2012-12-08 16:12:47

Paulo VI, um Papa atento ao clamor dos pobres


RealAudioMP3 O Servo de Deus Paulo VI foi o primeiro Papa a visitar os cinco continentes, fazendo-se intérprete do "clamor dos pobres". A sua atenção pelos últimos, que ele chamou "os preferidos do reino de Deus," é expressa em muitos gestos de proximidade. Vamos repercorrer as principais passagens do pontificado do Papa Montini dedicadas à pobreza, como nova contribuição da nossa emissora à iniciativa promovida pela União Europeia de Radiodifusão (UER), intitulada "Why Poverty?” (Porque a pobreza?) e que teve o seu ponto alto no dia 29 de Novembro.

Pobreza, caridade e justiça social. E’ nestas linhas que Paulo VI indica a perspectiva de uma acção forte e eficaz para mudar o destino de um mundo que, nos anos 70, estava abalado por tensões sociais e se abria a ideologias utópicas O 261º Sucessor de Pedro, bresciano de Concesio, convida a dirigir o olhar para Cristo e a encontrar no Evangelho a verdadeira resposta aos problemas da humanidade, o primeiro dos quais a pobreza:

"As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, e sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo, e não há nada verdadeiramente humano que não encontre eco no seu coração "(Gaudium et Spes, 7 de Dezembro de 1965).

Nestas palavras de abertura da Constituição conciliar "Gaudium et Spes" foi indicado o empenho da Igreja e sobretudo do Vigário de Cristo, que praticamente já havia transportado o Concílio Vaticano II para a conclusão. Algum tempo antes, a intervenção do Papa Montini nas Nações Unidas: "diante daquele vasto areópago - escreveu Paulo VI – fizemo-nos advogado dos povos pobres".

“Nous faisons notre aussi la voix des pauvres…
E fazemos Nossa própria a voz dos pobres, dos despojados, dos sofredores, dos que anseiam pela justiça, dignidade de vida, liberdade, prosperidade e progresso. Os povos consideram as Nações Unidas como a salvaguarda da concórdia e da paz; Nós ousamos, juntamente com o Nosso, trazer aqui o seu tributo de honra e esperança. Eis porque este momento é grande também para vós "(Discurso às Nações Unidas, 4 de Outubro de 1965).

Portanto, a Igreja ao lado dos pobres porque neles - recorda o Papa – está Jesus:

“Nos meminemus in vulto …
Nos recordamos como no rosto de cada homem, especialmente quando se faz transparente pelas suas lágrimas e sofrimentos, podemos e devemos ver o rosto de Cristo ... O nosso humanismo torna-se cristianismo e o nosso cristianismo torna-se teocênctrico, de modo que podemos dizer : para conhecer a Deus, temos de conhecer o homem ". (Última sessão pública do Concílio Vaticano II, 7 de Dezembro de 1965).

O Concílio Vaticano II formula abertamente o desejo que fosse criado um organismo capaz de "promover o desenvolvimento das regiões carentes e a justiça social entre as nações". Para responder a esse desejo Paulo VI instituiu, com um Motu Proprio publicado no dia 6 de Janeiro de 1967, a Pontifícia Comissão "Justitia et Pax". Anos antes tinham iniciado as suas viagens apostólicas, foi o primeiro Papa a usar o avião para ir para a Terra Santa, e também na Índia, onde - antes de partir - ofereceu o seu carro à Madre Teresa de Calcutá para ajudá-la nas suas obras de bem em favor dos pobres. Um sinal do seu constante cuidado para os mais necessitados que o tinha levado a renunciar a tiara e oferecê-la, para que com ela se obtivesse um valor que lhes fosse destinado. Em cada viagem sempre quis encontrar os pobres, inesquecível o abraço de Paulo VI aos campesinos colombianos, "neles - disse ao seu regresso – havia o reflexo do amor do Senhor na pobreza":

