Os corpos mutilados de 27 crianças marcaram ontem mais um dia de horror na Síria.
Os mortos desde o início da revolta contra o regime de Assad são 45.000, dos quais
31.000 civis. E o espectro das armas químicas parece tomar forma. Para a paz na Síria,
o Papa havia lançado um forte apelo no dia de Natal na sua Mensagem Urbi et Orbi.
Na frente diplomática, após a reunião de há três dias em Damasco com Assad, o enviado
da ONU e da Liga Árabe, Brahimi, é esperado Sábado em Moscovo, enquanto alguns membros
do regime já seguiram para a Rússia. Mas a oposição síria fez saber que não aceitará
a solução proposta por Brahimi, que parece prever um governo de transição com Assad
recuado, mas no cargo até 2014. Um novo massacre de crianças marca o segundo Natal
da guerra civil na Síria. Na verdade, são pelo menos 27 os corpos mutilados das crianças
encontradas depois dos bombardeamentos de ontem, um dia que terminou com um total
de cerca de 120 vítimas. Segunda-feira, o jornal britânico Guardian noticiou
que o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros sírio, Jihad Makdissi, estará
a cooperar com os serviços norte-americanos depois de ter sido ajudado a sair do país.
Segundo o diário, Makdissi, que foi durante meses o rosto do regime para a imprensa
internacional, abandonou o país em Novembro e está já em Washington, onde em troca
de asilo ajuda as secretas americanas a decifrar quem dentro da cúpula do regime sírio
permanece indefectível ao lado de Assad e quem comanda as operações. No entanto, o
Observatório Sírio dos Direitos Humanos disse ter informações de que Makdissi só na
segunda-feira teria partido de Beirute, onde passou vários dias antes de partir para
local desconhecido. Estas deserções são conhecidas na mesma altura em que a oposição
armada anunciou ter tomado Harem, cidade na fronteira com a Turquia, após várias semanas
de combates. A cidade era uma das poucas sob controlo do Exército naquela zona de
fronteira. A conquista é uma das últimas anunciadas pela rebelião desde o início do
mês, mas o regime continua inquebrável, respondendo à perda de terreno com sucessivos
bombardeamentos. A imparável violência materializa-se na frieza dos números. Segundo
um último balanço do Observatório (uma ONG sedeada em Londres que recolhe informações
de activistas no terreno) mais de 45 mil pessoas, das quais mais de 30 mil seriam
civis, morreram desde o início da revolta contra o regime de Assad, em Março de 2011.
A contestação, que começou por protestos pacíficos, deu lugar a uma sangrenta guerra
civil que opõe as forças leais a Assad a uma rebelião composta por desertores e civis
que pegaram em armas.