2013-01-07 19:16:12

O contributo da Igreja para a Paz em África


As festas de fim do ano recentemente celebradas foram mais uma ocasião para reflectirmos sobre o mundo em que vivemos. Dois os acontecimentos mais importantes: a Natividade do Senhor Jesus, Príncipe da Paz - que nos dá a oportunidade de recordar o canto dos anjos "Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens que Ele ama ..." - e a festa do Novo Ano, Solenidade de Maria, Mãe de Deus, que coincide com o Dia Mundial da Paz. As duas festas nos convidam a reflectir sobre quanto o mundo precise daquela paz amplamente evocada pelo Papa Bento XVI na sua mensagem: "Bem-aventurados os construtores de paz".

Vividas à luz da fé, estas festas constituem uma ocasião para proclamar o Evangelho da esperança, virtude teologal que fortalece a fé e estimula a prática da caridade. A esperança parece ser quase uma utopia para o continente Africano, bastante afectado pela falta daquela paz verdadeira de que fala o Papa na sua Mensagem para o dia 1 de Janeiro de 2013. Muitos se interrogam se a apelação “Continente da Esperança” dada à África pelo Papa Bento XVI na sua viagem ao Benin não corre o risco de permanecer apenas um desejo.
Na verdade, nos aproximamos do Natal com o medo dos "banhos de sangue", que no passado afectaram numerosas igrejas e outros lugares de culto, e que também neste ano se verificaram em diferentes lugares durante as festas natalícias.

Na sua mensagem Bento XVI indica que os verdadeiros "artífices da paz são aqueles que amam e defendem a vida humana em todas as suas dimensões". Por outras palavras, construtor da paz é aquele que, encontrando-se no meio das contradições sociais, económicas e políticas deste mundo, tem a coragem de agir de acordo com o ideal cristão, ou seja, colocando ao centro de tudo o respeito pela dignidade da pessoa humana em toda a sua integridade. Isto nos leva a supor que a falta de respeito pela dignidade humana é a fonte de todos os conflitos e males que afligem o nosso continente. Queremos recordar as experiências de alguns "artífices da paz", promotores de uma cultura da vida e do amor, não exaustiva, mas que confirmam esta tese.

É o caso de D. Jaime Gonçalves, Arcebispo da Beira, em Moçambique, que levou ao renascimento espiritual e moral os beligerantes do País. Estes, depois de quase duas décadas de guerra civil, renderam-se à evidência: "Nós somos irmãos, membros da grande família Moçambicana". Uma tomada de consciência, esta, acompanhada por um movimento constituído por outros artífices da paz: os membros da Comunidade de Santo Egídio. A experiência de Moçambique mostra além disso, como a reconciliação é uma realidade central no diálogo e na busca da paz.

O Uganda, marcada por violências e injustiças perpetradas pelo "Exército de Resistência do Senhor", viu a iniciativa dos líderes religiosos Acholi na promoção da Paz - " The Acholi Religious Leaders’ Peace Initiative ", presidido até 2010 por D. John Baptist Odama, Arcebispo de Gulu. Graças a esta iniciativa, os líderes religiosos colaboraram para uma causa comum e para sensibilizar a Comunidade internacional sobre os sofrimentos da população no norte do País.

No Congo Brazzaville, para se sair de uma situação de ausência de paz, que teve origem na ideologia marxista-leninista hostil à religião, D. Ernest Kombo, Bispo de Owando, soube mostrar o carácter universal dos valores humanos contidos nos Mandamentos de Deus, como são anunciados na Bíblia.

Na República Democrática do Congo, que se tornou, infelizmente, símbolo de País onde a dignidade da mulher tende a desaparecer, nasceu recentemente um grupo de cristãos de diferentes denominações, que convida as igrejas a dar abrigo às vítimas, culpabilizadas pelas comunidades locais pelas violências sofridas: um testemunho do empenho dos crentes e um sinal de esperança para as mulheres violentadas.

Infelizmente continuam numerosos, em África, os contextos em que não existe uma paz verdadeira: conflitos armados, crise económica, desagregação do núcleo familiar, etc. E os verdadeiros artífices da paz, discípulos de Cristo, são chamados a responder a múltiplos desafios, trabalhando para a promoção das liberdades individuais e colectivas, para o diálogo entre os grupos sociais, para o desenvolvimento integral da pessoa humana, para a justa ordem social e para a defesa do bem comum... Tudo isso deve ser realizado em espírito de colaboração e concertação, tendo como inspiração o ensinamento do próprio Cristo, primeiro e verdadeiro artífice da paz. Por isso o Papa Bento XVI apela à renovação espiritual e moral das pessoas e da sociedade. O encontro com Jesus Cristo forma os artífices da paz, comprometendo-os à comunhão e a superar a injustiça.

Por Marie José Muando Buabualo, do Programa Francês da África da Rádio Vaticano.








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