Em carta, Dom Leonardo explica situação dos Xavante
Brasília (RV) - O Secretário Geral da CNBB enviou, nesta terça-feira, 18 de
dezembro, uma carta aos bispos esclarecendo a situação do Povo Xavante e dando notícias
do bispo emérito de São Felix do Araguaia. “Dom Pedro está sereno e acompanhando todo
o processo de devolução da terra aos índios” - diz Dom Leonardo Steiner.
O
Secretário diz ter recebido mensagens e telefonemas buscando informações sobre os
acontecimentos que obrigaram Dom Pedro a deixar a Prelazia e, por isso, resolveu enviar
informações para ajudar a compreender o que está acontecendo e favorecer também a
união solidária de todos com o Povo Xavante, com as famílias dos pequenos agricultores
e com Dom Pedro Casaldáliga e Dom Adriano Ciocca Vasino, atual bispo de São Felix.
“Dom
Adriano, por telefone, comunicou-me que a Polícia Federal, diante das ameaças de morte,
havia aconselhado Dom Pedro a deixar temporariamente São Félix” - explicou Dom Leonardo.
“Apesar da idade e do estado de saúde, ele viajou no mesmo dia com Pe. Paulo, agostiniano,
que o assiste diariamente, tendo sido fraternalmente acolhido por irmãos nossos em
outra diocese” - completou.
Dom Leonardo esclarece as razões da saída de Dom
Pedro: “a decisão de Dom Pedro de deixar São Félix foi motivada pela reação dos ocupantes
não índios diante decisão judicial de retirar os não índios da terra do Povo Xavante
localizada nos municípios de São Félix e Alto Boa Vista.
Como a Prelazia sempre
defendeu a devolução da terra aos índios, sempre houve uma certa tensão e ameaças.
Com a desintrusão, elas aumentaram. A saída de Dom Pedro mostra mais uma vez que a
violência não vem dos índios, como também não vem dos pequenos agricultores”.
A
situação de conflito da terra Xavante não é de hoje, segundo a exposição do secretário:
“É uma longa história de êxodo e sofrimento de um povo. A terra indígena, após a retirada
forçada dos Xavante nos anos 60, foi sendo dividida em grandes fazendas. Para assegurarem
essas terras invadidas, incentivaram a vinda de famílias que adquiriram lotes na terra
Xavante”, detalha Dom Leonardo. Ele ainda lembra que “após anos de disputa judicial,
houve a determinação da desintrusão da terra indígena. A Prelazia sempre insistiu
com os diversos órgãos do executivo e do judiciário para que houvesse justiça com
o Povo Xavante e com as famílias dos pequenos agricultores”. E informa: “foram envolvidos
cinco ministérios na preparação e execução do plano de retirada dos não índios, para
cumprir o que a justiça havia determinado, seguindo o que reza a Constituição Brasileira.
O plano elaborado pelo Governo atende a insistência da Prelazia”.
O secretário
admite que todos sabiam da tensão e da dor que chegariam, “especialmente às famílias
de pequenos agricultores que venderam a propriedade em outros Estados para adquirir
terra indígena de pessoas que a negociavam ilegalmente”. Na condição de antecessor
de Dom Adriano, o bispo auxiliar de Brasília dá testemunho de que “a Prelazia, na
pessoa de seus Bispos e Agentes de pastoral, acompanhou durante todos esses anos a
luta do Povo Xavante em todos os momentos, bem como das famílias dos pequenos agricultores.
Os Padres salesianos cuidam pastoralmente da aldeia, e a Prelazia está presente com
a Pastoral da Criança e outras iniciativas. Estive muitas vezes entre os Xavante,
como também visitei a comunidade católica na região”.
Dom Leonardo finaliza
a carta aos bispos com um apelo: “acompanhemos com nossas preces e nossa solidariedade
fraterna a Dom Pedro, a Dom Adriano, a toda a Prelazia nesse momento de sofrimento”. (CNBB-CM)