando com o resultado do chamado ao ser humano: “Eu, o Senhor, te chamei para
a justiça e te tomei pela mão” (Isaías, 42, 6). No Filho de Deus se realiza tal chamado.
O próprio Jesus vem implantar nova mentalidade e novo comportamento, que diferenciam
quem o segue e se torna sinal de salvação para a humanidade: “Deus aceita quem o teme
e pratica a justiça” (Atos 10, 35). A justiça de Deus mostra sua bondade e condescendência
para conosco. Quem a pratica faz o bem. Conforta os corações, promove o respeito e
a dignidade de toda pessoa humana. Coopera com a inclusão de cada um na convivência
fraterna e na vida digna. Não se omite em colaborar com causas de superação das discriminações
e de tudo o que diminui a pessoa diante dos outros.
O batismo instituído por
Jesus é a efetivação e oficialização da nova vida da justiça misericordiosa de Deus.
Quem o recebe e assume de modo efetivo, caminha no seguimento dos passos do seu próprio
autor. Não se envergonha de remar contra a correnteza da corrupção, do materialismo,
do capitalismo selvagem, da idolatria do ter, do poder e do prazer. É pessoa de convicção:
sabe discernir o que é do mundo e o que é de Deus. Dá a própria face para mostrar
a verdade, na vida destemida de testemunhar sua opção em trabalhar pela implantação
dos critérios éticos, humanos e verdadeiramente críticos ou de Cristo.
O batismo,
assim assumido, não é apenas um rito religioso. É a mudança fundamental da pessoa,
que se torna um outro Cristo, presente e atuante com os critérios do Evangelho. Assim,
sua presença e ação na família, na Igreja, na política, na cultura, na ciência e em
tudo o mais, são percebidas positivamente, como quem realmente é humano com a divinização
da ação do Espírito Santo: “Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Lucas 3,20). O
batismo marca com o amor divino a pessoa, para ela ser luz e ajudar o semelhante a
encontrar o sentido da vida na direção do Ilimitado. Então, a pessoa se torna verdadeiramente
humana, como o Filho, descido à nossa tenda terrestre, humanizando-nos. Quem é batizado
e vive seu compromisso de fé, torna-se autenticamente humano, com o amor perpassado
por Deus. Pratica a justiça provinda do amor de Deus.
Dom José Alberto Moura Arcebispo
de Montes Claros (MG)