"Ler objectivamente a Mensagem do Papa para a Jornada Mundial da Paz" - Editorial
do Padre F. Lombardi
Também desta vez
aconteceu que um documento importante e muito rico tenha sido apresentado por muitas
vozes e publicações italianas de forma parcial e desfigurada. Aconteceu porque numa
breve passagem regressa sobre a visão do matrimónio entre um homem e uma mulher, como
profundamente diferente de formas radicalmente diferentes de união e afirma que isso
é reconhecível pela razão humana e, juntamente com os outros princípios essenciais
de uma correta visão da pessoa e da sociedade, antes de mais a tutela da vida deve
ser defendida se se quer construir a paz sobre bases sólidas e procurar com previdência
o bem da sociedade humana. Como é evidente, é a visão que a Igreja não se cansa de
repetir num tempo em que este ponto parece continuamente debaixo de fogo em muitos
países. Não temos que nos surpreender. A reação parece portanto descomposta e desproporcionada,
feita de gritos mais do que de raciocínios, como que visando intimidar quem quer manter
livremente tal visão na arena publica. Mas não é apenas isso. A reação vem ofuscar
muitos aspectos da própria Mensagem do Papa de extraordinária actualidade e força,
que, ao contrário, deveriam ser meditados com grande atenção e sobre os quais é justos
chamar a atenção. Em tempos de crescente desemprego, a vigorosa afirmação do Papa
do direito ao trabalho como essencial para a dignidade da pessoa humana soa como um
grito de alarme, que requer uma reflexão muito mais aprofundada e decidida sobre a
transformação dos "modelos de desenvolvimento" que nos conduziram ao ponto em que
nos encontramos e em que assentam aqueles princípios de fraternidade, solidariedade
e gratuidade que devem garantir a dimensão verdadeiramente humana da ordem económica,
social e política. O Papa recorda também com força que o problema da crise alimentar
é ainda mais importante do que o da crise financeira: a fome continua a aumentar no
mundo e disso nos esquecemos facilmente. Há demasiada gente a morrer de fome. A Encíclica
"Caritas in Veritate" de Bento XVI e a famosa "Pacem in Terris" de João XXIII, da
qual ocorre em breve o quinquagésimo aniversário, já nos guiavam a empenharmo-nos
nesta direção. Fundamentalmente, a Mensagem diz coisas urgentes e fundamentais
para a humanidade de hoje que não podem ser esquecidas pelo simples facto de pedir
que se faça oposição a uma "equivalência jurídica" do matrimónio entre um homem e
uma mulher e formas radicalmente diferentes de união. Convidamos todos a uma leitura
completa e objectiva do documento.