Cardeal Piacenza explica motivações de sua Carta às mães dos sacerdotes e seminaristas
Cidade do Vaticano (RV) - O prefeito da Congregação para o Clero, Cardeal Mauro
Piacenza, dirigiu – por ocasião da Solenidade da Santa Mãe de Deus, Maria, celebrada
em 1º de janeiro –, uma Carta a todas as mães dos sacerdotes e dos seminaristas. Trata-se
de um agradecimento às mulheres que "vivem a maternidade mesmo que somente espiritual"
daqueles que seguem a vocação sacerdotal. A Rádio Vaticano entrevistou o purpurado,
a quem perguntou por qual motivo quis escrever essa Carta. Eis o que disse:
Cardeal
Mauro Piacenza:- "Eu o fiz pelo forte desejo de encorajar e de expressar um particular
agradecimento a todas as mães dos sacerdotes e dos seminaristas e, junto a elas, a
todas as mulheres, leigas e consagradas, que acolheram – inclusive pelo convite a
elas dirigido durante o Ano Sacerdotal – o dom da Maternidade espiritual dos chamados
ao ministério sacerdotal, oferecendo a própria vida, suas orações, sofrimentos e fadigas,
bem como suas alegrias, pela fidelidade e pela santificação dos ministros de Deus,
tornando-se assim partícipes, de modo especial, da maternidade da Santa Igreja, que
tem o seu modelo e o seu cumprimento na divina maternidade de Maria Santíssima."
RV:
O senhor afirma na Carta que a participação que a mãe tem na vida do sacerdote é única
e especial. Por qual motivo é assim tão singular?
Cardeal Mauro Piacenza:-
"Na novidade, que Cristo realiza na vida daqueles que escolheu e chamou, todos os
familiares e todas as pessoas mais próximas são envolvidas, mas certamente a participação
que a mãe do sacerdote tem é única e especial. De fato, são únicas e especiais as
consolações espirituais que derivam do ter carregado no seio materno quem se tornou
ministro de Cristo. Efetivamente, toda mãe não pode deixar de alegrar-se ao ver a
vida do próprio filho não somente realizada, mas investida de uma especialíssima predileção
divina que abraça e transforma para a eternidade."
RV: Em que medida a figura
de Santa Mônica, que rezou incessantemente pela conversão e vocação de seu filho Agostinho,
influenciou na redação desta Carta?
Cardeal Mauro Piacenza:- "Certamente
Santo Agostinho é o gigante do primeiro milênio cristão e o próprio altíssimo Magistério
do Santo Padre Bento XVI ajuda toda a Igreja a apreciar, mais uma vez, a indispensável
contribuição que o Bispo de Hipona deu para o pensamento cristão e, ao mesmo tempo,
para o desenvolvimento da civilização humana. Santa Mônica, sua mãe – cujos restos
mortais repousam na igreja de Santo Agostinho, próximo à Praça Navona, centro de Roma
–, é certamente referência irrenunciável para todas as mães dos sacerdotes porque
é, de certo modo, um ícone. Parece, inclusive, de certo modo, um ícone da Igreja que
reza, que reza pela conversão de seus filhos e que depois admiravelmente se alegra
quando vê que seus filhos se dirigem a Deus. Portanto, Santa Mônica é, com certeza,
referência irrenunciável para todas as mães dos sacerdotes. As orações e as lágrimas
de Santa Mônica, cristã antes do filho, alcançaram do Senhor a graça da conversão
de Agostinho, e a santidade do filho tem suas raízes remotas na santidade da mãe."
RV:
Quanto o papel da família é importante para o crescimento vocacional dos filhos?
Cardeal
Mauro Piacenza:- "Pode acontecer que de uma família totalmente distante da prática
cristã, ou até mesmo de qualquer prática de fé, possa sair um filho ministro de Deus,
um filho santo. Porém, certamente o papel da família é irrenunciável. Isso é um fato,
que Deus possa mesmo das pedras fazer germinar. Portanto, mesmo de uma família distante
da fé, Deus pode muito bem fazer nascer uma vida consagrada maravilhosa. Na normalidade
dos casos o papel da família é absolutamente imprescindível. De modo que a verdadeira
"pastoral vocacional" deveria ser um autêntico cuidado pastoral para com as famílias
cristãs. Sobretudo numa época na qual a educação tornou-se muito mais complexa por
muitos motivos. As famílias, sozinhas, por mais que sejam empenhadas, que tenham boa
vontade, não são capazes de resistir às investidas violentas do relativismo dominante.
A Igreja é sempre aliada das famílias na obra educacional e, nessa aliança, é primeira
colaboradora também para aquela delicadíssima tarefa que é o discernimento vocacional.
A vocação se acolhe na fé, e as famílias são os primeiros lugares de transmissão,
educação e custódia da fé."
RV: O senhor pensa escrever uma Carta também
sobre o papel do pai na vocação de seus filhos?
Cardeal Mauro Piacenza:-
"Não está programado, mas poderei pensar nisso, sobretudo fazendo referência a São
José, que é o pai da Sagrada Família e que é, de certo modo, o custódio da grande
vocação do Redentor. Foi dada precedência às mães, não por subestimar o papel dos
pais, mas por olhar para o papel insubstituível de Maria Santíssima, Mãe de Deus,
na vida de Jesus. Ademais, a paternidade espiritual é algo já amplamente consolidado
em toda vocação. Ao invés, eu sentia a necessidade de ressaltar, mais uma vez, após
o Ano Sacerdotal, a tarefa necessária da maternidade espiritual e de pessoas que compreendam
a preciosidade de se oferecer pela causa da santificação dos sacerdotes. Certamente,
refletir sobre a tarefa educacional dos pais em relação aos filhos na transmissão
da fé, e eventualmente no surgir da vocação, poderá ser útil e não excluo poder me
dedicar a isso. Por último, a propósito dessa pergunta, gostaria de recordar o papel
do pai de João Paulo II. Ele, o Papa, chegou a dizer que o seu "primeiro seminário"
tinha sido, à noite, ver seu pai, com as luzes apagadas, ajoelhado aos pés cama, rezando
o Terço. Portanto, isso nos faz pensar em muitas coisas sobre o papel dos pais!" (RL)