O Servo de Deus Paulo
VI foi o primeiro Papa a visitar os cinco continentes, fazendo-se intérprete do "clamor
dos pobres". A sua atenção pelos últimos, que ele chamou "os preferidos do reino de
Deus," é expressa em muitos gestos de proximidade. Vamos repercorrer as principais
passagens do pontificado do Papa Montini dedicadas à pobreza, como nova contribuição
da nossa emissora à iniciativa promovida pela União Europeia de Radiodifusão (UER),
intitulada "Why Poverty?” (Porque a pobreza?) e que teve o seu ponto alto no dia 29
de Novembro.
Pobreza, caridade e justiça social. E’ nestas linhas que Paulo
VI indica a perspectiva de uma acção forte e eficaz para mudar o destino de um mundo
que, nos anos 70, estava abalado por tensões sociais e se abria a ideologias utópicas
O 261º Sucessor de Pedro, bresciano de Concesio, convida a dirigir o olhar para Cristo
e a encontrar no Evangelho a verdadeira resposta aos problemas da humanidade, o primeiro
dos quais a pobreza:
"As alegrias e as esperanças,as tristezas e asangústias dos homens dehoje,
e sobretudo dos pobres e de todos os que sofrem,são
também as alegriaseas esperanças, astristezas
e asangústias dos discípulosde Cristo,e
não há nadaverdadeiramente humano que nãoencontre econo seu coração"(GaudiumetSpes,
7 de Dezembro de 1965).
Nestas palavras de abertura da Constituição
conciliar "Gaudium et Spes" foi indicado o empenho da Igreja e sobretudo do Vigário
de Cristo, que praticamente já havia transportado o Concílio Vaticano II para a conclusão.
Algum tempo antes, a intervenção do Papa Montini nas Nações Unidas: "diante daquele
vasto areópago - escreveu Paulo VI – fizemo-nos advogado dos povos pobres".
“Nous
faisons notre aussi la voix des pauvres… E fazemos Nossaprópria
a vozdos pobres, dos despojados, dos sofredores,
dos que anseiam pela justiça, dignidadede vida, liberdade,
prosperidade e progresso. Os povos consideramas
Nações Unidas como a salvaguarda da concórdia e da paz; Nós ousamos,
juntamente com o Nosso, trazer aqui o seu tributo de honra e esperança.Eis porque este momento é grande também para vós "(Discursoàs Nações Unidas, 4 de Outubro de 1965).
Portanto,
a Igreja ao lado dos pobres porque neles - recorda o Papa – está Jesus:
“Nos
meminemus in vulto … Nos recordamos como no rosto de cadahomem,
especialmente quandose faz transparente pelas suaslágrimase sofrimentos,podemos e devemosver o rostode Cristo ...O nossohumanismo torna-se
cristianismo e onosso cristianismotorna-se teocênctrico,
de modo que podemos dizer: para conhecer a Deus, temos
de conhecer o homem ". (Última sessão públicadoConcílio Vaticano II, 7 de Dezembro de 1965).
O
Concílio Vaticano II formula abertamente o desejo que fosse criado um organismo capaz
de "promover o desenvolvimento das regiões carentes e a justiça social entre as nações".
Para responder a esse desejo Paulo VI instituiu, com um Motu Proprio publicado no
dia 6 de Janeiro de 1967, a Pontifícia Comissão "Justitia et Pax". Anos antes tinham
iniciado as suas viagens apostólicas, foi o primeiro Papa a usar o avião para ir para
a Terra Santa, e também na Índia, onde - antes de partir - ofereceu o seu carro à
Madre Teresa de Calcutá para ajudá-la nas suas obras de bem em favor dos pobres. Um
sinal do seu constante cuidado para os mais necessitados que o tinha levado a renunciar
a tiara e oferecê-la, para que com ela se obtivesse um valor que lhes fosse destinado.