“Sois – vosotros – un signos, una imagen, un misterio de la presencia …
Vós sois um sinal, uma imagem, um mistério da presença de Cristo ... E toda a tradição da Igreja reconhece nos pobres o sacramento de Cristo, certamente não idêntico à realidade da Eucaristia, mas em perfeita correspondência analógica e mística com ela . Aliás, o próprio Jesus nos disse numa página solene do seu Evangelho, onde ele proclama que cada ser humano que sofre, passa fome, é infermo ou miserável, cada pessoa digna de compaixão e ajuda, é Ele, como se Ele próprio fosse o tal infeliz, segundo a misteriosa e poderiosa sociologia evangélica, segundo o humanismo de Cristo. "(Missa Bogotá, 23 de Agosto de 1968).

O Papa destaca as diferenças dramáticas entre os pobres e os ricos. Muitas passagens da sua encíclica "Populorum Porgressio", publicada em 1967, um ano antes da viagem à América Latina, recordam esta desigualdade. Um texto que é de grande relevância ainda hoje, e que nos lembra que a paz passa pelo desenvolvimento e que a miséria é fonte de instabilidade e violência:

"Enquanto uma oligarquia, goza em certas regiões, de uma civilização refinada, o resto da população, pobre e dispersa, é "privada quase de qualquer possibilidade de iniciativa pessoal e de responsabilidade, e muitas vezes também forçada a condições de vida e de trabalho indignas da pessoa humana" (Populorum Progressio).

Uma denúncia, mas também "uma mensagem para a Igreja e para o mundo em favor da justiça e da paz"

"E quer trazer esperanças boas e legítimas aos povos em desenvolvimento e suscitar naqueles que têm possibilidades de meios culturais e conómicos a generosidade e a solidariedade para com estas populações mais necesitadas" (Regina Coeli, 2 de abril de 1967)

Paulo VI indica, portanto, um problema, mas também a sua solução: ou seja, o desenvolvimento dos povos. Um mundo onde "o pobre Lázaro possa sentar-se no banquete do rico." E’ à Caritas Italiana que ele então recordou a importância do empenho, mas também o "dever dea caridade", "que - diz ele - se for sincera, desce necessariamente a gestos concretos de comunhão com os necessitados".

Durante o seu tempo, Paulo VI, com a clareza do seu pensamento, subtraiu-se de uma tendência daqueles anos: ser a favor da pobreza, ou melhor, dos pobres, dos proletários e dos indigentes, contra os latifundiários, os ricos e os capitalistas. "A pobreza – afirma, dirigindo-se aos franciscanos - é a filosofia do Evangelho: procurai primeiro o Reino de Deus":

"Vós sabeis que a pobreza evangélica significa antes de tudo a localização do próprio pensamento sobre a vida não nesta terra, não nas suas riquezas e seus recursos, nas suas satisfações e prazeres; não naquilo que ela é e que nos apresentar, não no seu reino na terra, mas no "Reino dos Céus" (Discurso aos Franciscanos seculares, 19 de Maio de 1971).

Um longo pontificado de 15 anos, no qual Paulo VI tomou sobre si os sofrimentos do seu tempo, sempre motivado pelo amor para com o ser humano que o fez incansável nas iniciativas para promover a justiça e progresso. "A Igreja - sublinha o Papa - é o aliado por vocação natural da humanidade sofredora e indigente, porque a salvação de todos é a sua missão":
"A Igreja, amando e sofrendo juntamente com os esfomeados de pão e de justiça, encontra em si mesma a prodigiosa força de Jesus, que multiplicou os pães para a multidão e revelou a dignidade de todos os seres vivos por mais pobres e pequenos que fossem. E encontra as palavras graves e por vezes ameaçadoras, se bem que sempre maternas, para os ricos e os poderosos, quando a indiferença, o egoísmo, arrogância, os fazem esquecer a fundamental igualdade e a fraternidade universal dos homens, e lhes permitem confiscar em seu proveito os bens da terra, especialmente se eles são o resultado do suor e sacrifício de outros. "(Homilia 80° aniversário da Rerum Novarum, 16 de Maio de 1971).








All the contents on this site are copyrighted ©.