Timor Leste:concluída a missão militar ONU após 13 anos de presença.
Dia histórico para Timor Leste. Após 13 anos de presença retira-se do País o contingente
da ONU que garantiu uma transição pacífica depois do sangrento conflito que tinha
marcado a conquista da independência, da Indonésia. Mas pode dizer-se realmente concluído
o processo de pacificação? Marco Guerra pediu o parecer de Paolo Affatato, jornalista
da agência Fides, perito da Ásia:
"Se o contingente internacional decidiu
retirar-se é porque foi garantida uma certa estabilidade à pequena república que
– recordamos – é a nação mais jovem da Ásia. Naturalmente ficam um certo reboliço
e uma certa tensão social. Isso representa uma incógnita para o futuro. Em todos estes
anos o processo de construção de uma nova nação teve a ver com toda a vida democrática,
a partir da magistratura, da instrução… todos os sectores da sociedade. Foi um processo
muito lento e difícil, marcado por momentos difíceis, de grandes protestos sociais
e de confrontos entre as diversas facções. Mas, actualmente a situação parece ser
estável olhando também para Timor Leste no contexto da Comunidade internacional e
das relações com a vizinha Indonésia; relações que são muito importantes, uma vez
que Timor Leste nasceu precisamente separando-se do grande arquipélago indonésio."
– Quais os próximos desafios deste pequeno Pais de maioria católica?
"A
coisa mais importante é garantir uma boa governação, que ajude a desenvolver sectores
como a instrução, a segurança alimentar, todas as infra-estruturas… Garantir também
um certo bem-estar aos cidadãos, uma vez que – recordamos – a taxa de pobreza e de
desocupação, em Timor Leste, é, até ao momento, muito alta. Passados dez anos de independência,
ainda cerca de 40 por cento da população vive debaixo do limiar da pobreza. Existe,
portanto, todo um desenvolvimento económico a garantir, e se esse desenvolvimento
não encontrar o apoio das nações do Sudeste asiático, e da Comunidade internacional,
naturalmente tudo torna-se mais difícil e isso poderia ser foco de novas desordens
e de novos fermentos sociais. Desse ponto de vista, é também politicamente muito importante
o parecer favorável da Indonésia sobre a entrada de Timor Leste na SEAN e marca
também um encerramento, relativamente ao passado; um passado que – recordamos –
também foi conflituoso. Precisamente este possível ingresso e esta pertença de Timor
Leste à ASEAN poderia representar, nos próximos anos, em prospectiva, uma alavanca
para o relançamento económico, que é a base para uma pacificação social e uma estabilidade
política."
– A dez anos da guerra para a independência, como são as relações
com a Indonésia e com a minoria que ficou ligada a Jacarta?
"Actualmente reentram
na categoria da boa vizinhança. Mas, nesse processo, fica ainda uma espinha: aquilo
que constitui o percurso da justiça pelos crimes cometidos na fase da luta para a
independência é até agora incompleto A falta de justiça impede uma autêntica reconciliação
e uma verdadeira unidade nacional. Ninguém foi identificado e perseguido por violação
dos direitos humanos. Essa impunidade permanece uma ferida não fechada, diria, mesmo
em relação à Indonésia, que naquela fase foi precisamente parte desse conflito. De
facto, muitos desses crimes parece terem sido cometidos pelos militares indonésios.
Todavia, existe o facto de que agora se olha para o futuro. Houve una reaproximação
política e diria que as perspectivas são positivas."