Em cada viagem sempre quis encontrar os pobres, inesquecível o abraço de Paulo VI
aos campesinos colombianos, "neles - disse ao seu regresso – havia o reflexo
do amor do Senhor na pobreza":
“Sois – vosotros – un signos, una imagen,
un misterio de la presencia … Vós sois umsinal, umaimagem,um mistérioda presença de Cristo... Etoda a tradiçãoda Igreja reconhece
nos pobres o sacramentode Cristo, certamente não
idênticoà realidadeda Eucaristia, mas em
perfeita correspondênciaanalógica emísticacom
ela.Aliás,o próprio Jesus nos
disse numa páginasolenedo seu Evangelho,
onde ele proclama que cada ser humano que sofre, passa
fome, é infermo ou miserável, cada pessoa digna decompaixão
eajuda, éEle, comose Ele próprio fosse
o tal infeliz, segundo a misteriosa e poderiosa sociologiaevangélica, segundo ohumanismode
Cristo."(MissaBogotá, 23 de Agosto de
1968).
O Papa destaca as diferenças dramáticas entre os pobres e os ricos.
Muitas passagens da sua encíclica "PopulorumPorgressio", publicada
em 1967, um ano antes da viagem à América Latina, recordam esta desigualdade. Um texto
que é de grande relevância ainda hoje, e que nos lembra que a paz passa pelo desenvolvimento
e que a miséria é fonte de instabilidade e violência:
"Enquanto uma
oligarquia, goza em certas regiões, de uma civilização refinada,
oresto da população, pobre e dispersa, é "privadaquase de qualquer possibilidade deiniciativa pessoal
e de responsabilidade, e muitas vezes também forçada acondiçõesde vida e de trabalho indignas da pessoa humana"(Populorum
Progressio).
Uma denúncia, mas também "uma mensagem para
a Igreja e para o mundo em favor da justiça e da paz"
"E quer trazer esperanças
boas e legítimas aos povos em desenvolvimento e suscitar naqueles que têm possibilidades
de meios culturais e conómicos a generosidade e a solidariedade para com estas populações
mais necesitadas" (Regina Coeli, 2 de abril de 1967)
Paulo VI indica, portanto,
um problema, mas também a sua solução: ou seja, o desenvolvimento dos povos. Um mundo
onde "o pobre Lázaro possa sentar-se no banquete do rico." E’ à Caritas Italiana que
ele então recordou a importância do empenho, mas também o "dever dea caridade", "que
- diz ele - se for sincera, desce necessariamente a gestos concretos de comunhão com
os necessitados".
Durante o seu tempo, Paulo VI, com a clareza do seu pensamento,
subtraiu-se de uma tendência daqueles anos: ser a favor da pobreza, ou melhor, dos
pobres, dos proletários e dos indigentes, contra os latifundiários, os ricos e os
capitalistas. "A pobreza – afirma, dirigindo-se aos franciscanos - é a filosofia do
Evangelho: procurai primeiro oReino de Deus":
"Vós
sabeisque a pobrezaevangélicasignifica
antes de tudoa localização do próprio pensamento sobrea
vida não nesta terra, não nas suas riquezase seus recursos,
nas suas satisfações e prazeres; não naquilo que ela é e que
nos apresentar, não no seu reino naterra, masno "Reinodos Céus"(Discurso aosFranciscanos
seculares, 19 de Maio de 1971).
Um longo pontificado de 15
anos, no qual Paulo VI tomou sobre si os sofrimentos do seu tempo, sempre motivado
pelo amor para com o ser humano que o fez incansável nas iniciativas para promover
a justiça e progresso. "A Igreja - sublinha o Papa - é o aliado por vocação natural
da humanidade sofredora e indigente, porque a salvação de todos é a sua missão": "A
Igreja, amando e sofrendo juntamente comos esfomeados
de pãoe de justiça, encontra em si mesma a prodigiosa força
de Jesus, que multiplicou os pãespara a multidãoe
revelou adignidade detodos os seres vivospor
mais pobres e pequenos que fossem. E encontra as palavrasgravese por vezesameaçadoras, se bem que sempre maternas,
para os ricos e os poderosos, quandoa indiferença, o
egoísmo, arrogância, os fazem esquecer a fundamental igualdadee a fraternidadeuniversal dos homens,e lhes permitemconfiscarem seuproveito osbens
da terra, especialmente se eles são o resultadodo suor
e sacrifício de outros. "(Homilia 80°aniversárioda Rerum Novarum, 16 de Maio de 1971).