Belo Horizonte (RV) - O resultado de apurado exame sobre os últimos 45 anos
mostra que o Brasil deixou de ser um país agrário e atrasado e se tornou uma nação
emergente. Esses avanços situam o Brasil na condição de moderno, ou “quase moderno”.
Obviamente, o resultado deste exame é fruto da consideração prioritária da evolução
da técnica. De fato, quando se trata de avaliar o desenvolvimento, geralmente considera-se
principalmente o progresso tecnológico, reconhecidamente importante. É oportuno recordar
o que diz o Papa Bento XVI sobre a técnica, na sua Carta Encíclica sobre o desenvolvimento
na caridade e na verdade, no capítulo VI. O Papa sublinha que a técnica é um dado
profundamente humano, ligado à autonomia e a liberdade do homem. O Papa se recorda
de um princípio importante, na técnica exprime-se e confirma-se o domínio do espírito
sobre a matéria. A valorização e importância da técnica se situam na compreensão lúcida
do quanto ela é necessária para melhorar as condições de vida, poupar fadigas e reduzir
riscos. O Papa Bento XVI, na Carta Encíclica, lembra que na técnica, considerada como
obra do gênio pessoal, o homem reconhece-se a si mesmo e realiza a própria humanidade.
A
técnica é, portanto, o aspecto objetivo do agir humano, cuja origem e razão de ser
estão no elemento subjetivo, o homem que atua. É manifestação do próprio homem e de
suas aspirações ao desenvolvimento. Aqui se situa um ponto fundamental na consideração
da eficiência e da utilidade a partir dos avanços técnicos na contabilização do desenvolvimento
e do progresso. O que se quer acentuar é a importância fundamental e o lugar imprescindível
de cada pessoa nas engrenagens do desenvolvimento. Por isso, há de ser um desenvolvimento
humano integral. Não basta um progresso técnico em si, para usufruto talvez de alguns.
O avanço tem que ser benéfico para todos.
Observando o progresso tecnológico
no mundo e no Brasil, causa impacto olhar para as últimas duas décadas. Nem é preciso
rever a história dos últimos 45 anos, detalhados em pesquisa que acaba de ser divulgada,
para constatar a intensidade de mudanças, os cenários de possibilidades e os desafios
novos que estão postos. O bem que nasce a partir da técnica certamente porta consigo
a geração de comprometimentos que precisam estar na pauta do dia para que não tornem
perdas os muitos ganhos, com incidências drásticas na qualidade humana e espiritual
da vida.
Ao retomar o exame que traz a auspiciosa notícia de que o Brasil é
moderno, ou “quase moderno”, é preciso fazer presente o entendimento de que é necessário
o desenvolvimento humano integral, com a participação mais ativa de todos, para continuar
essa trajetória rumo ao progresso. O verdadeiro desenvolvimento não consiste simplesmente
no fazer. Se o fosse, nosso horizonte seria meramente tecnocrático. Não conseguiríamos
encontrar sentido e razões para além da materialidade. O Papa Bento XVI, na referida
Carta Encíclica, lembra que o agir será sempre humano, expressão de uma liberdade
responsável. Não se pode prescindir do compromisso moral no uso da técnica. A construção
de um mundo de justiça e paz encontra nas tecnologias uma força facilitadora. Mas
é importante ter sempre a convicção que as pessoas são o agente e o destinatário da
paz e da justiça.
Esta compreensão evita que se despreze, no processo de desenvolvimento,
a ação humana comprometida com o bem comum. É, assim, indispensável a qualificação
de cada um, no campo profissional e ético. Neste sentido, é preciso considerar como
determinante o envolvimento e o engajamento de todos nos processos que permitem uma
nação avançar, sempre. Trata-se de fazer crescer uma consciência sobre a necessária
humanização do trabalho e do gosto em se trabalhar, sem preguiças. Assim é possível
alcançar um desenvolvimento integral sustentável. Humanismo e muito trabalho farão
do Brasil um país moderno.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo metropolitano
de Belo Horizonte